CONTO
MARIA RECEBE CONVIDADOS
PARA O CHÁ
Maria deleitava-se com a
primavera, quando uma frondosa cerejeira floria em frente a sua
casa, que ela não se cansava de admirar, toda coberta de um luminoso amarelo. Encontrou a avó Nena na sala, dando os últimos pontos em seu bordado de flores de sianinha para colocar na mesa em homenagem à estação. Declarou
toda contente:
— Sou feliz por viver neste
planeta, na nossa amada terra, feliz por ter nascido nesta cidade, nesta casa, e
sinto-me, mais que tudo, privilegiada
por ter essa família. Sou feliz por você, vozinha, que cuida tão bem de mim,
na ausência de minha mãe, que está no interior fazendo inspeção a serviço do Ministério.
— Maria, deixa de conversa e
me escute — falou sua avó — vou ter que sair e quero que você sirva o lanche da
tarde para minhas amigas. Vou trazê-las para cá depois da reunião de preparação
para o Natal dos velhinhos do abrigo Santo Antônio, que ajudamos. E se quiser,
pode convidar sua amiga Nazareth.
— Quem bom, vovó, vou me
sentir adulta e responsável, o que desejo imensamente. Posso usar o lindo
aparelho de chá cor de rosa, que tem admirável florido? Ele fica todo o tempo
guardado, precisa de uso, não é mesmo?
— Você sabe que o aparelho de
porcelana, herança da minha mãe, tem valor afetivo, e por sua antiguidade
podia estar em um museu. Mas você pode usar o conjunto branco, que também é
bonito. Tem o bolo e os docinhos que fiz em quantidade maior que as encomendas.
E não mexa no licor de abricó, que sua tia fez e está muito forte. Peça para
Joana fazer limonada suíça, acredito que vai agradar.
Se havia uma coisa que Maria
gostava era de se sentir adulta, e a perspectiva de ajudar era um grande estímulo
para ela, que fazia suas estripulias, mas nada que prejudicasse os outros. No dia anterior havia subido na caramboleira do quintal de casa e foi tão alto, que quase cai, com o perigo de quebrar algum osso, como aconteceu com sua tia, que havia tropeçado na calçada esburacada. Mas dona Nena já havia pedido providência da prefeitura. Reclamou que a cidade, por ser antiga, precisava de conservação para não virar uma favela, e ainda acabar com as pessoas que ali viviam.
- Pode ir descansada, vozinha, estarei sempre pronta para servir
minha família em qualquer ocasião, e me orgulho de ter ajudado a tia quando ela quebrou o braço, coitada, e não podia fazer nada - disse Maria todo orgulhosa.
— Sim, Maria, sei da sua
dedicação, e seu amor nos anima, além do seu empenho em ser útil. Mas deixa eu ir, já estou atrasada.
A avó saiu para seu encontro e Maria voou para a casa
de Nazareth para convidá-la a passar aquela tarde em sua casa. Voltou de cabeça
baixa, a amiga tinha saído com a irmã mais velha para fazer compras. Sentiu-se
traída, mas não era hora de lamentar-se, tinha uma missão a cumprir, e ia fazer
tudo para não decepcionar. O que realmente aconteceu, salvo a limonada que
ficou amarga, Joana colocou limão demais.
O chá e tudo o mais estavam uma
delícia, o que as amigas de sua avó não se cansavam de elogiar, como também
elogiavam os modos de Maria. Dona Corina nem conseguia se lembrar-se da menina, que chamou de alvoroçada meses atrás, ao chegar de viagem, e
esteve ali queixando-se de Deus e todo mundo.
BORDADO DE SIANINHA |
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