Por qualquer coisa desabamos:
nos angustiamos, choramos, esbravejamos, e, em situação extrema, caímos em
depressão, hoje um mal tão presente entre nós. Parece que não há como as pessoas
se manterem em equilíbrio num mundo estressante como este em que vivemos. Parece
que tudo contribui para a tristeza, embora só queiramos ser alegres, felizes,
coisa que tempos atrás ninguém se preocupava. Milan Kundera fala de leveza no
seu livro “A insustentável Leveza do Ser”, eu penso em firmeza, também precária,
leveza e firmeza do ser. Não se pode falar ser
sem lembrar da filosofia, o muito que se deve conhecer sobre o ser em
Aristóteles. Questão shakespeariana: ser ou não ser. Me reporto então ao
passado distante, até mesmo o recente, o mundo mais viável, ninguém pensava que
existisse tanta tristeza, nem a felicidade fosse tão exigida como é atualmente.
Apreciava-se a vida de forma mais
tranquila, sem grandes expectativas, nem privações materiais e espirituais. O pai
tratando de prover o sustento da casa, onde moravam famílias imensas; a mãe a procriar
e educar os filhos, ambos com o devido altruísmo. Os filhos obedientes e
respeitosos. Os dissabores grandes e pequenos contornados, quando as mulheres
consertavam os maridos o quanto podiam, assim como o orgulho dos homens era moldar
as mulheres, casadas muito jovens com pessoas mais velhas. Assim seguia a vida
seu rumo, mesmo desaprumada, pois não havia muito o que fazer, um mundo apenas possível,
hoje quase impossível de se viver, com todo o avanço científico e tecnológico. Buscam-se
formas de conviver com o caos contemporâneo, mundo sofisticado, mas caótico, onde
as armadilhas estão por toda parte.
A porta fechada, bem trancada, a
casa quase vazia, e cada um diante do seu computador, ou outro qualquer
aparelho de comunicação, onde diversão e convívio acontecem através da
internet. É como se vive atualmente, o lá fora está cá dentro, no computador, convivência
estranha e também assaz perigosa, quando a pessoa fica mais vulnerável ainda,
por desconhecer os perigos que as cercam, longe, como perto. No que diz
respeito ao casamento, os cônjuges prontos a se descartarem um do outro ao
primeiro sinal de “incompatibilidade”. Estabelecido
pelo costume o papel do homem e da mulher, por exemplo, mantinha-se a firme
ideia sobre o certo e o errado. Acontece que não havia meio termo: ou a pessoa era
santa para ser levada no andor, ou pecadora para ser jogada na lama. O preconceito
que se formava sobre as pessoas em evidência. Melhor ficar na sombra para não
ser endeusado, nem crucificado, o caso da mãe de família que devia manter o seu
papel de santa dentro do lar. Trabalhar fora nem pensar, que a mulher estaria
fugindo de suas obrigações ao lado do marido, mesmo o pior dos homens. Havia as
que se impunham, sem justificativa para fugir às regras estabelecidas, o caso
do trabalho fora de casa. O preconceito que existia contra a mulher, mas não levava
a se trucidar uma inocente na rua pela simples razão de ser feita justiça. Uma imaginária
bruxa sequestradora de crianças, coisa hedionda que merece punição, mas que
seja feita por quem de direito, não com as próprias mãos. Mas como exigir isso
de uma turba de ignorantes, num mundo injusto e metido a besta como o nosso, os
justiceiros soltos por aí. A maldade inerente ao ser humano, explica parte da
questão. A dona de casa do Guarujá foi espancada até à morte, quando ela sofria
de doença mental, uma pessoa frágil que se sentou em um banco da praça, tentou
conversar com uma criança, e deu no que, deu. Todo cuidado é pouco nesta
barbárie em que se vive hoje.
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