PARABÉNS PARA NÓS, MULHERES, HOJE, E SEMPRE IDGNAS DE APLAUSOS!
DECIDIR - EIS A QUESTÃO
OREMOS PELA SAÚDE DO PAPA!
CURIOSIDADE
Os escritores conterrâneos, Dostoievski
e Tolstoi eram também contemporâneos e rivais. Mentes e almas grandiosas, mas
díspares, jamais quiseram se encontrar. O autor de Crime e Castigo nasceu sete anos antes do escritor de Guerra e Paz, que o ultrapassou em 19
anos. Ambos escreveram suas duas obras primas, seguidas uma da outra; quando o
primeiro terminou a sua, o outro deu início ao seu magnífico trabalho literário.
É de se imaginar que Ressurreição, última obra de Tolstoi, diz respeito a seu oponente, cuja
morte muito o entristeceu, e constatou o quanto eram próximos.
HOMENAGEM ANTECIPADA
8 DE MARÇO — DIA DA MULHER
MÃE CARMEM
Uma mesa de doces sempre recebe
atenção especial nos aniversários, casamentos, ventos sociais — do menos ao
mais badalado. Podem os doces até mesmo a competir em beleza com a
aniversariante, com a noiva, com as celebridades presentes à festa. Hoje em dia
uma boa doceria faz parte do sucesso
dos Cafés, que se espalham pelas cidades, tanto no nosso país, como em todo o mundo. E numa reunião
de amigas a degustação dos doces serve, inclusive, para confirmação das
amizades.
A
vocação do ser humano para os encontros festivos vem de priscas eras, e foi
assim que teria surgido o doce, como arte.
Em S. Luís, capital maranhense, na segunda metade do século passado, o
nome de Carmem Dias destacou-se na
arte de confeccionar doces para festas, por sua criatividade e bom gosto. O
empreendimento teve início em sua casa na Rua das Hortas, de onde se avistava a Biblioteca Pública,
chamado Bolo de Noiva de tanta beleza. E como eram belos e doces aqueles dias. Minha
avó, uma pessoa afeita ao trabalho doméstico, embora, por seus múltiplos talentos,
sua educação e cultura, pudesse destacar-se em profissão de maior realce. Seu
empreendimento transmitido para as gerações seguintes;
É fundamental
para o homem ter uma profissão, e nem sempre foi assim par a mulher, que hoje
em dia se profissionaliza sem problema. No presente momento, Daniela, a bisneta
dessa avó materna, resolveu publicar um livro em homenagem de Mãe Carmem, contendo
algumas de suas receitas, onde também serão revelados alguns dos segredos da
doceira afamada. O legado de uma mulher incansável, por trabalhar praticamente sozinha
no seu fogão a lenha, de onde saíam para o deleite de uma clientela fiel os
mais saborosos doces. E que da casa e da família não descuidava. Em especial, uma
pessoa de retidão de caráter.
Iniciativa
de um livro que é aguardado com alegria por seus descendentes, sabedores do quanto Carmem Dias é uma representante exemplar do sexo feminino, considerada referencial da família.
NÃO MORRA!
Sou
eu mesma, como aquelas casas em ruína, abandonadas, antes de dar a volta por
cima, o que fiz quantas vezes foi preciso. Já a cidade, que aos poucos se desfez,
parece estar definitivamente relegada a um triste fim. À primeira vista parece
que o tempo dela já passou, mesmo que ainda sejam fortes seus alicerces, com as
paredes da frente das casas e sobrados de azulejos quase intactos. Ela mesma
jamais imagina a morte de S. Luís onde viveu parte da sua história e a da
própria cidade. E se existe ganho com a construção da nova cidade do outro lado
da ponte, o quanto se ganharia com a preservação da antiga. Mesmo que nunca seja
a mesma após a reforma, vale a pena
investir nos valiosos bens que se possui por herança, além das
conquistas pessoais.
