TEMPO DE AGORA
SAUDOSOS TRILHOS DE S. LUÍS-MA |
— Detestável a desumanidade dos nossos dias atuais. Ou então estamos demasiado humanos, e somos detestáveis por isso.
Palavras de Laura naquela tarde de encontro daquela tarde com as amigas. Já estavam confortavelmente sentadas no sofá da sala. Tinham acabado de degustar um café da tarde acompanhado de um delicioso bolo feito em casa, do que se orgulhava Maria, a dona da casa. Depois de alguns segundos de reflexão, Janete responde:
— Hoje não ignorarmos mais nada, sumidades nos tornamos. Mal moderno, que leva o mundo a um estado grave de soberba.
Maria suspira antes de intervir na conversa:
—Nossas cabeças estão cheias, enquanto procuramos a todo custo esquecer de nós mesmos. Ninguém mais pode estar só, não sabe mais pensar por si mesmo. Imperioso participar do jogo coletivo, do ativismo, do anarquismo, do comunismo, e mais. Tem que estar atrelado a qualquer causa, ou grupo. As famílias, desde as crianças, todos engajados. Preparados para as fotos colocadas a seguir nas redes sociais.
Janete volta a falar:
— Não deixar de comparecer aos eventos, em especial, os que arrebanham multidões. Nem pensar em individualidade, em privacidade, quanto mais participação melhor para ter um bom perfil social. Até mesmo os namoros não são mais aqueles antigos encontros entre um homem e uma mulher, mas uma brincadeira infantil a ser compartilhada. Jovens para além da juventude, querem estender ao máximo essa fase, longe das responsabilidades da vida adulta. Nada de compromisso com a maturidade, que parece só existir para a pessoa se amofinar. A religiosidade negligenciada, humilhada.
A bola volta para Maria:
— Pobres e ricos compartilham o mesmo destino. O pobre sem o esforço necessário para sair da situação em que se encontra e poder alcançar uma boa posição na vida. Os ricos arriscando perder o status, ao deixarem o barco de suas vidas correr sem que estejam empenhados no seu comando. Uns esperando o maná cair dos céu, outros sonhando com uma mágica qualquer para . Quando só há um modo de vencer na vida, é com o trabalho, mas não adiante se matar de trabalhar, sem ter paz de espírito. Vencedor é quem se sente feliz com o que faz.
Por último, fala Laura, que deu início ao debate:
—Banais as relações humanas hoje em dia, brincadeira e nada mais, uma infância que não acaba nunca. Sem a poética da relação homem e mulher, como deve ser. “Sem drama”, o que se pedem mutuamente os pares de agora. E assim pretendem levar a vida adiante. Adultos portando-se como adolescentes, livres, leves e soltos. Tudo transitório e incruento, cada um tentando a seu modo ofuscar suas neuroses, na coletividade, no barulho, ou de alguma forma esdrúxula.
Encerram o encontro cantando. As convidadas pegam suas bolsas, e logo depois saem para a noite, que escurece mais cedo naquela época do ano. Estão na Asa Sul. A próxima reunião será na casa de Laura, na Asa Norte.
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