MODIFICADO
AINDA HÁ ESPERANÇA
A
família não era rica financeiramente, mas promovia uma vida enriquecedora para
os filhos e demais pessoas do seu convívio. Não faltavam acontecimentos significativos, informações necessárias,
e o que havia de melhor eram seres
humano. Notável a humildade na riqueza e dignidade na pobreza. Tempo da guerra e se ouvia o rádio com as
notícias do front até que se findasse
a contenda, com a vitória dos aliados. Aos domingos iam todos à missa
obrigatória, onde o sermão do padre alertava para os males existentes no mundo e em cada um. Além das
palestras do bispo Dom José Delgado durante o retiro espiritual das alunas das
freiras do Santa Teresa. As crianças acreditavam em Papai Noel e que os bebês eram
trazidos pela cegonha, o que alimentava a inocência infantil, até que tivessem
maturidade para entender melhor o que acontece
Havia instruções para a pessoa fazer a coisa certa, além do medo, que bloqueava o sentimento encorajador das transgressões. Era um tempo em que as coisas ainda não sugavam as pessoas, o caso do telefone celular que hoje parece fazer parte do próprio ser, ou não ser, eis a questão. Vivia-se o pós-guerra não muito difícil no Brasil, enquanto na França, a vida transcorria na penúria, o que narra Anne Ernaux, Nobel de Literatura de 2022, no seu livro “Os Anos”. Em plena Paris, e os restos dos penicos da noite serviam para adubar o jardim, e mais, que o jornal depois de lido, era usado para embrulhar os legumes e também para a pessoa se limpar no banheiro, nada era para jogar fora. Penúria ou falta de higiene, o que a avó de Maria, filha de português diria não ser só por conta da guerra, mas ignorância. Assunto escabroso, e tantos outros de igual teor abordado pela laureada em seus escritos. A propósito, Clarice Lispector bem que podria ter recebido o importante prêmio. Também Lygia Fagundes Telles merecia o Nobel de Literatura.
Não havia essa penúria no nosso país, não havia fome, quando a maior parte da população vivia no interior, plantando e colhendo. E nas capitais ninguém na época se arvorasse a querer a mais da conta. Hoje tem os que se acham com direito a tudo, pensam em adquirir o que surge no mercado. Querem possuir o que vêm nas vitrines dos shoppings, quando devem simplesmente usufruir aqueles espaços de convívio, onde se educa o gosto, ou, em certos casos, se deseduca. Impossível acompanhar a tendência da moda, coisa mais louca, se a pessoa não tem dinheiro para esbanjar. A internet, antes tida como maléfica, por onde se difunde toda sorte de coisa, torna-se útil, no cômputo geral, trouxe benefícios aos usuários. Nem tudo é ruim na modernidade, pensa Maria, e temos muita coisa para agradecer aos novos tempos.
Enquanto tínhamos esperança, e não
se perdeu a fé em Deus, ninguém pensou em libertar corpo e alma para o prazer
desmedido, sem o menor sentido. Nem se engajar em qualquer movimento, seja de
esquerda ou de direita. E apareceu a extrema direita para combater os
extremistas da esquerda. Os jovens de
antes tinham mais senso da realidade, não eram ativistas, muito menos
terroristas. Viviam suas vidas sem deslumbramentos, mas alumbrados pela
esperança que tinham na vida. Hoje os jovens se deslumbram na Disneylândia,
acreditando com os pais que uma visita a Minnie pode resolver qualquer
problemas. Ou então ser feliz por poder ir a Las Vegas, o que muita gente não
pode. O que constitui a sensibilidade de uma geração, que vive preocupada com a
violência que possa sofrer.
Fim de ano, tempo de assistir o
filme A Felicidade Não Se Compra da
década de 50. O belo enredo trata de um
pai que fugiu de casa em desespero diante da falência do Banco, passa por
situações difíceis, até que recebe ajuda do seu Anjo da Guarda. Ao final, o dinheiro
chega a rodo como doação àquele pai, antes desesperançado, que vai poder equilibrar-se
financeiramente, e viver feliz para sempre com a mulher mais linda e dedicada
do mundo e seus encantadores filhos, uma família americana, lógico. Digam o que quiserem, mas é para isso que os
americanos vencem tudo, inclusive guerras.
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