O HOMEM QUE CONTEMPLA
Fernando Pessoa
Vejo que as tempestades vêm
aí
pelas árvores que, à medida
que os dias se tornam mornos,
batem na minhas janelas
assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um
amigo,
que não sei amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e
transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso
de saltério,
e pujança, ardor,
eternidade.
Que pequeno é aquilo contra
a qual lutamos,
como é imenso o que contra
nós luta;
se nos deixássemos, como
fazem as coisas,
assaltar assim pela grande
tempestade —
chegaríamos longe e seríamos
anônimos.
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