Em meados do
século XX chegamos a João Pessoa com uma filha de dois anos, a família incompleta,
faltavam dois membros. Compramos uma casa na cidade, onde nasceu nosso segundo
filho. O lugar com importância para a
felicidade, que acreditávamos nos acompanhar onde quer que estivéssemos. De
repente, fomos surpreendidos pela ditadura militar, início de tempos confusos
para o Brasil, assim como para todos os cidadãos desse país. A confusão
generalizada no mundo, dividido entre comunistas e capitalistas, a terrível “guerra
fria” entre Estados Unidos e União Soviética. Lembro do dia e hora em que soube
da morte do presidente americano, fato que
comuniquei a minha vizinha, que não sabia quem era a pessoa da qual eu
lastimava tão trágica morte. Não demorou, veio outra surpresa, os militares
tomaram o poder, sinal de que que as coisas não estavam nada boas para os
brasileiros, o desenvolvimento nacional travado por conta de políticas incompetentes,
como sempre, e alguns brasileiros acreditando no comunista, para eles a
salvação. Um grave equívoco, que nos fez passar por momentos difíceis, e cruéis
para os engajados nos movimentos sociais, nem sempre com ideias comunistas. Os
militares no poder foi uma dura provação que teve de acontecer. Mudamos para S.
Luís, minha cidade natal, onde nasceu nossa filha caçula, a família estava completa.
Daí começava um novo itinerário para o casal, que passou alguns anos no Rio e
veio para Brasília em 1971, onde mora até hoje.
Cinquenta anos
depois retornamos em férias à capital da Paraíba, agora transformada numa
metrópole, como tantas outras do norte e nordeste brasileiro. Prédios altos que
despontam dando prova do seu desenvolvimento, com largas avenidas e shoppings
espalhados pela cidade. Mas nem tudo são flores, a violência, por exemplo, a
gente tem logo notícia dela, que se tome cuidado, os turistas sendo alvo
preferido dos bandidos, as pessoas sem segurança para andar livremente. A segurança
e a saúde que continuam devendo muito aos cidadãos pessoenses, reclama o
taxista. Quanto á saúde lembrei que há cinquenta anos, já em processo de parto,
eu tive de percorrer vários hospitais para conseguir uma vaga. A saúde parece
que não melhorou o tanto que devia, mas o trânsito quanta diferença! Do taxi
vemos uma batida, carros em grande quantidade, que se atropelarem, e poucos os
sinais de trânsito. “É o terceiro que eu vejo hoje” diz o taxista inconformado.
Nas praias os cartazes avisam que estão livres para o banho, mas fui vítima de
algum bichinho peçonhento, e restou-me uma infecção na perna.
Quem no passado
podia suspeitar que havia em João Pessoa um dos mais belos Pôr do Sol, além do
mais, assisti-lo ao som do bolero de Ravel? O evento acontece na distante Praia
do Jacaré, desde quando um saxofonista escutando todas as tarde o som vindo da
casa vizinha ao seu bar, resolveu encampar a ideia. Um momento extraordinário. Por
fim, fui ver o local onde moramos por algum tempo, numa rua de casas
ajardinadas, seus arredores, antes tão tranquilos, agora em intenso e
desordenado movimento. As moradias transferidas em sua maioria para
apartamentos na orla marítima, os chamados espigões, na crença das famílias
gozarem de maior segurança e o conforto, uma verdadeira explosão imobiliária.
Formam-se engenheiros na capital da
Paraíba, numa das melhores faculdades de engenharia do país, à serviço do progresso da construção civil. É
para onde nosso neto, do filho paraibano, pretende se transferir como estudante
de engenharia. Além do passeio, fomos sondar o ambiente, do qual tiramos algumas
boas impressões, principalmente, pelo povo acolhedor e educado, inclusive os
taxistas, noutras localidades tão pouco amigáveis. A prova é que de volta à
Brasília tivemos a desagradável experiência com um taxista, que em desabalada
correria atravessava as mal traçadas vias entre os canteiros de obras, da
retardada preparação para a Copa e as Olimpíadas.
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