MADRINHA GALANTE
Era com admiração que Maria
olhava para as figuras respeitáveis da suas professoras, entre
elas sua madrinha de batismo, Galante, como o tio chamava a prima Eglantine. Professora e anjo da
guarda de Maria nos seus primeiros anos de estudo, aconselhou a comadre Diva a colocar sua afilhada no conceituado colégio Santa
Teresa, com excelente nível educacional. Ainda com vantagem financeira de Maria aproveitar
os livros da prima um ano à sua frente nos estudos, costume na época.
Em
determinados momentos o que mais importa é fazer a coisa certa. Tem pessoas com
o dom de saber o que deliberar, o conselho a dar, quando sua interferência se
faz necessária. Tempos atrás era normal que assim ocorresse, as pessoas com as
“antenas” ligadas para detectar quando agir em benefício do próximo. Dom que se
perdeu ao longo do tempo, o que parece. As pessoas hoje ligadas em outras
ondas, tão mais contundentes quanto inúteis, servem simplesmente para distrair,
quando não afastam as pessoas do bom caminho, o caso da TV.
A família tomava café quando a madrinha Galante chegou com as papeis para a matrícula de Maria, que a partir dai ia ser aluna das freiras, receber o melhor ensino escolar, até mesmo educação para a vida toda. Falou a madrinha Galante para Maria: “Uma grande oportunidade em tua vida, faças tudo por merecê-la.” E diante da perplexidade de Maria, acrescentou com autoridade: “Mais emoção, menina!”
Maria
baixou a cabeça, sem tempo de sentir algo que
não fosse expectativa, medo. Afinal nessa idade, qualquer gesto de rejeição, e pronto, os
olhos enchiam-se de lágrimas, no caso, deviam ser lágrimas de felicidade, ter uma
madrinha tão boa que se preocupava com ela. A educação que era levada a sério, as pessoas não fugiam das suas responsabilidades. Imagina um ministro da Educação fugir para Miami! Fazer igual ao oponente, aquele político de esquerda. A educação numa fase ruim, como se vê na atualidade brasileira. Quando é do conhecimento de todos que só um povo educado, gente honesta e verdadeira
pode fazer o país avançar.
Maria lembra quando mais tarde a madrinha Galante veio à sua
casa naquela tarde, o olhar sempre o mesmo, de carinho e
atenção às pessoas. Acomodou-se na "cadeira de avião", que fazia par com a outra a seu lado, onde a afilhada estava sentada. Pelo rádio sabia-se do fim da Segunda Guerra, e o irmão de Maria falou sobre o ditador morto: “Aquele lá era uma besta quadrada”. Cheio de esperança, o garoto não podia então
imaginar que mundo continuaria o mesmo, com ditaduras e mais ditaduras
sanguinárias. O mundo se libertara de um poder maligno, festejava Galante com os parentes.
Passam
os anos, Maria via pouco sua madrinha, e sentia por nunca lhe ter dito
da sua gratidão, nem haver presenteado essa pessoa tão especial, o que não pode mais fazer. Certo que o melhor presente de uma afilhada para sua madrinha, ou de um aluno a sua professora, é que seja um pessoa humana verdadeira.
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