ONTEM E HOJE
LENÇÓIS MARANHENSES |
Como vivem
hoje as mulheres? Pergunta que Maria fez para si mesma depois que uma jovem demostrou
curiosidade sobre a vida das idosas, quando eram elas também jovens. A filha de
Dedê Dias pensa sobre a situação atual das mulheres, que trabalham para se
manter, e não mais tuteladas pelos pais, ou parentes, cargo transferido aos maridos ao se casavam. Casar e procriar na década de 50 fazia sentido
para as mulheres. As moças sendo educadas para o casamento e a maternidade,
vocação que algumas tinham, casando e engravidando com gosto. Outras a
contragosto viam-se na condição de mamães, sem os contraceptivos, os partos
acontecendo um após o outro, e em alguns casos estupradas pelo parceiro. Era da maior importância que elas conquistassem
a independência, e pudessem fazer suas escolhas, inclusive sobre os filhos, se
os queria ter ou não, lógico que em concordância com o parceiro. E sem um
homem, mesmo assim, ter filhos solos. Foi o que as mulheres conquistaram a
duras penas.
O instinto
sexual tão forte na juventude, quando então se dá o encontro do espermatozoide
com o óvulo, o que acaba por acelerar a saga dos indivíduos, e fazer o mundo avançar.
Dar credibilidade a união matrimonial do jovem casal, que não questionava se queria ter filhos, ou não, por esse ou aquele motivo. Da noite para o dia
ele tinha virado adulto, com um emprego regular, que era motivo de
orgulho, e o fez querer avançar no
tempo, ter a própria família. Apaixonar-se com visível determinação era
característica da época, e com espantosa rapidez ele resolveu casar e com a eleita
formar seu hermético círculo familiar. Logo com ela, que não tinha como meta
casar e procriar, seus planos eram outros, inclusive, nas artes cênicas. Mas se
dispôs a aceitar o desafio, afinal ele era o cara, que a escolhera entre tantas
outras. Deixou para trás seu projeto de vida para cumprir o romântico preceito
de “padecer no paraíso” pela vida afora. E assim aconteceu, o que levou aquela
mãe a olhar com certo desencanto para a filha recém-nascida em seus braços, a
primogênita. Sente pena, não só do serzinho que acabara dar a luz, também de si própria, como mãe. A paternidade fazendo sentido para aquele romântico
rapaz. Época do baby boom e do espantoso crescimento populacional.
Experimentar o
trabalho solitário de cuidar dos filhos pequenos, que logo entrariam para a
escola, em vez da outra solidão que ela tanto amava e a vida de casada acabou
por eclipsar. Em determinada hora do dia, a jovem mulher senta-se no banco
da praça, vigiando as crianças no
parquinho da igreja perto de casa. Parecia tão distante do mundo adulto, já
frequentado por algumas outras mulheres avançadas no tempo. Ela conformada da
situação, em vez de aborrecida, mas que se via “embrutecida”. Livrar-se daquele
estado só iria acontecer anos depois, as voltas que a vida dá, e há tempo para
tudo, inclusive conviver mais com os
filhos pequenos. E o maior prazer de receber os pais em casa e mostrar que
estava bem instalada, que tinham vida melhor que outros casais.
Pairava ainda
a discussão se a mulher devia trabalhar fora ou ficar em casa, o que seria mais rentável para a família. A inteligência e integridade da mulher não
estavam em pauta. Parecia um desvairo feminino sair daquela situação cômoda
para enfrentar um mundo masculino dos escritórios e repartições públicas. A
ladainha dos mais velhos era que as mulheres se realizassem no trabalho feito em
casa, que lhes proporcionava bom ganho financeiro. Lógico que era válido esse
trabalho, como também o trabalho fora de casa, e a mulher pudesse realizar sua
vocação, dar vazão à competência intelectual que possuía. Maria não se furtou a
cumprir esse destino, como o anterior.
Como em
qualquer parte do mundo globalizado, hoje no Brasil quase não se vê mulheres cuidando
exclusivamente da casa, pois elas entraram para valer na competição por um
trabalho que lhe dê retorno financeiro, o que mais pesa na escolha. E estudam
sem parar para melhorar sua posição. Mesmo que ainda possa haver dúvida se é o
melhor para a família, se os filhos são deixados a cargo das trabalhadoras
domésticas, com pouca instrução, mas que devem estar munidas do essencial, que
é a responsabilidade pelo ofício de cuidar das crianças, como babás, também cuidadoras
de idosos. A ascensão social que acontece pelo estudo e trabalho, não tem como
ser diferente no nosso país, como em qualquer outro lugar do mundo.
Ser esposa e
mãe não deixa de ser um ofício, e o mais importante de todos os ofícios. Numa
oficina há que seguir as instruções, que se aprende e ensina, e não acontece
por osmose. Ter em mãos as ferramentas adequadas, o que para a mulher no ofício
de mãe é o coração para amar e a vocação para educar. Há segredo no ofício
de escritor, por exemplo, também na fabricação de um objeto raro. Descobrir o
segredo da formação de um lar abençoado. As questões do ofício tratadas por quem
tem convicção. Acreditar nas verdades religiosas, e nas lições que a vida dá, e
não seguir regras provisórias e instáveis. Saber dos limites humanos. Estar o marido
e a mulher na casa, no lar, que é o lugar adequado para encontrar-se com a
família, e não longe, nos bares da vida. Sem querer tomar os ofícios como um
fim em si mesmo, quando nada mais importa. Na igreja ir ao encontro de Deus.
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