PESQUISA DA QUARENTENA
QUATRO PAPAS DOS NOVO TEMPOS -1
Desde
1848, a revolução social misturava-se com a revolução política. ”O mundo vai
mudar de bases” escrevia em 1871, Eugène Portier, no poema que ia fornecer as
palavras do hino A Internacional. Em
1872 Michelet escreve no prefácio à
História du XIXème. siécle: “De modo estranho, o andamento do tempo dobrou
o passo.” Mudanças ocorriam de toda ordem. A guerra de 1914-18 provoca a mais
espetacular transformação, faz balançar a velha Europa. “Declínio do Ocidente”,
profetiza Oswald Spengler. A civilização que há mais de um milênio regia o continente europeu seria uma dessas
“civilizações mortas” de que fala Paul Valéry?
Após
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) acontece a prodigiosa ascensão dos Estados
Unidos das América, ao assumir a liderança do mundo. Ao mesmo tempo, no Oriente,
o Japão entrada em cena, após vencer a Rússia czarista em 1905. Os japoneses seriam
derrotados pelos americanos, logo após a
vitória dos aliados na Segunda Guerra. Os extraordinários inventos dos dois
primeiros terços do século XIX, por maiores que tenham sido, não se comparam com
o que viria a seguir, especialmente no último terço do século XX. Inimagináveis
as modificações, que se traduzem, concretamente, em transformações na vida dos homens. A ciência aplicada à
técnica — esses os agentes soberanos das transformações para os novos tempos.
O aparecimento
das máquinas, cada vez mais numerosas e de perfeição crescente, resultam em
transformações na estrutura da sociedade e no cotidiano das pessoas. A
civilização das massas quer tomar o lugar do individualismo, dito burguês. Na
velha sociedade ocidental observa-se com apreensão “ascensão vertical dos
bárbaros”, segundo diagnóstico de Ortega y Gasset. “Homo homini deus”, fórmula de Feuerbach para o humanismo ateu que não é outra coisa senão irreligião, guerra conta
a fé cristã. A Igreja reage, cedendo ao espírito laico, que entra em cena, dando
voz aos leigos, do quem doravante vão se empenhar os papas. Desde meados do
século XIX, muito claramente, a ação dos papas fazem valer sua autoridade na
Igreja, encerrando os tempos em que alguns homens, algumas nações faziam de
Roma o que queriam.
O dogma da Infalibilidade Pontifícia foi proclamado por PIo IX, para revestir o sucessor de
Pedro de um poder espiritual inconteste. Claríssimo que os papas não se
assemelham entre si, e observa-se uma dialética em que a um pontificado “de abertura”
siga outro “de concentração”. Dessa
forma aconteceu com quatro papas, a partir do “liberal” Leão XIII. Seu sucessor,
o papa Pio X, alguns o apresentam como coveiro da obra leonina. O vigoroso Pio
XI será em larga medida o melhor substituto para Bento XV, que muitas vezes foi
tido como “apagado”. Os conflitos se agravam no mundo, e os papas se destacam por sua efetiva atuação
nesse cenário desfavorável à fé cristã. “Crer ou não crer” torna-se crucial
questão. O mito do progresso promete dar um fim à religião que durante milênios
orientou as pessoas para uma efetiva vida espiritual ao lado da temporal. As
novas doutrinas científicas não se afinam com os abstratos limites do
pensamento religioso. A inteligência tem
orgulho de si própria, do seu pensar sobre a matéria, a ser manipulada ao bel
prazer.
Gioachino
Pecci já não era jovem, ia fazer sessenta e oito anos, quando assumiu seu
pontificado como Leão XIII, o qual duraria até seus noventa e um anos de idade.
A saúde delicada, mas o vigor da inteligência
e do caráter mantinha-se intacta para a missão difícil, quando o destino
da Igreja parecia estar em jogo. Nascido
de uma família numerosa da pequena nobreza, recebera a influência de sua
piedosa mãe e as lições de seus mestres jesuítas. Sucedeu Pio IX que tinha sido
um grande papa, o primeiro a empenhar-se contra as heresias modernas, mas com
pouco resultados no plano temporal. A Igreja havia sofrido consideráveis perdas
territoriais, o papa um quase “prisioneiro do Vaticano”. Leão XIII considerado
pelo antecessor deveras audacioso no seu modo de pensar e o mantinha distante
de Roma, consolado com sua púrpura cardinalícia.
O cardeal Gioachino
Pecci, antes de tornar-se Leão XIII, havia enfrentado Garibaldi, e dera a sua diocese
um impulso intelectual, pouco habitual na Roma pontifícia. Diplomata e político de grande qualidade, era principalmente uma alma profundamente religiosa,
indispensável para uma mudança na Igreja, e foi justamente sobre essas mudanças que o futuro Leão XIII meditara durante os
trinta anos que passou em Perúgia,
mantendo-se à escuta de seu tempo, perfeitamente a par das correntes de
pensamento e todos os problemas sociais que angustiavam fé católica. Teve sorte
de dispor de 25 anos para pôr em prática seu programa de vistas largas,
estabelecendo contato com os Estados e também com as novas classes sociais, que
a evolução do mundo exigia. Na sua encíclica Rerum Novarum, de 1891, ordenou os principais temas dos “católicos
sociais” , situando a Igreja no âmago da questão.
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