FICÇÃO
DEZEMBRO
Elas
estão reunidas para a especial confraternização de Natal. Já foram atendidas no Café Coado, com a
cordialidade de sempre. Além do prazer de degustarem um dos melhores cafés da
cidade, é uma oportunidade de trocarem ideias. Maria dá inicio à conversa:
— O ano 2000 estava tão distante de
nós, nascidas no século XX. Jovens na década de 50. E saber hoje que já chegamos
quase a meado do século XXI.
Aline toma a palavra:
— De repente o tempo de antes ficou
longe, e não resta dúvida que o nosso tempo de vida está sendo longo. E lá se vai
o ano de 2023, com suas alegrias, sonhos, preocupações. Nos próximos doze meses
vamos viver outros episódios de nossas
vidas. E do que passou só resta o pouco
que fica computado na memória. Além do corpo e da mente, temos uma alma, criada
à imagem e semelhança de Deus, pura Luz. A ciência sem ter condição de explicar
o inexplicável, e penso na ignorância crassa dos que querem torná-la dona da
verdade, e negar que haja algo mais além da matéria.
Dalva continua a conversa:
— Sinto que sou mais feliz hoje. Neste ano de 2023, que chega ao fim, recordo também
a minha juventude que parecia não ter fim, a gente vivendo o presente, ciente
que “o futuro a Deus pertence”. Havia algumas
preocupações por ser mulher, por exemplo, fato definitivo, e esperar por um marido, bom ou ruim, uma vez
que estava a cargo da mulher concertar os homens dos seus defeitos. Mas já
havia sinais para fugir dessa roubada, estudar para ter um bem emprego, e ser
independente. E ninguém se sentia fora do padrão por ser gorda ou magra, ter a cor
da pele diferente da branca, e por aí vai.
Maria se manifesta:
— Com o olhar de agora distingo algumas coisas melhor que antes, e me questiono como a gente vivia tão confiante em um mundo por demais conflituoso, haja vista as guerras. A ficção a embalar os meus sonhos, enquanto lia Luiza May Allcott, e tinha uma fé que regalava meu coração de jovem esperançosa. Nem dávamos conta da letargia em que se vivia. Os jovens acompanhando tudo de longe, a política pouco nos seduzia. Paulo Ramos, que havia comandado o estado anteriormente, era tratado com escárnio pelos mais velhos. A tranquilidade abalada por essa ou aquela confusão política, e teve a visita de Ademar de Barros à capital maranhense, quando então a ilha se rebelou contra a posse do vice, após a morte do governador eleito pelo voto, as urnas pouco confiáveis à época.
Com efusivos votos de Boas Festas as amigas se despedem.
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