UM MUNDO
IMPOSSÍVEL
Havíamos
chegado ao melhor dos mundos, afinal. Viveríamos doravante numa sociedade onde
todos teriam seus direitos respeitados, o que se pensava até há pouco tempo.
Ninguém olhava para o outro com desconfiança, pois não havia culpados, só
justos. O contrário do que acontece hoje,
quando somos todos acusados de alguma coisa. Em cada olhar, em cada palavra,
quase sentenças de vida ou morte, pois há os que se intitulam defensores do “bem”
contra o “mal”. Fanáticos levantam bandeiras que expressam sua rebeldia contra
as pessoas comuns, que viraram seres delituosos, inimigos públicos número um,
racistas, homofóbicos, no mínimo, insensíveis aos problemas das minorias. Cada
vez em maior o número os que se acham dentro dessa intrincada rede criada para
acusar, onde ninguém pode se dizer inocente. Bandeiras são levantadas para
infernizar quem cuida do seu trabalho, da sua vida. Formou-se uma legião
infernal de desocupados, em sua maioria. Ou simplesmente pessoas que se
deliciam em passar por bonzinhos, o que o brasileiro adora ser, bonzinho, sem
ter que assumir responsabilidades maiores. Tudo isso estimulado pela
comunicação através da internet.
Militantes de causas escolhidas ao acaso para ocupar
a mente vazia, já que não querem se dedicar a nada mais concreto, como a
família, o trabalho, o estudo, e assim darem sua contribuição para o real bem
da sociedade que dizem abominar. Querem inventar outra vez a roda. Ninguém tem
mais direito a pensar, senão nas coisas apontadas como do “bem”, ou então se
tornam cúmplices do “mal”. Uma liberdade que só serve para a contestação. Isso
talvez seja resultado dos anos de ditaduras, dos totalitarismos, que pairam
sobre o mundo como uma sombra. Seria cômica se não fosse dramática a situação,
com consequências nada agradáveis na vida real das pessoas que querem viver em
paz e não conseguem. Impossível alguém ter tranquilidade, quando pode ser
acusado disso ou daquilo. Ai de quem, por algum motivo, mesmo remoto, possa ter
dito algo incorreto para a cabeça desses tais acusadores de plantão. “Façam o
bem”, postou na internet o terrorista Dzhokhar do atentado em Boston, numa
espécie de aviso prévio para o que ia fazer junto com o irmão mais velho.
Amaldiçoar, até jurar de morte a quem pensa
diferente, é como agem os intitulados rebeldes, que gozam de um prazer doentio
ao apontar esse e aquele de racista, de crueldade com os animais, destruidores
da natureza, inimigo dos negros, dos índios, e por aí vai. Tais defesas seriam
importante, se bem abalizadas, e não fossem feitas por destrambelhados,
principalmente na internet, a distorcerem tudo, por falta de um bom raciocínio. Pensar para que? Coisa que eles evitam é
raciocinar, ter lógica. O bom é reagir a tudo numa confusa mistura de amor e ódio,
espécie de cruzada que movimenta legiões de pessoas a se julgarem autoridade em
tudo. Mas contra os fatos não há argumento, o caso do casamento gay não gerar
filhos. Não adianta colocar o bloco na rua, ou organizar passeatas que não vai
mudar nada. O pior é a vulgaridade da ação, da comunicação. Pessoas há que se
sentem superiores, ao professarem tal ou qual crença. E há os que se põem a defender
causas nobres, esse veio de ouro para os falsos benfeitores da humanidade.
Desse modo estamos caminhando para um mundo impossível, se já não estamos
dentro dele. A menininha Emira Myer, ao
lembrar de Martin, o amigo vítima da
tragédia de Boston, declarou: “Eu nunca sei onde as pessoas da mal estão.”
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