quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


                             NEM TUDO VALE A PENA 


       Saber o que vale ou não a pena é dilema na atualidade. Às vezes parecemos crianças, a cada momento tendo de escolher uma coisa ou outra, decidir entre isso ou aquilo, um verdadeiro manancial de ofertas que quase nos tira a razão. Tudo que se põem diante dos nossos olhos, do nosso desejo, que se torna também ilimitado, quase incapacitados de distinguir o certo do errado, o que nos convém ou não, o que é bom e o que não presta. Ainda bem que não se pode ter tudo. Devemos saber de antemão que muita coisa não vale a pena. Pior que não poder ter tudo, ou mesmo ter muito pouco, é fazer escolhas erradas. Além do mais, o que é bom para uma pessoa pode não ser para outra. As escolhas certas é que nos ajudam a viver melhor. Daí se ter de decidir de modo correto o que ter e não ter, o que fazer ou não fazer. 
    A razão deve comandar a vontade. A filosofia moral de Immanuel Kant distingue duas maneiras de a razão comandar a vontade, dois tipos diferentes de imperativos. O imperativo hipotético, sempre condicional, para atingir determinada coisa, e o imperativo incondicional, categórico, que tem sintonia com a razão, fundamentada na moralidade. A razão para Kant é eu ser livre para agir a partir de um imperativo categórico, ou seja, não em interesse próprio, arbitrário. Por exemplo, eu não devo fazer promessa que de antemão não possa cumprir. Sobre o sexo Kant enfatiza a diferença entre a ética do consentimento ilimitado e uma ética do respeito pela liberdade e dignidade dos indivíduos. A autonomia kantiana exige mais do que o consentimento baseado nas decisões individuais. 


        O valor das ações dos seres racionais, que têm dignidade como tal. Somos verdadeiramente livres quando agimos de acordo com a lei moral e universal, quando escapamos dos ditames da natureza e das circunstâncias. Para Kant ser livre é exercer a vontade, fazer escolhas, a partir de princípios não empíricos, ou seja, do domínio inteligível e não do sensível. As ilusões descabidas saem do campo da inteligência para atuar no da incongruência. Já o filósofo utilitarista John Locke, que foi o primeiro a falar do direito da pessoa desde o nascimento, diz: “Todos somos, por natureza, livres, iguais e independentes, situação da qual ninguém pode ser excluído dessa situação e submetido ao poder político de outros sem que tenha dado seu consentimento.” Do lado de Kant, Michael J. Sandel, no seu livro “Justiça”, descarta o consentimento individual de Locke, argumentando que “a autonomia kantiana exige mais do que o consentimento baseado nas decisões individuais, pois não somos apenas um amontoado de preferências e desejos.” 
      As frustrações, desilusões, ódios, que não foram dominados, podem nos levar a agir irracionalmente. Locke inspirou a Constituição dos Estados Unidos, e seu individualismo autônomo nos faz pensar nos massacres ocorridos naquele país, de jovens que invadem escolas para matar outros jovens, até crianças, por acharem que lhes foi negado direitos individuais, mentalidade arraigada nos americanos. Todos com direito de usarem armas para defesa pessoal, individualistas ao extremo, que caçam e são caçados, como se fossem bichos, e não seres humanos. Sem a moral de Kant, a liberdade preconizada por Locke pode ser mal interpretada. Como doeu ver aquele ser tresloucado matar crianças inocentes que fugiam apavoradas sem saber o que acontecia na escola, onde estudavam para ter um futuro. As armas utilizadas pelo assassino eram altamente destruidoras, que a própria mãe colocou nas mãos do filho, por quem foi morta friamente. Pais americanos adeptos das armas que se comercializam livremente no país, um estímulo à violência. E perguntamos: Vale a pena ter armas em casa, mesmo para se defender?
     



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