O TREM E ALGO DA HISTÓRIA
Trem antigo de 130 anos |
A
primeira viagem de trem ninguém esquece, Maria lembra quando aos cinco anos viajou
numa daquelas antigas locomotivas movidas a vapor (queima do carvão), as fagulhas da brasa entrando
pelas janelas, o que assustavam as crianças. Susto maior foi escutar o apito da
partida do trem na estação de Caxias, e ver a madrinha ao longe, pensar que ela
não ia chegar a tempo de seguir viagem com a família de mudança para S. Luís. O
trem era o meio de transporte na época, hoje só resta aos brasileiros lastimar
a ausência dos trilhos cortando o país, como acontecia no passado. Mesmo desconfortáveis
e deficitários os trens de passageiro no Brasil daquela época davam conta do
recado.
Como
todo o mundo o governo brasileiro providenciou sua expansão ferroviária visando
à integração do território nacional através desse meio de transporte. Desde
1870 que as ferrovias tornaram-se responsáveis pelo escoamento da produção
agrícola do interior, o café produzido em grande escala indo em direção aos
portos. Em 1957 foi criada a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) que durante o
regime militar sofreu grande abalo orçamentário. O modal rodoviário
mostrou-se mais eficiente à época. Com o
crescimento econômico a inserção do Brasil no mercado internacional, a alternativa mais racional era o transporte
rodoviário de enorme potencialidade. 50 anos depois de sua criação foi extinta
a RFFSA e todas as linhas de passageiros. Em 1997 o Governo Federal outorgou à
Companhia Vale do Rio Doce a concessão da Estrada de Ferro Vitória à Minas Gerais e a Estrada de Ferro
Carajás, que permanece até hoje em suas mãos. Hoje existe um sistema de trilhos
em menos da metade das unidades federativas do Brasil. Ínfimo o sistema brasileiro
de trens e metrôs urbanos.
Ah,
os trens de antanho! Maria também não esquece quando aos dezessete anos fez uma
viagem de trem, coisa do destino. Era hóspede de uma família de três, e houve
aquele passeio ao interior, mãe e filha morando na capital, mas passavam os
fins de semana no interior onde o pai tinha um comércio. Desde 1922 a “atração
elétrica” havia sido substituída pela “atração a vapor” e na estação, quando chega
a hora de comprar as passagens Maria apressa-se em pegar o dinheiro, abre sua elegante
bolsa de palhinha, última moda, presente da tia que gostava de dizer que era
uma pobre “besta”. E cadê a carteira de lesar que a prima fez questão de lhe
emprestar, onde a avó havia colocado parte dos seus ganhos como doceira, para a
neta não parecer uma pobre desvalida? Olha para a moça ao lado e a mãe dela, que
não lhe dão oportunidade de falar nada, apenas viraram a cara para o outro
lado. Será que pensaram que ela estava mentindo sobre o dinheiro? Ou que ela
seria uma pobre coitada se passando por rica, e o dinheiro talvez fosse do
irmão que acaba de entrar para o BB, e não teria nenhum direito sobre ele,
devia aprender isso. Maria ficou assustada com o fato, e ainda ter passar aqueles
dia na dependência financeira daquelas pessoas que mal conhecia, até para comprar
um picolé Kibom. No outro dia o pai da noiva colocou um maço de cédulas velhas sobre o
móvel da sala, bem à vista. Até hoje Maria indaga a si mesma se aquele dinheiro
foi colocado ali para ela tirar o respectivo valor e se pagar. Conclui então
que teria sido roubada maldosamente por uma daquelas duas, ou por ambas, em
conluio, pois a bolsa estava fechada, quando na estação abriu para pegar o
dinheiro da passagem, e não havia ainda os batedores de carteira de hoje. Viagem
complicada!
Há
décadas que os trens de passageiros deixaram de circular pelo território nacional,
uma pena. Na Europa maravilhosos trens fazem parte do cotidiano das pessoas,
que viajam confortavelmente pelo continente. E que maravilha viajar em um
desses modernos comboios, como são chamados os trens de Portugal. Pessoas, como
Maria, que aos setenta e mais anos faz suas viagens de turismo, e acha que o transporte
nos trens europeus é o melhor dos passeios.
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