RECONTANDO A HISTÓRIA
S. Luis Ma |
Longe de ser
uma visionária, ou vidente, e sem nenhuma especialidade nesse sentido, Maria apenas
tendo a vontade de conceber outro enredo para si, também para as demais pessoas,
que conhecia de perto. O quanto de mocidade
desperdiçada! Tantas dores poupadas, dramas a
serem evitados. As coisas são como são, mas Maria tenta alcançar além do que a vista alcança. A inércia do passado a incomoda, um bom motivo
para ativar memória e imaginação.
A menina está alegre
com a novidade do altar erguido na sala para as bodas e a mesa de doces com o
bolo de dois andares. No quarto a noiva recebe da madrinha os últimos arranjos na
sua doce imagem, antes da cerimônia. Dia festivo, e porque a tia chora? É
quando vê a noiva correr em direção à porta da rua. Ela fugia do que a angustiava, desde quando
recebeu a notícia que seu noivo havia estuprado uma moça, que estava grávida. Na véspera a mãe da noiva havia queimado velas
na cozinha para as “almas santas vaqueiras”, devoção particular, da qual ninguém
da casa ouvira falar...
Mãe e filha encontraram-se
dias depois na casa de parentes, e juntas resolveram a mudança para o Rio de
Janeiro. Era para onde todos queriam ir, em busca de melhores oportunidades, em especial, para a mulher. Além da maravilhosa paisagem que iam ter
diante dos olhos. Não demorou a moça encontrar
trabalho e logo a seguir, um psiquiatra, ideal para lhe dar amor e curar as feridas da
alma. Também outro e melhor futuro da toalha pacientemente bordada pela noiva,
enquanto esperava pelo noivo traidor. Uma radiosa descontrução do passado, e nunca mais a agonia das tardes silenciosa
da tia de Maria diante da janela, com o bordado no colo.
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