OH, SÃO PAULO DO PAISSANDU!
Um
incêndio seguido de um espetacular desabamento de um edifício em S. Paulo, no
Largo do Paissandu, causou forte impacto, como acontece com tragédias deste
porte, e um grande movimento de solidariedade logo surgiu para acudir as vítimas.
Não demorou a serem reveladas as entranhas da vida paulistana, através daquela
montanha de ferros retorcidos, o que restou do Edifício Wilton Pais de Almeida,
construído na década de 60, tornado abrigo dos chamados sem-teto, invasores do
local. Abrigo é menos que residência, onde vivem uma massa de desabrigados, muitos
vindos de outro país, e também da própria cidade para onde acorrem gente de todos os rincões brasileiros em busca de
emprego, e acabam vivendo por anos numa situação de penúria na mais rica
capital do país. “São Paulo do Pacaembu, Viaduto do Chá e da Praça da Sé... Nós todos queremos que Deus te proteja e te faça feliz.”,
hino do passado, homenagem a São Paulo.
O
prédio de 24 andares, no centro de São Paulo, era marco do progresso paulistano,
uma torre revestida de vidro, desenhada pelo arquiteto sírio-brasileiro Roger
Zmekholo, que teve como primeiro proprietário o empresário mais rico do Brasil
na época, dono de uma empresa próspera no ramo da vidraçaria, impulsionada pela construção de Brasília. Sebastião
Paz de Almeida chegou a presidente do Banco do Brasil e ocupou a pasta de ministro
da Fazenda no governo de Juscelino Kubitschek. Empresa e carreira pública entraram
em declínio com a chegada dos militares ao poder, o empresário tachado de
inimigo da Revolução, e acabou por entrar em falência e por dívida o prédio transferido
para o governo federal, abrigando a sede da Polícia Federal, antes de ser
abandonado. Não demorou os andares do
edifício serem transformados numa favela, com barracos improvisados nos
andares, sem a mínima segurança de habitação. Conforme depoimento da moradora
do 5º andar, houve um
curto circuito na tomada do seu barraco, onde estavam ligados três eletrodomésticos.
Devido
as proporções do desastre, que aconteceu na madrugada, todos dormindo, foi um
milagre que não tenha ocorrido muitas vítimas fatais, e o que se sabe, até
agora, houve a morte de um rapaz de 39 anos, Ricardo Galvão Pinheiro, que
costumava percorrer as ruas do centro de patins, e segundo relatos, ajudou na
evacuação do prédio, orientando idosos e crianças a se salvarem das chamas, que
avançavam numa velocidade incrível. Mês de Maria, e pode ter sido por sua
interseção que nenhuma das 30 crianças deixou de ser salva, nem se feriu. Dentro
da igreja, vizinha ao prédio, na praça, concentram-se as doações e os
atendimentos, atraindo outras pessoas
que vivem nos muitos prédios no centro do S. Paulo em igual situação. Uma máfia no comando das invasões, cobrando aluguel e tudo, ajudando nas fiações improvisadas, nos tapumes de madeira e papelão, divisórias dos cubículos. A melhor
moradia para a boliviana Virgínia, chegada
de pouco ao prédio, e há 17 anos vivendo na capital vagando de um lugar para outro, fazia parte dos 25% de estrangeiros no
edifício que desabou.
O problema da moradia, como muitos outros, na saúde e educação, cruciais para muitos e muitos brasileiros, assim
como para os estrangeiros que por aqui aportam, fugindo de miséria pior lá
fora. O corpo de Ricardo foi encontrado depois de intensa busca
entre os escombros. Os bombeiros de parabéns pelo seu trabalho heroico. Exemplos não faltam de gente boa no que faz, aplicada em seu trabalho, e quanto aos governantes que sejam vocacionados para trabalharem em prol do Brasil e seus habitantes, como deve ser, para tanto é que são
eleitos. Outubro vem aí, de eleições para presidente e governadores, vamos ver
se aprendemos a lição, depois de tanto desmando e corrupção os eleitores votem com real consciência.
EDIFÍCIO WILTON PAIS DE ALMEIDA EM CHAMAS |
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