domingo, 19 de setembro de 2021

 


NAZARÉ PORTUGUESA OU SÃO LUÍS FRANCESA?

                                                       

                                                            Murilo Moreira Veras

 







 

Espécie de segredo histórico, constitui hoje o mito de que a capital do Maranhão, São Luís, foi fundada pelo francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière. Mesmo depois da malograda investida em 1612 de  fundação no Maranhão da França Equinocial, o estranho mito persiste — São Luís  relicário brasileiro da civilização francesa.

Capital do Estado do Maranhão, São Luís completou 409 anos em 8.09.21. O mito é voz geral entre os ludovicences, seu fundamento confirma-o  a historiografia oficial, que do fato faz seu principal laudatório.

Ocorre que esse mito não é aceito por muitos historiadores, inclusive maranhenses, Mário Martins Meireles, Rubem Almeida e principalmente Maria de Lourdes Lauande Lacroix, que, em seu estudo assinala que os franceses ali aportaram para fundar uma colônia e divulgar o cristianismo e os portugueses, já instalados na região, dali os expulsaram. De sua vez, Meireles em seu livro “França Equinocial”, edições da Academia Maranhense de Letras, por iniciativa de Jomar Moraes, também estudioso do assunto, explica como se originou o mito. Com base em dados e informações colhidas de historiadores antigos e modernos como Rocha Pombo, o autor afirma que os expedicionários de Aires da Cunha, do triunvirato de donatários da Capitania do Maranhão formado por João de Barros e Fernando Alvares de Andrade, fundaram em 1.513 uma povoação primeiramente chamada Trindade e que teria durado três anos (pag. 39, citado livro). Rubem Almeida, também estudioso da Capitania do Maranhão, acrescenta Meireles no mesmo livro, teria identificado esse povoado a célula mater da cidade, hoje denominada de São Luís.

A cidade fundada pelos franceses em 1.612, como reza a história oficial, teria sido o clímax da chamada França Equinocial, que não passou de uma malograda tentativa de constituir, no Brasil, uma colônia francesa. O fato não significa retirar da cidade seu brilho de suposta descendência francesa em nossas plagas. Ao contrário, move-nos o objetivo de fazer transparecer a verdade dos fatos. Não constitui demérito algum revestir a cidade dos cenários de seus reais  fundadores, os portugueses.

A propósito, em certa viagem que fizemos, eu e minha esposa, ela maranhense de origem, a São Luís, quando nos dirigíamos de retorno ao aeroporto, o taxista que nos atendia, encetando conversa, disse-nos ser formado em história e explicou a verdadeira origem da cidade aquela humilde povoação chamada Nazaré. Não só confirmou como nos levou ao local, no bairro de Vinhais, onde nos mostrou as ruínas de uma igreja. Seria as únicas reminiscências da suposta localidade de onde surgiu, hoje, a cidade de São Luís.

Terra das famosas tradições folclóricas como a do Bum-Meu-Boi, abrigando recantos onde remanescem os cantos e encantos decantados por Gonçalves Dias e outros inspirados vates, ágora cultural mantida como berço de grandes vultos da literatura, a ponto de também no passado ter recebido outro galardão, o de ATENAS BRASILEIRA — o cenário que nos propusemos expor não diminui o mérito da cidade, a pequena Ilha dos Amores, enaltece-a de mais um laurel, ser ao mesmo tempo portuguesa e batizada francesa, para deleite de seu afável povo.   

 

 

Liv

 


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