A Rua
das Hortas desemboca na Praça Deodoro, e no lugar da antiga meia–morada da família, transformada
em bangalô pela sanha reformista dos governos, ergue-se um prédio comercial, assim como a
casa ao lado. A quadra inteira sem os escombros em que se transformaram as casas desabadas nas outras quadras da rua, só uma ou outra salva das garras
do tempo. Atravesso a ponte e já estou na cidade nova, consolando-me com o belo por do sol que vejo da sacada do Hotel em frente ao mar. O mesmo mar onde
jaz Gonçalves Dias, cujo navio
naufragou na entrada de S. Luís, quando o poeta retornava de Europa com seu
canto de saudade: ”Minha terra tem
palmeiras onde canta o sabiá...Não permita Deus que eu morra sem que volte para
lá...” Esse mesmo mar onde também repousa
o comandante das tropas holandesas, que em retirada da cidade após a derrota
para os portugueses teria se jogado no mar, não sem antes proferir a famosa
frase: “Só o mar é um túmulo digno para
um almirante batavo.”
“Não morra!” Digo de coração para a minha amada S. Luís antes de retornar a Brasília. No meu próximo aniversário estarei de volta, como faço todo ano para comemorar o passado, o presente, e a torcer pelo
futuro. Amem!
ARTE
COMENTÁRIO SOBRE O FILME_MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA.
Não li o livro do zautora Tracy Chevalier, que foi adaptado para o cinema por Olivia Hetreed. Não li o livro, mas tenho observações a fazer quanto ao filme, que concorreu ao Oscar 2004 e ganhou nas categorias: Melhor direção de arte, Fotografia e Figurino, prêmios merecidos, e ponto. Mas para quem gosta dos quadros de Vermeer, e também sabe um pouco de sua vida é quase um tapa na cara do pintor. Nem de longe pode o espectador ter uma ideia sobre o pintor de Delft, sua vida, sua arte, ou como teria realizado essa sua magistral obra, como se proõe o filme. Falha em todos os aspectos da vida do pintor, e de como ele realizava suas pinturas. Faz de Vermmer um bobalhão, que vive sob o jugo da mulher, quando na verdade, o pintor teve uma vida tranquila na sua Delft natal, e, pelo que se sabe, vivia bem feliz com sua mulher, assim como com seus 14 filhos, a maioria mulheres, que serviam de modelos para suas pintura. E nunca se ouviu falar que a sogra de Vermeer, mesmo sendo uma mulher rica, fosse essa megera do filme, e sim uma católica devotada. A família era vizinha dos jesuítas, o que teria contribuído para a conversão do pintor do calvinismo para a igreja católica. A propósito, vai abaixo um interpretação livre do quadro MOÇA COM BRINCO DE PÉROLA
MOÇA DE BRINCO DE PÉROLA
Uma luminosa face feminina salta da escuridão no quadro Moça com Brinco de Pérola. Trata-se da obra mais famosa do pintor Joannes Vermmer, que faz parte a extraordinária pintura holandesa do Século XVII. Fiel representante do barroco, o artista de Delft trata de informar, ensinar, criticar, aconselhar, e até mesmo fazer propaganda dos produtos da modernidade, o caso do livro, que se vê em outros dos seus quadros, como nesse está pérola. E como era comum à época o pintor realizava sua obra artística conjuntamente com os membros de uma guilda. No quadro uma moça ocidental está travestida de oriental, e que emerge da escuridão da tela. No passado os cristãos latinos afastaram-se dos ortodoxos, ao fizeram acordo com os invasores bárbaros, ganhando o status de ocidentais, mas teriam entrado na Idade das Trevas. Situação que voltava a acontecer à época da República holandesa, pelos acordos feitos dos ocidentais com a barbárie. O Islã Ocidental chega ao fim, e Vermeer teria, inclusive, feito uma homenagem aos dominadores, que tiveram seus méritos, mas que partem sem deixar ou levar saudade. A cristandade reformada vai seguir rumo à modernidade.
