NO JOGO DA VIDA
Maria tem observado que a vida pode ser comparada com um jogo, onde as pessoas fazem suas apostas, com possibilidade de ganhar ou perder.
Os relacionamentos são grandes jogadas, onde às vezes apostamos tudo, com o risco ainda maior. Temos que aceitar, e pagar para ver, consciente que perdendo ou ganhando a gente está vivendo. Bom reconhecer que fizemos o nosso melhor. Ruim é não saber como podeia ter sido. Mas dá para imaginar...
Ela
não ia voltar para o Norte, mas assumia o emprego no Rio, deixando de depender financeiramente da
família numerosa, sendo a filha mais velha. Não ia retornar à casa dos pais
para esperar um marido e ter, no mínimo, uma dúzia de filhos. Ainda correndo o
risco de ficar solteira, como duas conterrâneas da geração anterior, que noivaram
por anos, e os pretendentes as deixaram
por outras. Não desistir do seu sonho de
melhorar seu status social no mundo, como mulher, dona do seu destino, com
dinheiro no bolso, o que até então só acontecia com os homens e as beneficiadas
com heranças. Além do mais, se voltasse
de mãos abanando, iriam achar que ela era uma perdedora, e ainda escutar a irmã
mais nova cantar em debique: “Se subiu, ninguém sabe ninguém viu”.
As
lembranças lhe vinham como em uma folha em branco para ela rever o passado. Aos
dezoito anos estava no Rio, tendo uma boa oportunidade de ser contratada para
trabalhar na “holerite” do BB. A demora em ser chamada era comum, mesmo aos
concursados. Não ia voltar correndo para casa dos pais, com medo de perder um
ano de estudo. Época em que tinha sido vetado às mulheres o concurso para ser
funcionária efetiva da renomada instituição bancária. Mas havia sido avisada
que as coisas iam mudar, e em breve ia ser efetivada, com a mudança das normas
da instituição, que devia se adequar aos novos tempos.
Maria estava feliz, pelo trabalho e também
porque seu irmão mais velho havia chegado a S. Paulo, onde sempre sonhou em morar, na cidade mais rica do país, um outro mundo. E acabara de decidir também não retornar
ao interior de Pernambuco. A noiva, que deixara lá, ao assumir o emprego no
banco, não queria sair da cidade natal, conforme anteriormente combinado. E foi
esse irmão quem deu a notícia para Maria que seu colega do Liceu Maranhense,
antiga paquera da irmã, estava em S. Paulo, também no BB. Ela completando um
ano de trabalho, já funcionária efetivada.
Novembro,
Maria ia tirar férias e aproveitar para visitar o irmão, além de conhecer sua
nova namorada. Ainda podia ter um encontro com o tal paquera. A prima carioca
de Maria ficou animada, e de pronto ofereceu-lhe companhia, também estava de
férias do trabalho no IBGE, ansiosa por conhecer a “terra da garoa”. Combinaram a
viagem para dali uma semana. Malas prontas e lá se foram as duas primas, que já
eram grandes amigas, desde que Maria chegou no Rio.
Já
há dois dias em S. Paulo, Maria ia finalmente encontrar-se com o amigo do irmão,
certa de que o reconheceria. Mas ao
vê-lo descer a escadaria do Masp, local do encontro, teve de imediato a certeza:
ali estava o homem de sua vida. Fazia frio e ele vestia um elegante casaco
preto, os olhos verdes-azulados a brilharem em sua direção, e que dali para frente, sempre haveriam de
brilhar para ela. A prima naquele mesmo ano conheceu Antenor, colega de
trabalho, com quem se casaria no ano seguinte, quando também ocorreram os
outros dois enlaces.
“O que
é o bom para nós, — se ainda não chegou—, está a caminho”, diz sempre Maria.
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