RIGA - E UMA GRANDE SAUDADE
IGREJA DE SÃO PEDRO -RIGA |
Cheguei à idade, dita avançada, breve completarei oitenta anos. Avancei, sim, e acontece quando a
gente passa a entender melhor as coisas, ou pensa que entende, o que é chato e
cansativo, principalmente para falar aos outros, reconheço. Como também
reconheço que a essa altura da vida é preciso cada vez mais estar atento às
necessidades especiais, próprias da idade, como fazer exercícios físicos, e não
ficar muito tempo diante do computador. Os moços também tenham atenção para
isso, cuidar da saúde para poder trabalhar, produzir, e fazer o necessário para seu próprio bem
e o bem comum, ou seja, o desenvolvimento humano.
Os que
nascem chegam para criar e recriar o novo, a vida em contínua adaptação. Sempre
foi assim. Certo que o mundo conspira para que tudo dê certo, que se encontre o
caminho para viver bem e em paz. Essa eterna carência e as constantes guerras parece
que estão fora do script. Se somos gênios de criatividade, é certo que
precisamos ser especialmente geniais no cumprimento da nosso destino humano, da
nossa humanidade — fato que se tornou
demasiadamente difícil nos tempos atuais de oscilações de humores e valores.
Que pena! Que pena!...
As
civilizações foram criadas pelo homem para sua sobrevivência e felicidade. Que se cultivasse a razão, e em especial aprendesse a amar a Deus, e ao próximo como a
si mesmo, como ensina a fé, desde priscas eras, até o advento da fé cristã. Acabo de fazer um giro cultural pela Europa, incluindo
os países bálticos. Na capital da Letônia, Riga,
visitamos um gueto de judeus vítimas do
nazismo, inacreditável que tenha acontecido tal barbárie. Foi também na sofrida Riga, na bela Igreja luterana de São Pedro, reconstituída após a triste
sanha comunista, que assistimos a um belo coral de meninos e rapazes, que iniciou
a apresentação com o Laudamus te (o
Gloria) de Antônio Vivaldi. De imediato, fui transportada para um outro tempo. Que
saudade, meu Deus! A emoção transformada em lágrimas pela perda recente do meu irmão
mais novo — o melhor de todos nós, o mais querido.
Países, cidades, que se formaram durante séculos de vida civilizada. Mas por trás de
tanta criatividade e beleza sabemos que temos um mundo difícil de viver. O mundo moderno que pulsa como nunca, mesmo que digam estar nos seus estertores. E
é com certo espanto que vemos uma colmeia de asiáticas voejando em torno das
bolsas em liquidação na Galeria Lafayette,
Paris. Pessoas que querem ver tudo e levar de lembrança produtos de uma
tecnologia invejável, mesmo que muita coisa seja feita em seus países de origem,
até por suas crianças o que se diz por aí. Parece loucura. Mas se faz a economia mundial
girar que mal há o produzir e o consumir? De minha parte amo estar em um
Shopping, mesmo não sendo afeita a arroubos consumistas, compro sem
paixão.
A
visita às capitais nórdicas de Estocolmo e Copenhague deixam em nós um
gosto de quero mais. Além da riqueza arquitetônica, da limpeza e tudo o mais
que se sabe, o que mais chama a atenção são os muitos estacionamentos repletos
de bicicletas, ou bikes, com as quais belos e esbeltos ciclistas, homens e mulheres,
pedalam pelas ruas, de poucos carro. A impressão é que pedalar dá mais saúde e
alegria de viver. E de se questiono como conseguimos viver no Brasil dentro do carro, tendo
que enfrentar um trânsito cruel. Por conta do sedentarismo, sem atividade física e mental, e pela falta uma vida espiritual, a obesidade e outros males, em especial osa males da alma,
tomam conta de nós, pobres brasileiros, como de outros habitantes pelo mundo, uma calamidade. Tenho
uma visão religiosa de vida, e também sanitarista, ou seja, de saúde espiritual,
física e mental. Vejo a vida por esse prisma, penitenciando-me, inclusive.
Na elegante Estocolmo às margens do Báltico, uma feirinha vende de tudo, especialmente comida, palco de uma historinha engraçada. A risonha vendedora de uma das barracas acabara de dar uma sardinha para
meu marido provar quando uma das gaivota tirou-lhe o acepipa das mãos. Havia um
letreiro para que se tomasse cuidado com as gaivotas, respeitadas, como de
direito. Ideal para uma refeição ligeira, onde degustamos o prato
que parece ser o mais apreciado em toda a Europa, as sardinhas, ricas em ômega
3. Portugueses a puxar conversa conosco e o ambiente ficou mais agradável ainda. As acomodações no nosso hotel as mais confortáveis de todas em que estivemos, e nenhum imprevisto. 25 dias de
viagem por sete países transcorridos às mil maravilhas, meus companheiros
que digam se não estou falando a verdade.
Quanto ao jantar na Torre Eiffel aquém do esperado, embora tenhamos
passado agradável fim de tarde vendo Paris lá do alto. E aproveito para deixar
registrado aqui o meu protesto por não haver no local uma alusão ao nosso Santos Dumont,
justo que estivesse entre as lembranças expostas na Torre. O brasileiro fez voar
pela primeira vez um objeto mais pesado que o ar, o 14 Bis, com o
qual deu a volta no monumento recém-inaugurado, e desceu minutos depois. O romântico brasileiro pode não ter inventado
a aviação, em se tratando de produção industrial e voos comerciais, uma vez que deixou
de capitalizar o invento, que foi parar nas mãos da indústria americana, negociação feita com dois irmãos que na mesma época faziam sua experiências. O ilustre brasileiro merecia uma lembrança na Torre.
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