A ruptura entre as duas Igrejas ocorreu pela primeira vez no papado de Leão I (440-461), a fé ocidental disposta a se libertar das heresias, que assolam a fé oriental. Por sua vez, a ortodoxia deseja ver-se livre dos bárbaros com os quais a Igreja de Roma faz acordos, por força das circunstâncias, dando-se o primeiro cisma. O segundo cisma, permanente, aconteceu em 1054, o Oriente outra vez se fecha ao Ocidente, e o alvo é o peripatetismo árabe. Os latinos queriam evitar as heresias que pipocavam no Oriente, mas acabaram filosoficamente empobrecidos em relação aos bizantinos. E o Islã em sua cultura nascente ao tomar conhecimento dos filósofos gregos em esparsos manuscritos preservados pelos monges orientais, os heréticos nestorianos, fizeram os árabes herdeiros do conhecimento, que iriam transmitir aos latinos com a criação do chamado Islã Ocidental. Oriente cristão e ortodoxo outra vez se fecha ao Ocidente, e o alvo é o peripatetismo árabe. Cristão e dialético, o Ocidente batiza Aristóteles, como, séculos antes, havia batizado Platão. Mas para os bizantinos a filosofia continua helênica e, por conseguinte, pagã. Os monges ocidentais, todavia, daí evoluíram em conhecimento, o que levou seus adeptos a se dedicarem aos estudos, à leitura e escrita, com o que se capacitaram para ciência e tecnologia, que veio a se desenvolver no Ocidente. Mestres na escrita, tornaram-se também pioneiros na agricultura, astronomia, economia, e tudo o mais.
TRÊS TIPOS DE PESSOAS
A vida não é fácil, todos sabem disso, e há modos
diferentes de encará-la, de enfrentar as dificuldades. Destinguimos três tipos de pessoas:
1-O desistente - abandona qualquer projeto à primeira
dificuldade, é pessimista.
2- O conformado - satisfeito com a situação em que se
encontra, só pensa em desfrutar a vida como der e vier.
3 O persistente – disposto a lutar ardorosamente pelo
que almeja, é otimista.
TRÊS VIRTUDES ESSENCIAIS
Viva melhor adotando as seguintes virtudes:
1 –
Humildade – posicione-se com empatia diante da vida
2- Coragem – aja com firmeza nas horas difíceis.
3 –
Sabedoria – eleve-se em consciência.
VIDA EM ABUNDÂNCIA
![]() |
PARQUE LAGE - RJ |
Na
década de 50 o jornalista Gondijo Teodoro
falou sobre sua chegada ao Rio para
trabalhar, quando então passou noites dormindo na corda, mas tornou-se famoso e
rico como repórter e por fim, apresentador do Repórter Esso, que era o Jornal Nacional
da época. Situação difícil que muita gente boa enfrentou naquela época e venceu.
É comum ter dificuldade para começar a vida, principalmente em terra estranha, até
mesmo no rincão natal. Ao contrário do repórter da antiga TV Tupi, a bem
nascida Marina Colasanti passou a
infância e juventude com seu único e belo irmão no paradisíaco Parque Lage,
construído por sua família, e que por longos anos viveu numa cobertura de
frente para o mar, até seu recente falecimento. Acontece com raras pessoas. A
premiada escritora lastimou, todavia, quem, por exemplo, se acostuma em morar
nos fundos sem vista alguma.
Não
é questão de se acostumar ou não com as coisas que se tem, ou que se faz, mas ter
a boa vontade, além do requerido talento para realizar o que se quer. Olhar para
frente e não para os lados, no sentido de querer as coisas já prontas, ou iguais
a quem quer que seja. Jamais achar ruim acordar cedo para ir à escola, à
faculdade, ou ir trabalhar. Feliz de
quem estuda, tem trabalho, do contrário, é sinal de que a pessoa deve acertar seus
“ponteiros”. Ter hábitos que levem para frente, e o faça perseverar no bem. Jamais
acostumar-se com o que não presta, como a preguiça, a impaciência, a inconstância,
nem focar no luxo e na vaidade. Ter boa vontade de acertar.
CABELO BRANCO
Até há pouco tempo uma pessoa idosa conservar o cabelo branco era considerado descaso com a aparência. Tal conceito mudou, afinal não tem como enganar a idade, mesmo com os melhores e mais caros tratamentos. Atualmente as jovens senhoras não se constrangem em expor suas madeixas prateadas, com o que elas deixam, no mínimo, de serem escravas das tinturas. Glória Pires assumiu o grisalho, e ficou mais digna de credibilidade, depois do fiasco na sua apresentação do Oscar de alguns anos atrás, quando, ao ser interpelada, se limitou a dizer que não tinha condição de opinar, estando ali para fazer isso. Na ocasião seu cabelo chamava atenção pelo corte, pintura, escova, e ela parecia satisfeita com isso.
