SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO III
Em Eurípedes o mundo é trágico, beira
o abismo. Dionisíaco, ele antecede a visão
criadora, sóbria, apolínea. A decadência vai ocorrer em ambos os cultos, quando
for abandona a medida (metron: vara
de agrimensor nos poemas de homéricos), pois há limites, que não podem ser
ultrapassados. É mister encontrar uma saída, ou seja, a serenidade olímpica,
penosa, mesmo em cenário de sonho expresso no drama de Shakespeare O poder
heroico-bárbaro que pode, excepcionalmente, curar as paixões arrebatadoras dionisíaco-apolíneas.
Mas o querer impulsivo da subjetividade está contra essa vontade em Atenas, em
Esparta, ou em qualquer outra civilização. Na Tragédia, o estado estético e
antiestético da alma grega tem sua apoteose, seguida de queda, quando a
filosofia natural de Aristóteles entra em cena.
Longe da Grécia clássica o mundo
fervilhava de influências de toda espécie. No drama shakespeariano Oberon, rei
das fadas, enciumado, reclama que Titânia lhe deve ceder o infante, que ela
traz consigo, um amor imaturo, quando então os prazeres, assim como os
sofrimentos, merecem compaixão. Na peça dos bufões “A Mui Lamentável Comédia e
Crudelíssima Morte de Píramo e Tisbe” não há um Minotauro a vencer, mas um burro
que ”dele se há de correr”, e se trata
de Fio com a máscara de burro, do qual os outros artífices-atores correm, levados
por Punk. Com o naturalismo a humanidade tenta fugir do passado assombrado. A
verdade, todavia, é caprichosa, requer mente pensante, espírito lúcido, alma
santa, que vai conduzir o ocidente à ciência, à piedade religiosa.
Segundo Plutarco, o sábio Nearco
teria aconselhado Alexandre a manter-se afastado da Babilônia, onde o
conquistador se encontrava em seu palácio rodeado de adivinhos, exorcistas,
sacrificadores e curiosos, os quais, segundo o historiador, insuflavam o rei
com tolices e terrores a se “infiltrarem-se como água em direção às partes
baixas”. Logo após Alexandre começou a
perder ânimo e fé nos deuses e em seu próprio filho a quem escarneceu: “Eis aí
um sofista, discípulo de Aristóteles, hábil em provar os prós e os contras.”
Assim, quando o conquistador morreu na Babilônia, Aristóteles foi acusado de
ter aconselhado o crime.
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