domingo, 12 de junho de 2022

 

                                                     ENVELHECER É VIVER

 

S. LUÍS - MA


Os oitenta anos da mãe de Maria lhe chegaram sem maiores dores que as normais da velhice, está em boa forma física e mental e mais atilada  que nunca. Foi conferir na farmácia e havia perdido três centímetros de altura, ciente que com a idade a pessoa encolhe até uns cinco centímetros, ou um pouco mais. Pequenina e sempre  bem disposta, nunca a vida lhe pareceu um peso, só reclama os avanços tecnológicos e da ciência que não tornaram o mundo melhor, parece que virou do avesso. O pior é a desesperança, coisa que passou a existir até entre os jovens. No passado a pessoa dizia estar pronta para o que der e vier.

Maria concorda com a mãe que os mais novos acham que os mais velhos são paranoicos. Atualmente todo mundo afetado por essa paranoia, tantos são os crimes. Os velhos sendo vítimas frequentes dos golpistas. Quando o telefone toca, e é um desconhecido, dona Clara entra em alerta. E quando percebe que a pessoa do outro lado da linha está tramando algo sinistro, em vez de ficar assustada trata de revidar, aconselha que se regenere, e teve um preso em condicional, que ficou agradecido pelos conselhos, disse que ia voltar para a terra natal.

Hoje é normal que haja medo ao atender um estranho ao telefone, assim como falar com desconhecido na rua, não faltam casos de gente que cai em golpes, os golpistas cada vez mais imaginosos. Os bancos passaram a avisar que não pedem número de conta nem informação alguma para seus clientes. Aconteceu de uma jovem ter passado para um vigarista todas as suas economias a um simples toque no QRCode.

Vivemos hoje uma “sociedade tóxica”, o que dizem sobre essa nossa diversidade adversa. Os mais fracos atacados de todos os lados. Maria questiona para a mãe, como alguém pode viver do crime e ainda pensar que o luxo de um carrão o faz feliz? Pessoas más, que roubam e ainda matam. Cometem um crime hediondo e diz que é surto de loucura, o caso do rapaz que atacou uma escola e  matou mais de vinte pessoas numa escola nos EUA, a mãe dele pedindo que o perdoasse, que ele não era uma pessoa má.

Dona Clara tem uma explicação para o que está acontecendo com a sociedade, com as famílias, e seria por falta do amor maternal, filial, as pessoas também sem o devido amparo social e da religião, como devem ter. Crianças e jovens descuidados, abandonados, desorientados, que enveredam cedo pelo crime, e acabam criminosos de alta periculosidade, assassinos, estupradores. Gente que não recebe amor — e quem não tem, não pode dar.

Maria está de acordo que só a bondade faz renascer a esperança, a confiança. Procurar ajudar alguém é o melhor a fazer para levantar a cabeça, elevar o espírito. Uma boa ação pode, inclusive, ajudar na depressão causada por ansiedade no trabalho, ou por falta de meio de subsistência e realização, coisa que aflige o indivíduo e a sociedade. Ser bom dá retorno certo. Uma boa ação é como uma oração. Exemplo de boa ação é escutar alguém, dar atenção ao que ela tem a dizer. Dar um pouco do seu tempo ao próximo. Mas que se evite ser invasiva,  chata, quando se impõe a fé, o partido político, e por aí vai.

Dona Clara sempre diz que quer estar de bem com a vida em respeito a si própria e aos demais. Gosta de escutar as pessoas, quando elas  só querem ser ouvidas, afinal, todos têm o direito de se manifestar publica ou particularmente. Conta que uma idosa do seu convívio em criança chamou-a: “Senta aqui, eu estou para deixar vocês!” Apenas alguns segundo e ela já estava indo embora, quando a tia velhinha certamente ia falar-lhe  do seu amor.  Lastima não ter ficado mais tempo escutando o que sua madrinha  tinha a dizer!

Maria fala para a mãe que havia acabado de ler o livro “O Que Você está Enfrentando” da escritora Sigrid Nunez, um tanto negativo quanto à velhice. A certa altura um filho se vê diante das manias de sua velha mãe e lastima: “É tão triste o que acontece com os velhos.” A seguir diz que preferia morrer a ficar velho. Um disparate falar assim, pois se os mais velhos são ignorados, lastimados, nada mais vai faltar para que o pessimismo se instale no mundo. A amiga desse mesmo personagem, convidada a visitar a mãe do rapaz duvida que signifique alguma coisa aquela visita. Claro que falta empatia das partes envolvidas. Os velhos querem atenção, respeito, carinho. Os jovens também.

 

 


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