O grisalho deu um tom novo a imagem de Glória Pires, ou teria contribuido para isso, mesmo ela sendo uma boa atriz. A velhice tem pouco a ver com os cabelos brancos, pois muitos os têm assim desde jovens, e nem por isso são considerados velhos, até lhes proporciona um certo charme. Charme no homem, pois a mulher tinha que se manter sempre jovem, os cabelos pintados. O certo é que a velhice é para quem desiste de continuar a fazer o que tem vontade, mesmo com as limitações da idade. Sem a juventude, claro, mas com outros ganhos, principalmente empenhados em aproveitar os anos que ainda têm para viver. Mais livres, mais leves e mais soltos, que os idosos se encontrem, achem sempre oportunidade para comemorar a dádiva de terem envelhecido e não mortos.
O SAL
![]() |
S. LUÍS-MA |
Era
um dia como qualquer outro, quando ela cortou o dedo, e sem proteger o
ferimento foi para a cozinha temperar o bife para o almoço. Ao enfiar a mão no
saleiro teve uma dolorosa experiência. Anteriormente havia pensado na fria beleza
do sal, assim como da neve. E quão parecido são o sal e o açúcar, ela pensou,
mas enquanto um salga o outro adoça a comida. Tudo para nos proporcionar prazer
na medida certa, ela pensou.
No
dia seguinte, foi á livraria para o lançamento do livro de contos de um amigo.
Ainda sem esquecer o dia anterior, imaginou que as palavras são como sal, que dão
sabor à vida do leitor, mas também pode lhe doer a alma. A dor faz parte da
vida de cada um, e o mais importante, serve de defesa do organismo. O que os escritores
proporcionam aos leitores com seus textos, através das palavras, que servem, em
especial, para “jogar sal na ferida”. A carne que vai ser tratada, ou ferida
pelo sal. Assim como há as doces palavras, que encantam a alma.
E de nada vale uma montanha de sal, quando
apenas uma pitada é necessária. A pessoa vai comer o bife, não importa o brilho
que emana dos saleiros, ou das salinas, que têm o tom de frieza. E o frio comércio das palavras, o que revela aquela montanha de
livros, que ela via como uma montanha de sal. Um dos chamados escritores
malditos, desses que atiçam os leitores a sentirem dor, um autor premiado, se
empenha para levar a dor ao leitor. Mas não importa o brilho da montanha de sal
nas salinas, como a dos livros nas livrarias, se não há a experiência do amor e
da dor, o tom vai ser sempre gelado. E como quiz dizer o poeta Olavo Bilac, só as
almas sensíveis são capazes de ouvir e
entender estrelas.
RECADO PARA A IRMÃ
![]() |
IRMÃS VAMPIRAS |
Ela confessa para a irmã. Quando éramos jovens, por curiosidade eu te seguia de longe, te via sem saber o que se passava contigo, vivias com nossa avó materna. E porque não estivemos perto uma da outra, eu desconfiava de ti, e tuas amigas católicas, enquanto as minhas eram protestantes, e se tramei contra ti, peço que me perdoes. De repente eu me perguntava: "Para onde será que foi aquela minha irmã mais velha? Hoje sei que não estavas a passeio em outras terras, mas tentavas construir teu futuro. E retornaste para casa antes de alcançares teu intento, a saudade mata, inclusive, as ambições. Daí foi eu que parti, também por pouco tempo, mas se foi a oportunidade de termos uma convivência mais estreita. Já estavas casada.
