COMENTÁRIO DE LIVRO
ORGULHO
E PRECONCEITO
Murilo
Moreira Veras
Em nosso encontro de
28.02.22 no Clube do Livro foi escolhido para a apreciação Orgulho e Preconceito,
de Jane Austen (1777-1817). É o primeiro romance da autora, publicado em 1813,
em Londres, com o título Pride and Prejudice.
Confesso que tinha o livro na estante de
casa, mas não o havia lido, sempre tive a inglesa como autora para moças, e só um
pouco mais que isso. Comecei a ler Austen com má vontade, mas o texto belamente
escrito acabou por surpreender-me, o conteúdo indo muito além de uma simples
novela de costumes, como também pensava que fosse. Agudeza e escrutínio
psicológico a desvelar a sociedade inglesa, anterior à Revolução Industrial. As
elites familiares na retranca, e pouco dispostas a ceder espaço à nova era que
se aproxima.
Narrativa é sobre a
família Bennet, formada pelo marido Mr.Bennet, sua esposa, Mrs. Bennet, e as cinco
filhas do casal: Jane, a mais velha, Elizabeth, a segunda, Katherine
ou Kitty, a terceira, e as duas mais novas Mary e Lydia. Cada
uma das moças tem um caráter próprio, responsável pelo desenvolvimento da linha
da ação do romance. A doce Jane é muito bonita, está na idade de casar. Elizabeth
é menos bonita e tem um temperamento forte. E, ao contrário das irmãs mais velhas, as duas mais novas comporta-se
mal socialmente, as futuras periguetes, assim como Elizabeth camba para o
feminismo, não esse feminismo desvirtuado de agora. Intriga a atualidade da
narrativa.
Os bens de Mr.
Bennet constituíam-se da casa própria e da
pequena propriedade de onde tira sua renda. Mrs. Bennet quer ver as filhas casadas,
se possível alcem a um nível social digno delas, e para tanto participam das
festas da elite, e sejam apresentadas a bons pretendentes, normal para uma mãe em qualquer época. Essa,
em especial, está demais ansiosa, afinal, são cinco filhas para encaminhar. Enquanto
isso o pai não se preocupa tanto, sequer
concedeu às filhas os devidos dotes, mas
flexível aos anseios da mulher.
Eis que chega à
cidade Mr. Bingley, herdeiro de grande fortuna, acompanhado do seu amigo, Mr.
Darcy, também muito rico. Conforme o costume
da época é promovido um grande baile para comemorar a chegada dos dois
afortunados repazes. Mrs. Bennet sente que havia chegado a oportunidade para
suas encantadoras filhos, o que realmente acontece. Mr. Bingley vê-se seduzido
pela bela e doce de Jane. Já Elizabeth é alvo de atenção de Mr. Darcy. Contratempos
ocorrem, as famílias dos rapazes não aceitam de bom grado as eleitas,
mas acabam por ceder, diante dos encantos das jovens. O snob Mr. Darcy a
princípio se desentende com a perspicaz Elizabeth, até acertarem os ponteiros.
A certa altura da
trama, Lydia, com apenas dezesseis anos, foge com Mr. Wickham, de passagem com
seu regimento, rapaz de má fama, consternando toda a família, o que causa
constrangimento à família, que resolve a situação da melhor maneira, casando a
moça. Jane Austen não se casou e morre aos 44 anos, o que singulariza sua
escritura, realizada ainda bem jovem, a competência com que soube armar seus
romances. Os homens, herdeiros das fortunas das famílias, o que fazem? Caçam,
bebem, vivem o bom e o melhor, enquanto as mulheres correrem atrás deles. Cheios
de si eles às vezes se equivocam, a exemplo de Mr. Collins, um jovem clérigo,
ridículo em sua disposição para casar, que escolhe Elizabeth, mas é rejeitado, cai
na real, e acaba por encantar-se da amigável Mr. Wickham, os dois feitos um
para o outro.
No cap. LVI há o
diálogo vulcânico entre Lady Catherine de Bourgh, tia de Mr. Darcy, com
Elizabeth. Enquanto a ricaça é pura arrogância, Elizabeth demonstra equilíbrio e brilho pessoal. Falas, diálogos, observações, típicas de uma autora
educada na religião puritana, sendo ela filha de clérigo com o qual teria
recebido lições de vida e com uma boa biblioteca particular, nem colégio, nem
faculdade. Alguns anos depois, em 1832, surgiria Louisa May Alcott ,
autora de Mulherzinhas , também mundialmente famosa. A americana Alcott e
a inglesa Austen em contextos sociais bem diferentes.
Bsb, 12.02.22
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