quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

 



                         NAQUELE DOMINGO


S. LUÍS - MA

 







                 Boa a situação do casal às vésperas do terceiro filho, moradores de uma casa recém-construída, que desejavam ampliar. Início de noite, a mesa já vazia após o jantar, os dois estavam com a atenção voltada para a TV à espera do programa semanal de variedades que ninguém é de ferro, basta de notícias ruins. Maria estava preocupada com a revolução militar que o dia todo o rádio não parava de noticiar. Os acontecimentos políticos simples detalhe na vida das pessoas, mas com sérias consequências. As crianças no quarto dormiam o sono abençoado dos inocentes. Ela pensou no molho do macarrão que dera trabalho, mas não saíra como ela queria. De repente fica assustada de estar ali naquele lugar provisório, e fala ao marido na possibilidade de voltarem para a cidade natal. Naquele domingo, dia da cervejinha, que ele acabara de tomar, concordou com a mulher, sem imaginar o que viria pela frente. Quantas mudanças iam ocorrer  em suas vidas!
                
               O medo do comunismo tinha levado o Exercito a tomar o poder de Jango Gullar e fechado o Congresso, após uma multidão ter ido às ruas de mãos dadas em protesto contra a posse do presidente que ia substituir Jânio Quadros. Ficou claro que a coisa não era brincadeira de um louco, como parecia. Não dava para ignorar os dois mundos com que os brasileiros iam conviver dali para frente: o dos fardados e dos paisanos. Os militares até então merecedores da admiração de todos, passaram a intimidar, até mesmo apavorar. Mesmo que houvesse os revolucionários radicais, os “comunistas” em sua maioria eram jovens, em especial, os que faziam parte dos movimentos sociais da igreja católica. Alguns estavam presos, outros haviam fugido do país. Havia tortura e até morte, o que iam saber mais tarde.
               
               Mas a mensagem revolucionária da direita é que as pessoas iam deixar de pensar de forma ingênua sobre o comunismo, que fechava as igrejas, tirava o direito à propriedade e à liberdade. E se devia pensar em ser coletivos. A vitória do comunismo na Rússia acontecia justo quando a liberdade era o que mais se buscava no Ocidente, isto é, que homens as mulheres gozassem da liberdade de ser o que quisessem, rapazes e moças estudassem juntos, confraternizando-se em todos os lugares. Todos com o direito de falar e ser escutado, quer fosse intelectual, funcionário público, ou um simples trabalhador. Mas o mundo acabara de ser dividido, de um lado o promotor da liberdade total e o do outra repressão idem, ambos a se armarem até os dentes para derrubar o outro. Qual iria sobreviver? Décadas depois, sem derramamento de sangue caiu o muro de Berlim. Findou-se o regime comunista soviético, sem choro nem vela.
               
                E chega o ano 2000, já com duas décadas vencidas, mas com a sensação de ter ficado para trás aquela sensação de segurança em áreas fundamentais, para a paz e prosperidade, acrescida da segurança climática. Para o antigo casal as coisas parecem fora dos eixos, desde quando a realidade da família, da religiosidade, da educação e tudo o mais foi posta à prova. E para onde caminha a humanidade a essa altura da vida sobre a face da terra? A desumanidade das guerras a grassar no mundo todo. Liberdade para que, afinal? Necessário metas sábias a cumprir, para que se possa livremente seguir uma política séria, com objetivos claros e democráticos visando a dignidade da vida humana. E seja a terra um lugar definitivo de paz e prosperidade.














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