UMA VIAGEM INESQUECÍVEL
Aconteceu mês
passado, quando partimos para conhecer a Itália
e rever Portugal. Fomos eu, meu
marido e nossa primogênita, Vivianne, que estava de férias por apenas quinze
dias. E nada melhor que uma filha viajada para acompanhar os pais, coitada ter
que aturar velhos ranzinzas, que abdicaram das excursões. A viagem planejada três
meses antes, dentro dos conformes: passaportes novos, passagem comprada,
estadia marcada nos hotéis e alguns passeios programados, aonde ir ou não ir. Chagamos
ao aeroporto confiantes de que estava tudo certo, mas logo no check-in eis que a atendente da TAP, nos
fez ver que nossos passaportes estavam vencidos. Como assim? Notei que a moça, muito
simpática, ficou com pena dos dois velhinhos que tinham esquecido de tirar
passaporte novo. O caso é que o pai de Vivianne apresentara os antigos, já
vencidos. Felizmente havia tempo de voltar para pegar os novos. E daí por
diante nunca do passaporte se apartar. Bem que na fila uma senhora nos havia
alertado: “Estou vendo que vocês não
costumam viajar...” Quando ela se foi com sua maletinha, ainda olhou de soslaio
para as duas maletas, não tão grandes, mas íamos ter de despachar. Desfeito o
engano do passaporte, tudo acertado, era só aguardar a chamada para o embarque.
Mas eis que na hora H avisaram que o voo fora cancelado, o piloto estava com
labirintite e só no dia seguinte
viajaríamos. Na hora indicada, às 9h, lá estávamos a postos outra vez. Mas cadê
o pessoal da companhia aérea? Pergunta aqui, indaga acolá, e nada, o local de
atendimento deserto e uns poucos passageiros atônitos como nós, inclusive, o jornalista
Alexandre Garcia. (Depois soubemos que os demais passageiros haviam embarcado
nas primeiras horas do dia, e não fomos avisados do voo). Em desamparo diante
daquela situação, foi quando nossa filha resolveu ligar diretamente a Portugal,
e fomos colocados no voo à tarde. Horas depois é que surge a moça para nos atender
com o voucher de alimentação, o que
restou para ela fazer, pois já tínhamos resolvido tudo pelo celular.
Embarcamos,
finalmente, mas os imprevistos não pararam. Viajamos sem saber onde estavam as malas,
que foram despachadas sem os donos. Em Lisboa tivemos que passar algumas horas
antes de seguir para a Itália, nossa primeira parada, de onde só retornaríamos
cinco dias depois para, aí sim, visitarmos a santa terrinha dos nossos
antepassados. E as malas? Nos tinham informado que estariam no bagageiro da companhia, onde
deveríamos procurar assim que chegássemos em Roma. Mas não estavam. Tínhamos
que procurar nas esteiras, eram 10, mas como tenho meu sexto sentido fui na última e
lá estavam elas, incólumes, esperando os donos, ou algum ladrão. Se
fosse no Brasil, coitado de nós. Roma é
aquele deslumbramento, parece uma cidade em ruínas, restos de uma história de mais
dois mil anos de civilização. Só que no interior daqueles prédios antigos,
muito bem preservados, pulsa a riqueza que o progresso produz, as mais famosas
grifes, os mais badalados restaurantes, gente rica e sofisticada, como a
estação de trem, onde embarcamos para Florença.
Florença,
dia ameno de primavera e encontramos uma encantadora cidade de tantos
séculos, preparada para receber os turistas,
que sabem porque estão ali, e se pôde
ver um artista a pintando no meio da rua, sobre um calçamento de alta qualidade,
nada menos que “A Mulher de Brinco de Pérola” de Vermeer, artista holandês do século XVII do
qual sou fã de carteirinha. Estava perfeito dentro do possível. Mas para não
dizer que não aconteceu nada de imprevisto nesse passeio, Murilo Veras, meu
respeitável marido, engasgou-se no restaurante, e com um pedaço da carne crua.
Também pudera, pedir carpaccio, dá
nisso.
Fizemos
uma parada na cidade do Porto antes
de ir para Lisboa. Como eu podia deixar de conhecer a terra natal do meu bisavô,
Antônio Dias, que veio fazer investimentos financeiros no Brasil, precisamente em
São Luís, onde aplicou dinheiro nas firmas mais conceituadas da capital
maranhense, mas que a cada dia morria um pouco, com saudade do torrão natal, banzo
como se dizia? Aqui casou-se aqui com Amelinha,
linda filha de portugueses radicados no país, teve seis filhos, e já voltava, quando
o coração não resistiu, especulo eu, que o coitado estaria dividido entre dois
amores: Porto e S. Luís. Como foi agradável estar na Praça dos Aliados, onde os
intelectuais no passado se reuniam em seus cafés para discutirem a situação
política, inclusive Fernando Pessoa que por ali perambulou com seus pares,
informou-nos o guia pelo fone. Aproveitamos para dar uma esticada até Guimarães, antiga capital do país, de
onde trouxemos boas lembranças e uma bela imagem de nossa senhora em cerâmica
pintada à mão, que está agora enriquecendo meu pequeno santuário. No aeroporto no
voo para Lisboa, dessa feita foi over booking que nos impediu de viajar. Ao
sermos chamados para fazer o chek-in recebemos então a agradável surpresa da
indenização 750 euros pelos contratempos,
já depositados no Multibanco europeu. Isso é Europa!
Lisboa, finalmente: “Lisboa, velha cidade, cheia de
encanto e beleza, a sorrir sempre
airosa”. O hotel de instalações modernas, num prédio antigo do centro da
cidade, todo remodelado por dentro, ficou só a casca, como acontece em São Luís
com os prédios tombados. Nada melhor que se estar bem alojado para o descanso
depois das andanças. Chegamos cedo e já nos dirigimos ao Rossio, descendo a pé pela
Praça da Liberdade. Fim da primavera e começo do verão, bom tempo para a viagem.
Em nossa segunda visita ao Mosteiro dos Jerônimos e à torre de Belém, que
tínhamos conhecido em 1976, constatamos as mudanças, os arredores bem diferentes,
e o número de turistas muito e muito maior agora. O Oceanário de Lisboa, atração
recente, depois da União Europeia, imperdível ver tubarões bem de perto e tanto
animal marinho estranho. No complexo do referido “oceanário”, já mortos de
fome, tivemos a agradável surpresa daquele restaurante de uma brasileira,
excelente o churrasco e tudo o mais, era
como se estivéssemos no Brasil.
Visitamos Fátima,
santuário em homenagem à nossa mãe divina, grande a emoção que se tem de participar das
orações, acender velas, rezar nos túmulos dos “pastorinhos”, que a Igreja sabe preservar
a fé, tão necessária neste nosso tempo, onde ninguém crê em mais nada. Na bela Sintra deixamos ir o guia apressado com
seu carro, para ficarmos e apreciar melhor a cidade, havia trem para voltar, a estação logo ali perto, em
meia hora retornaríamos em Lisboa. Isso é a Europa! Depois da visita a dois
belos castelos, almoçamos tranquilamente, e Viviane pôde então matar sua
vontade de comer bolinhos de bacalhau, uma especialidade portuguesa nada fácil
de encontrar nos restaurantes de Lisboa, parece incrível. Passeio dos sonhos
para nós brasileiros que somos tratados em Portugal como irmãos, endinheirados
para eles, amém, amém. Portugal também saindo da crise do euro, mas o povo a se
queixar do corte nos salários.
Estamos
de volta ao Brasil, e já programamos retornar para mais três meses na Europa,
ainda neste ano de 2014.
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