ENVELHECER
É VIVER
S. LUÍS - MA |
Os oitenta anos da mãe de Maria lhe chegaram sem maiores dores que as normais da velhice, está em boa forma física e mental e mais atilada que nunca. Foi conferir na farmácia e havia perdido três centímetros de altura, ciente que com a idade a pessoa encolhe até uns cinco centímetros, ou um pouco mais. Pequenina e sempre bem disposta, nunca a vida lhe pareceu um peso, só reclama os avanços tecnológicos e da ciência que não tornaram o mundo melhor, parece que virou do avesso. O pior é a desesperança, coisa que passou a existir até entre os jovens. No passado a pessoa dizia estar pronta para o que der e vier.
Maria
concorda com a mãe que os mais novos acham que os mais velhos são paranoicos. Atualmente
todo mundo afetado por essa paranoia, tantos são os crimes. Os velhos sendo vítimas
frequentes dos golpistas. Quando o telefone toca, e é um desconhecido, dona
Clara entra em alerta. E quando percebe que a pessoa do outro lado da linha está
tramando algo sinistro, em vez de ficar assustada trata de revidar, aconselha
que se regenere, e teve um preso em condicional, que ficou agradecido pelos
conselhos, disse que ia voltar para a terra natal.
Hoje
é normal que haja medo ao atender um estranho ao telefone, assim como falar com
desconhecido na rua, não faltam casos de gente que cai em golpes, os golpistas
cada vez mais imaginosos. Os bancos passaram a avisar que não pedem número de
conta nem informação alguma para seus clientes. Aconteceu de uma jovem ter
passado para um vigarista todas as suas economias a um simples toque no QRCode.
Vivemos
hoje uma “sociedade tóxica”, o que dizem sobre essa nossa diversidade adversa.
Os mais fracos atacados de todos os lados. Maria questiona para a mãe, como alguém
pode viver do crime e ainda pensar que o luxo de um carrão o faz feliz? Pessoas
más, que roubam e ainda matam. Cometem um crime hediondo e diz que é surto de loucura,
o caso do rapaz que atacou uma escola e matou mais de vinte pessoas numa escola nos
EUA, a mãe dele pedindo que o perdoasse, que ele não era uma pessoa má.
Dona
Clara tem uma explicação para o que está acontecendo com a sociedade, com as
famílias, e seria por falta do amor maternal, filial, as pessoas também sem o
devido amparo social e da religião, como devem ter. Crianças e jovens descuidados,
abandonados, desorientados, que enveredam cedo pelo crime, e acabam criminosos
de alta periculosidade, assassinos, estupradores. Gente que não recebe amor — e
quem não tem, não pode dar.
Maria
está de acordo que só a bondade faz renascer a esperança, a confiança. Procurar
ajudar alguém é o melhor a fazer para levantar a cabeça, elevar o espírito. Uma
boa ação pode, inclusive, ajudar na depressão causada por ansiedade no trabalho,
ou por falta de meio de subsistência e realização, coisa que aflige o indivíduo
e a sociedade. Ser bom dá retorno certo. Uma boa ação é como uma oração. Exemplo
de boa ação é escutar alguém, dar atenção ao que ela tem a dizer. Dar um pouco
do seu tempo ao próximo. Mas que se evite ser invasiva, chata, quando se impõe a fé, o partido
político, e por aí vai.
Dona
Clara sempre diz que quer estar de bem com a vida em respeito a si própria e
aos demais. Gosta de escutar as pessoas, quando elas só querem ser ouvidas, afinal, todos têm o
direito de se manifestar publica ou particularmente. Conta que uma idosa do seu
convívio em criança chamou-a: “Senta aqui, eu estou para deixar vocês!” Apenas
alguns segundo e ela já estava indo embora, quando a tia velhinha certamente ia
falar-lhe do seu amor. Lastima não ter ficado mais tempo escutando o
que sua madrinha tinha a dizer!
Maria
fala para a mãe que havia acabado de ler o livro “O Que Você está Enfrentando” da
escritora Sigrid Nunez, um tanto negativo quanto à velhice. A certa altura um filho
se vê diante das manias de sua velha mãe e lastima: “É tão triste o que acontece
com os velhos.” A seguir diz que preferia morrer a ficar velho. Um disparate
falar assim, pois se os mais velhos são ignorados, lastimados, nada mais vai faltar
para que o pessimismo se instale no mundo. A amiga desse mesmo personagem, convidada
a visitar a mãe do rapaz duvida que signifique alguma coisa aquela visita.
Claro que falta empatia das partes envolvidas. Os velhos querem atenção,
respeito, carinho. Os jovens também.
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