CONVERSA AFINADA
Somos um Estado laico. Mas as ideias se
entrecruzam e devem ser debatidas com todos os membros da sociedade, crentes ou
não. Isso é democracia! A seguir o pensamento de duas grandes autoridades
religiosas sobres assuntos polêmicos, como ateísmo, união homossexual, aborto,
entre outros.
Antes de se tornar papa com o significativo nome de Francisco,
o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, manteve encontros sistemáticos com
o rabino Abraham Skorka, quando então as duas maiores autoridades religiosas da
Argentina trocaram ideias, dialogaram, sobre os assuntos que atualmente causam grande
polêmica, como o ateísmo, celibato dos padres católicos, homossexualismo,
aborto e divórcio. Avaliaram conjuntamente a liberdade moderna sob a luz das crenças
que eles representam, o catolicismo e o judaísmo. A revista Veja publicou
trechos dessas conversas, publicados no livro Sobre o Céu e a Terra, dos quais fiz um resumo.
ATEÍSMO- Uma das questões mais graves
para a igreja católica é o ateísmo que Jorge Bergoglio diz ser uma questão de
honestidade, ou não, de quem se diz ateu, ou apenas agnóstico. Melhor observar
as virtudes humanas dessas pessoas e não condená-las, afinal todo homem é imagem
de Deus, seja crente ou não. O agnóstico mais coerente com essa condição, pois
a fé merece que as pessoas sejam coerentes, duvidando em vez de serem categóricas.
Quanto ao rabino Abraham Skorka, ele é mais duro com o ateu que acredita ser
uma pessoa arrogante, assim como aquele que diz ter certeza da existência de
Deus. Ter fé em Deus não obriga a que se deva provar que Ele exista, o que
seria impossível, como é impossível assegurar que Deus não existe.
UNIÃO HOMOSSEXUAL- Para Skorka o casamento
entre pessoas do mesmo sexo se enquadra numa figura jurídica nova, e não se trata
de uma questão de crença mas de cultura. Em primeiro lugar ter consciência da
disparidade que existe entre o casal homossexual e o heterossexual. A lei judaica é clara, a relação sexual ideal
para o ser humano é entre um homem e uma mulher, base do processo civilizatório,
que tem base antropológica e a nova lei (o casamento homossexual aprovado na
Argentina) não convence o rabino, que aconselha, todavia, o respeito à intimidade
das pessoas. Para Brgoglio temos que falar muito claro nos valores, nos limite,
nos mandamentos de Deus. Do ponto de vista sociológico e antropológico, não é
uma boa coisa equiparar a união homossexual com aquele entre um homem e uma mulher
que tem base na condição natural do ser humano.
ABORTO- O direito à vida é o primeiro dos direitos
humanos, do qual Bergoglio não abre mão. Abortar é matar quem não tem condição
de se defender, e ponto final. Em nenhuma circunstância a igreja católica
aceita o aborto. Skorka fala que, por mais que seja de início apenas uma célula,
ela vai se desenvolver para que surja um ser humano, o que não pode ser
interrompido sob pena de se faltar com o respeito pela vida. Mas no judaísmo é
permitido à mãe abortar quando sua própria vida corre risco e em outras
situações em que a lei permita.
CULPA- Sentir
culpa é normal desde que haja uma transgressão e se precisa pedir perdão, não
para suprir um sentimento religioso, o acontece com algumas pessoas, que
precisam viver em culpa, são “culpogênicas”. Transformam o encontro com a
misericórdia de Deus em algo como ir à tinturaria para tirar a mancha de uma
roupa, degrada as coisas. Skorka cita a
mãe “culpogênica” na cultura hebraica. A essência da concepção judaico-cristã é
acontecer uma mudança íntima após a transgressão, seguida do arrependimento. E
não voltar a cometer o mesmo erro.
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