Tinha o jardim da casa da avó, e era para onde todos queriam ir, só tu moravas ali, mas sei que ela vivia ocupada com suas encomendas de doces, precisou trabalhar depois de perder o marido tão cedo. Eu ia lá em visita de médico, entrava e sai rapidinho, só dava uma espiada básica. Te via estudando, foi quando notei ao teu lado aquela cobiçada caixa de lápis de cor, do que nunca me esquci. Não parava de ir da minha casa para a casa da tia, e também ia à casa dessa avó. Tinha ainda a casa de uma amiga, que era como irmã, onde me sentia em casa na casa dela, e ela na minha. Tuas amigas também gente boa de verdade. E o silêncio que se estendia sobre as coisas horrorosas que aconteciam.
Findos os ciúmes, as desconfianças mútas, eu declaro meu amor por ti, e te chamo, minha irmã. Vem depressa, vem contente, que eu também posso ir correndo ao teu encontro. Não precisas fazer nada, dizer nada. Vem com calma, vem com tua doce presença. Sei que isso pode acontecer, pois estamos vivas, graças a Deus.
Irmã vampiras, nós? Não, carismáticas, com certeza!
Maria pensou, se as almas pudessem permanecer entre os vivos, seriam como borboletas, seus movimentos invisíveis aos olhares comuns, só percebe quem tiver olhos para ver. Borboleta significa ato de renovar, e aquela era uma mulher madura, cheia de vida, que ia dar aquele passo, como que levada pelo bater de asas que conhecia bem. E se olhasse para trás ela ia perceber que a vida não é uma linha reta, tem curvas, tem experiências boas e ruins, e ia se dar conta que serviriam para fortalecer sua alma.
QUE TEMPO GRANDIOSO ESSE!
Ela caminha por aquela rua, tão
familiar quanto estranha, vê uns poucos prédios em processo de restauração, enquanto
a maioria continua em ruínas, como que destruídos por um bombardeio.Apesar de longe
das guerras as residências foram simplesmente abandonadas, enquanto o tempo tratou
de fazer seu trabalho. O calor envolve a cidade, que Maria não se lembra de ser
assim quando na juventude caminhou por aquelas calçadas estreitas, difíceis de andar.
Pensa numa lufada para que tudo voltasse a ser como antes, em vez dessas
misteriosas casas fechadas com cadeado, como se alguém quisesse habitá-las. Mas
ninguém quer morar ali. Falta o vento do progresso, só o calor abrasador, e aquelas ruínas. O suor
escorre por sua face misturado às
lágrimas.
Está no meio da ladeira, fantasmas
passam por ela, como se vivessem ainda aqueles preciosos dias de antanho. Quanto
mistério, que ela não pode de todo decifrar. Restam as lembranças das pessoas especiais
que povoaram sua infância e juventude, e merecem toda gratidão. Do outro lado
da ponte vive-se hoje um tempo soberbo, graças aos generosos dias dessas pessoas
devotadas, e com sua vida exemplar deram a largada para o futuro, e legaram aos herdeiros tudo de bom e de belo que existe. Que tempo
grandioso esse! Bom lembrar, pensa Maria. Mas o passado ficou obsoleto para a
moça dos novos tempos, que fuma e bebe, pensa que suas roupas decidem o valor que
tem, e o dinheiro é mais importante que sua paz de espírito. Já as crianças com
os olhos postos nas telas do computador e celular trocam a atenção dos pais pelo
mundo virtual.
ANJOS E DEMÔNIOS
A essa altura do campeonato, após milhares de anos, o ser humano continua a enfrentar
um jogo duro para a sobrevivência da espécie. A corrida em campo, um número
considerável de gols, sem deixar de acontecer faltas graves e as devidas
expulsões, que começou com Adão e Eva no Paraíso. Daí que o melhor para homem
seria ele próprio traçar seu destino, seguir seu caminho, sem Deus por perto. Geneticamente
privilegiados, dono de uma especial inteligência, e, mais ainda, possuidor da racionalidade, o homem avança culturalmente, desde os primórdios.
Avançou o homem, mais que tudo,
em ambição.
No
presente momento, a questão é para onde nos dirigimos, após essa nossa civilização,
que estaria chegando ao fim. Mesmo gozando as delícias do sucesso material, que
não é irrepreensível, pelo contrário, aos feitos extraordinários se sobrepõem
aqueles que só merecem repreensão. Pesa-nos a grande disparidade social, e,
assim como há os contentes, tem os descontentes com a situação em que se
encontram. E mesmo que saibamos que as pessoas são como são, e as coisas
funcionam de uma forma e não de outra, vale questionar os erros, inclusive, quanto
à destruição da natureza.
