SALVE MARIA II
As crenças
arcaicas se resumem no temor de que a vida esteja ameaçada por forças hostis, irracionais,
e que devem ser sempre conjuradas, segundo o romeno Mircea Eliade, que nos faz
percorrer os territórios das antigas crenças e mitos, capaz de elucidar muita
coisa sobre a Mãe divina, tão venerada
pelos católicos. Ao longo dos tempos a busca pela transcendência deu-se de
formas diferentes, que guardam semelhanças entre si. Nos mistérios de Mithra, a
escada (clímax) cerimonial tinha sete degraus e cada degrau uma meta diferente.
A ascensão estática do xamã ocorre através da ave simbólica, que é invocada
para a subida com mais ligeireza. Os
heróis turcos-mongóis, em seus ritos, promoviam viagens aos céus, que se assemelham aos ritos xamânicos, sendo Genges
Khan um reputado xamã mongol, que sobe em seu corcel, animal que é sacrificado
na chegada ao céu. Temos então a história bíblica da burrinha de Balaão que é obrigada
a seguir em frente por seu dono, mas que resiste a tão perigosa subida para
ambos. Reconhecer a fragilidade humana é sinal de mais sabedoria, o que ensina
os hebreus em sua avançada cultura.
Jacó adormece
sobre uma pedra e sonha com uma escada cujo topo atinge o céu, por onde os
anjos do Senhor subiam e desciam. Subir aqueles degraus não era para qualquer
um, requeria um espírito maduro, bem
preparado. O cristianismo conserva a tradição ao tratar das fases da
perfeição mística como subida ao Monte Carmelo, do místico São João da Cruz,
mas que avisava às noviças não ambicionarem atingir o cume da montanha,
experiência que não era a coisa mais importante na religiosidade. A ascensão
mística, que tem origem no Oriente, gozou de grande popularidade nos últimos
séculos da Antiguidade. Tanto o orfismo
quanto o pitagorismo contribuíram
para sua difusão no mundo greco-romano. O transcender, ou evoluir da condição
humana, em busca de um “devir”. O orfismo pretendia alcançar a ruptura do ciclo
de reencarnações. No cristianismo a morte ritual como forma de neutralizar as
forças inferiores, seguida da ressurreição divina.
Nas culturas
mais antigas o culto à divindade feminina, adotado por várias crenças, tem
ligação com o céu, ou mais especificamente, com a lua, pela correspondência entre
a estrutura lunar e crescente. A primeira letra do alfabeto hebraico, Alef, significa touro, o símbolo da lua
na sua primeira semana. Segundo um texto tântrico a deusa deve ser meditada a partir
do primeiro dia da lua nova e durar toda a quinzena luminosa, uma inovação brâmane
recente. O cerimonial tântrico dá importância capital à mulher e às divindades
femininas. No catolicismo a crença em Nossa Senhora, tornou-se dogma de fé, com
muitas aparições da figura feminina no esplendor da glória divina, uma imagem que
foi concebida conforme uma visão de Catarina Labouré, no convento das Irmãs de
Caridade, em Paris, no século XIX. Na
aparição a intitulada Nossa Senhora das Graças deu instrução à noviça para que cunhasse uma
medalha com a figura que ela via no altar à sua frente. Foram cunhadas duas mil
moedas em 20-06-1832. Devoção que se ampliou no mundo todo.
Na revelação
da divindade de Maria encontramos o sagrado
celestial numa estrutura impessoal, intemporal, a-histórica. A imagem da Virgem
Maria aparece a Catarina de Laboure em cima do globo terrestre,
tendo a seus pés o chifre=crescente, representação das crenças arcaicas e
das fases sincréticas nas religiões mediterrâneas. Mundo
tauroctônico-mágico-sexual, que a refinada
mística cristã e católica transfigurou. As aparições de Maria constituem
fatos mágico-religiosos que dão “sinais” reveladores da “ação do sagrado” que
se tornaram paradigmas no passado e ressurgem para os novos tempos da fé. Poderes
anteriormente valorizados são esvaziados das suas forças elementares,
ultrapassadas. A fé com nova face, no sentido de direcionar o ser humano para um
novo caminho, revelado na imagem divina e consoladora de Maria, que transcende
o universo sublunar. Em Maria o devir humano cíclico (lunar), associado à lua
nas culturas antigas, arcaica, adquire existência superior, absoluta
(humanidade plena). Saem das mãos de Nossa senhora das Graças raios divinos que
iluminam, ou os fios que “tecem” o véu da fé, do amor, sobre as criaturas de
Deus. As 12 estrelas sobre a imagem divina representam as tribos de Israel,
povo messiânico, do qual Maria é descendente, de acordo com as escrituras
sagradas da Bíblia e dos Evangelhos.
A evolução cristã
e universal da religiosidade se completa na figura divina da Virgem Maria. A seguir, a cronologia de algumas aparições:
Ano 39 -
(depois da Assunção), na Espanha, Santiago Apóstolo viu aquela que seria
intitulada Nossa Senhora do Pilar.
352 - o papa
Libério, em Roma.
1208 - São
Domingos de Gusmão e a instituição do Santo
Rosário.
1251- São
Simão Stock recebe o Escapulário de Nossa
Senhora do Carmo.
1531- São Jean
Diego, um indígena no México pinta a extraordinária a imagem de Nossa senhora de Guadalupe.
1717 – Um
grupo de pescadores encontra no mar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que se
tornou a Padroeira do Brasil.
1830 – Santa
Catarina Labouré, em Paris na França, tem o encontro com Nossa Senhora das Graças.
1858 – na
localidade de Lourdes, na França, Bernadete Soubirous, afirma ter visto uma
figura feminina que se autodenominou de Imaculada
Conceição.
1917 – Três
pastorzinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco têm o encontro com Nossa Senhora, em Fátima Portugal.
1981 – Um
grupo de jovens católicos recebe, periodicamente, a visita de Nossa Senhora, em Medjugorje, na Bósnia
e Herzegovina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário