segunda-feira, 2 de junho de 2025

 



       CASA   ASSOMBRADA

 


 

 A casa é uma metáfora antiga para a situação de conforto e proteção do homem. No quadro Rua de Delft o pintor Jean de Vermeer mostra uma  casa antiga, situada numa rua qualquer da sua cidade natal. Como é próprio da pintura  barroca,  vamos descobrir mensagens sobre o lar, à família, e às pessoas individualmente, num contexto social complexo do século XVII, início dos tempos modernos. A tela é tomada pela fachada de uma casa antiga, que está revestida de tijolos unidos por argamassa, onde aparecem defeitos na obra. Duas crianças crescidas estão sentadas na calçada, de costas para quem observa a cena, e parecem brincar, ou fazem alguma atividade escondida. As duas mulheres presentes seriam suas mães, ou parentas; uma sentada na soleira da porta trabalhando com as mãos, ou apenas cochila. Enquanto a outra, no quintal ao lado, está de pé em frente ao tanque. A casa decadênte precisando de reforma. E e vidente o atraso dos seus habitantes, e devem melhor a qualidade de vida. Tanto as mulheres quanto os jovens considerados à época de pouca importância em relação aos homens adultos em suas batalhas, em seus negócios.

 A casa parece abandonada, um lar sem vida, com as janelas serradas e seu interior às escuras.  É também um local de trabalho, mas nota que seu interior falta aquecimento e muita coisa mais. Daí seus habitantes ficarem do lado de fora, ao sol e ao vento. Uma modernidade o pintor tratar do assunto, no caso, fazer crítica à decadência, cuja responsabilidade o pintor de crença calvinista faz cair sobre a fé católica. Bem mais atrás, em Jericó, a primeira cidade de que setem notícia, os homens fabricaram os primeiros tijolos, e as mulheres afeitas à religiosidade. O tijolo que os romanos aperfeiçoaram, assim como a fé - legado do Ocidente cristão. É evidente que a casa, e aqueles seus moradores, estão em situação precária, precisam de mudança em suas vidas, no que o pintor acredita, ou seja, na reforma, a partir do interior dos lares.

Vermmer é otimista quanto ao progresso, distante do pessimismo de Charles Dickens na sua Casa Assombrada, com força de denúncia social. O escritor inglês distante do desencanto de Adorno na seção famosa de Mínima Moralia, intitulada Abrigo desabrigado,  onde fala que “a moralidade seria não estar na casa consigo mesmo”, e compara os males da modernidade com a destruição das cidades europeias pelos nazistas, o que não tem comparação. Para o filósofo de esquerda tudo estaria errado na catastrófica tecnologia, e com ela não haveria modo certo de se viver. O desencanto do filósofo Adorno, assim como o tormento do romancista Dickens, difere do calvinismo e jesuitismo de Vermeer, que expõe a decadência, sim, mas no sentido de reformas, o caso da Reforma protestante, também, a reforma católica, ou Contra-reforma.

A metáfora do tijolo de técnica primária, mas indispensável, assim como as primeiras vivências do lar e da fé.  Ao que se acrescenta a educação formal nas escolas, nas faculdades, hoje em experimentações virtuais nos computadores. Vermeer é adepto da técnica, que fabricava as próprias tintas, com as quais  pinta a casa escondida em Delft, mas  sendo adepto da evolução, faz sua crítica aos que são contra a modernidade. Os males socias escondidos, e que devem ser mostrados, vir à público, para que haja mudanças. No quadro a entrada da casa está pintada toscamente, uma simples caiação. Sepulcro caiado? Era uma acusação contra a fé romana após a Reforma protestante. E a única feição que aparece na tela é um simples borrão, sem olhos para ver, também com os ouvidos moucos, vidas que parecem destituídas de sentido. As mulheres sem efetiva presença, e mais ainda sem futuro, assim como as crianças, que parecem trabalhar no conserto da calçada.

A importância das reformas, das mudanças, em suma, do progresso. O conhecimento tecnológico e científico necessário para o presente, mais ainda para que no futuro os bilhões de habitantes do planeta possam ter casa, serem bem alimentados, vestidos, tratados de suas doenças Também para que os mais aquinhoados habitem belas e ricas casas. Todos os seres humanos com chances de evoluir, tendo o direito básico à moradia digna, à educação e à saúde. E quanto à natureza, que seja preservada para que se possa ter sempre um mundo habitável, e se evitem as catástrofes ambientais.  As cidades contando com projetistas e designer, naquele extraordinário tempo, e que irão realizar no futuro verdadeiros milagres arquitetônicos, inclusive, em simulações nos computadores, até mesmo com a ajuda da IA. Para tanto, que haja racionalidade nas ações, e amor nos corações, para que se possa aproveitar o que a  vida lega ao homem, o que a natureza oferece, passível de modificação para melhor, com auxílio da razão e engenhosidade humanas. E o ser humano possa  ser admirado e não condenado por seus feitos.

Richard Sennet, autor do livro “O Artífice”, parece estar de olhos postos no quadro de Vermeer ao falar das qualidades do tijolo, que seria como a arte barroca, frente às aspirações de grandiosidade do classicismo. No mundo moderno, em seu início, e a partir daí, cada vez mais o homem seja prodigioso em seu trabalho, também generoso, ou melhar, respeitoso, em sua distribuição, conforme o pensar  civilizado, que o levará à realização pessoal, também à coletiva. E pelo que se observa eme Vermeer, não resta dúvida que há necessidade de contínuas mudanças, para que a vida permaneça e não haja morte, como acontece na fame e nas guerras. Não se destrua a natureza que é indispensável ao ser humano. As mulheres e suas crianças sejam vistas de frente, e não estejam escondidas, alienada do mundo. E a vida tenha sentido.  Não falte comida, educação, cultura, principalmente, não falte fé, que ilumina as vidas, para que se produza o bem maior, que é o Amor.   


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