E há
quem diga que depois dessa nossa civilização só nos restaria retornar à tribo, ou ao circo, onde as pessoas vivem sem contestar seu lugar, afeitos ao
trabalho que é quase diversão, focado no sucesso comum. Dizem que uma
experiência que deu certo não se mexe, e deveríamos voltar ao viver primitivo para
sermos melhores, mas gentis, universalmente unidos em um desejo comum de viver
em paz. Prósperos em espiritualidade nossos ancestrais viviam longe desse
materialismo destrutivo em que nos encontramos atualmente. O menos que nos
bastaria. Menos é mais.
Exemplo de vida em comum que não é propriamente de uma tribo, nem circense, mas com alguma
semelhança, são as ordens religiosas. Sem esquecer nossa condição humana de
anjos e demônios. E os religiosos, por estarem no lugar certo, e ser quem são, podem
ser considerados anjos. Abrigados em conventos, sem maiores ambição, sem sexo,
simplesmente dedicados ao trabalho social, e a rezar. Pessoas que querem,
simplesmente, a paz, na vivência da fé, em retorno para perto de Deus. Anjos
da paz, enquanto, infelizmente, há os demônios, que se manifestam em várias
frentes, o caso das guerras, tanto as pessoais, quanto as que
ocorrem entre as nações.
NADA
ALÉM DA CIVILIZAÇÃO
Nada
pode existir, doravante além da civilização,certo? Em organização tribal a
humanidade passou milênios. A primeira cidade, propriamente dita, foi Jericó, há
mais de 7000 anos, um experimento social bem sucedido, não apenas de simples caçadores-coletores,
mas de pessoas que tinham uma cultura, o que se pode chamar de civilização,
nome que vem da vida civil nas cidades. Várias
civilizações sucederam-se ao longo dos milênios, e a cada tempo uma determinada
civilização deu origem a uma nova, sua cultura absorvida pela que se seguiu.
Não
mais a tribo, mas um glomerado de pessoas, empenhados
em criar condições de prosperarem em conjunto. Nada é perfeito criado pelo homem, por
melhor que seja a intenção. Com o tempo formou-se uma pirâmide social onde alguns
privilegiados ocupam o topo, seguidos de um número maior de pessoas que conseguem
um bem estar razoável, o meio da pirâmide. Enquanto na base formou-se uma massa
populacional, com pouca condição de atingir níveis mais elevados de vida, e que
não para de crescer. Com todos os defeitos ainda é civilização, graças a Deus.
É a
civilização um invento final, ou não? Se permanecerem as cidades, que ameaçam
sucumbir aos desmandos do homem, sim. Não há como ser diferente, não podemos
voltar atrás, para vida na tribo, nem é aconselhável, já que evoluímos daquele
estágio de vida. Nada além de uma ilusão também querer de repente partir para
algo diferente, pois o melhor é fazer as
mudanças necessárias para que continuemos vivendo como cidadãos dignos desse
nome, em nossas cidades de berço, ou que escolhemos viver, até mesmo em novas
cidades, que surgem para atender à demanda populacional. E que a população cresça
em consciência, mais que em número.
DO VÍCIO E DA VIRTUDE
A vingança
vale a pena? Se alguém pratica um ato que não é do meu agrado, até mesmo que eu
acho reprovável, é correto sair em represália? No caso, só piora a situação, quando o certo é chamar a
atenção, reclamar, sem pensar em dar o troco. Antes entender o que se passou,
se outro agiu por maldade, para causar prejuízo, ofender. Se a pessoa fez algo simplesmente
do seu agrado sem querer causar prejuízo a ninguém. Nada melhor que a conversa amiga. O
ofendido deve refletir se houve dolo, ou foi erro de avaliação, até mesmo um tropeço,
ato não premeditado. Mas, como dizia
minha avó, tem gente que está sempre em pé de guerra.
