CONFABULANDO COM EMMANUEL MOUNIER
SOMBRAS DE MEDO
Se o
destino das máquinas ficasse limitado ao medo que surgiu em seus primórdios,
não estaríamos no estágio em que nos encontramos atualmente, cada um tendo em
mãos um maquinário, seus serviços sendo imprescindíveis, caso do celular. A máquina, que antes promovia
concentração de gente, o caso dos operários nas fábricas, acabou por gerar a
dispersão. Inimaginável há décadas essa dependência pessoal, que os críticos
ligam a perigos reais do materialismo. Os avanços tecnológicos mais rápidos do
que a humanidade pode se adaptar adequadamente, ou dominar no mesmo ritmo. A
tal ponto que se chegou à conclusão que só a IA pode nos salvar. É colocar os
dados e deixar a máquina resolver os problemas, afinal os números têm precisão,
não mentem. Um processo puramente técnico, e por isso mesmo moralmente neutro e
ambivalente. Mas não é isso mesmo que sonhamos para nosso futuro?
Do
Cristianismo ao socialismo o especial destino da máquina é o trabalho, que já
teve dia de confrontos entre as partes
envolvidas. Atualmente uma grande produção é destinada a alimentar, vestir,
calçar, dar moradia a bilhões de habitantes, além de simplesmente fornecer
produtos para a alegria consumista. É a virtude da máquina, que não tem
comparação com a especial virtude do
homem, de sentir e amar. Bastante pessimista as reações aos artefatos bélicos,
de destruição em massa. E ninguém duvida dessa força desumana, que requer
trabalho insano para produzir e fazer funcionar. A almejada paz com chance
reduzida, enquanto as guerras explodem em vários pontos do planeta. Sempre há o
risco de uma catástrofe, em vez da sonhada estrada triunfante de libertação. Mecanicista e coletivista, ou individualista e
consumista, gerações se sucedem sob a sombra do medo. A saída seria, pois, a IA
para comandar os atos humanos?
Perdemos
o medo da máquina, mas vivemos hoje à sombra de novos medos, e, pobre de nós,
que só pensamos em buscar a satisfação dos nossos desejos imediatistas. Quando,
ao contrário, temos meios de viver plenamente, ou seja, como ensina a doutrina
cristã e católica, guardiã da nossa humanidade, da nossa humana Esperança.
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