Há a
virtude do perdão, que está em contraste com o vício de acusar, condenar. Se em
vez de perdoar, uma pessoa, tomada pelo ódio, resolve se vingar, pratica um ato indigno, em qualquer situação. Imagine um casal em que há disputa por
poder, o que pode acontecer de ambos os
lados, ou de um lado só. Mas se um lado prioriza a paz, a casa se sustenta,
ainda que precariamente. Do contrário a perda é total, a casa pode vir abaixo.
Para
que sofrer se a condições humana mira a felicidade?
E que
haja compreensão e não disputa acirrada. Competir, é uma coisa, trapacear é
outra. Competir para ver quem faz o melhor de verdade pela família, pelos filhos, por
si mesmo.
EMPATIA E CAFÉ DA TARDE
elas deram o nome de Clube do Café da Tarde aos encontros que
promovem mensalmente. São mulheres na faixa dos 80, e em plena maturidade, que se
revezam para receber em suas casas as amigas de longas datas. Aproveitam a
ocasião para tratar de assuntos que vão do trivial ao intelectual e filosófico,
sem esquecer a política do momento, tanto doméstica quanto a política exterior.
Formadas em várias áreas, funcionárias aposentadas, preservam o interesse pelo
conhecimento, sempre ligadas ao que se passa em volta. Para cada encontro um tema
entra em pauta, que nesse dia é a empatia estudada por Edith Stein. Dom
indispensável para a convivência, a empatia que diz respeito, inclusive, a essas
pessoas familiarmente próximas, em mente e espírito.
Mariza
juntou-se ao grupo por último, é a mais velha e a mais intelectualizada, quem sempre
traz o bolo, feito por ela mesma. Enquanto as outras colaboram com o repasto da
ocasião. Por ser dezembro, mês de Natal, Maria fez um prato especial, rocambole
de cenoura ralada e queijo, recheado com salmão cru cortado em pequenos pedaços,
com caviar enfeitando o rocambole, o que causou sensação, não só à vista, mas
ao paladar, quando então o marido da neta mais nova brincou: “Caviar, nunca vi,
nem provei, só ouço falar.”
Após
se refastelarem nas delícias oferecidas na casa de Dulce Helena, quem inicia a
conversa é Daisy Dias, ou Dedê como é carinhosamente chamada a filósofa do
grupo, que também se preparou para os sabores, também para a troca de saberes.
— Edith
Stein desenvolveu uma pesquisa fenomenológica sobre a empatia, e diz que “a capacidade
de vivenciar a empatia, ou potência empática, não é algo específico de um outro indivíduo, como uma exclusividade
subjetiva, mas uma vivência universal”. Entendo que devemos saber do homem e
sua essência. O que vocês me dizem?
Cleide,
de pronto, responde:
— Para
entender a filósofa alemã, que subiu ao altar, é uma santa católica, saber que ela
vê na empatia parte da estrutura da pessoa, que além do corpo, tem uma alma, ou
um interior. E quando, por exemplo, vemos o por do sol, escutamos uma música, o
fazemos através da visão e audição, os conteúdos das percepções, das sensações,
vão ser processados no interior, resultando naquele encantamento, naquela
emoção, naquela alegria, que todas nós certamente já experimentamos.
Verônica pede a palavra, e fala da empatia em momento crucial:
— Em relação à familiaridade, à amizade, quando tomamos conhecimento da uma morte, imediatamente nos condoemos. Edith está certa, até mesmo uma pessoa que não faça parte da nossa vida, alargamos nosso eu para sentir sua dor. Com isso podemos falar de um substrato comum, que permite uma identificação vivencial, um compartilhamento, por se tratar de uma experiência essencialmente humana e universal, como é o caso da morte.
Depois
de um tempo em silêncio, afinal nada mais apropriado que refletir sobre a empatia, Maria faz o discurso final de mais um dia especial para todas as presentes:
— Não
há melhor momento para o exercício da empatia que o Natal. E a felicidade
maior é reunir a família, quando os pais enfeitam a casa e se desdobram para
acolher filhos, genros, noras, netos e seus respectivos cônjuges. Festa
restrita, mas de calor redobrado. E a alegria maior é, depois de tudo, avaliar
o grau de empatia e saber que está em alta na família.