CENTENÁRIO DE LUIS GONZAGA
Saltar fogueiras, dançar quadrilha, costume dos colonizadores portugueses,
que se tornou popular no Brasil. E nada melhor para animar uma festa junina, já
bem brasileira, do que o baião. Lembro-me daqueles idos de 1950, em que Luís
Gonzaga, “o rei do baião”, com sua cara feliz de lua cheia, cantou no pátio do colégio Maristas, a convite dos
padres e das freiras do Santa Teresa.
Talvez o sanfoneiro não tenha recebido outro pagamento a não ser a alegria de alegrar
a meninada, um presente de Deus:...”Olha no céu meu amor, veja como ele está
lindo... ”Quando eu chego na cancela, minha Rosinha vem correndo me abraçar, é
pequenina, miudinha, mas não tem outra mais bonita no lugar”. Suas canções falam
também da seca inclemente. Contrastava com a música do amargurado Herivelto Martins para provocar Dalva de
Oliveira, e ela respondia na mesma pisada: “Errei sim, manchei o teu Nome”.
Luís Gonzaga
se estivesse vivo faria agora em 2012 cem anos, e podemos compará-lo, em termos
de sucesso, com Roberto Carlos. Cantores que embalam as almas românticas, a das
mulheres, em especial, se bem que muito marmanjo nesse momento pode estar repetindo
para a amada: “Esse cara sou eu”. Um
fenômeno “o rei” Roberto Carlos aos setenta ainda fazer o mesmo sucesso de
tempos atrás. Gonzagão, nos seus últimos anos de vida estava meio esquecido, sendo
substituído com sucesso por Gonzaguinha, o filho carioca, criado no morro de
São Carlos, das canções engajadas, falecido num desastre de carro, amado,
principalmente pelo hino O que É, O que
É? Canção que exalta a pureza da
criança, aquela que existe em cada um.
O centenário
de nascimento do nordestino ilustre está sendo festejado também na tela do
cinema, com o filme de Breno Silveira “Gonzaga - De Pai para Filho”. O mesmo
cineasta que filmou a vida de Zezé Di Camargo, em “ Os Dois Filhos de
Francisco”, em ambos os casos evidente a influência dos pais na carreira dos
filhos artistas. Enredos que pecam, todavia, pelas mazelas exibidas,
sobrepondo-se à música. Luís Gonzaga, que começou a tocar sanfona ao lado do
pai, aparece no filme levando uma surra da mãe, depois sendo expulso de casa, quando
então deixou sua Exu natal, sem suspeitar que iria tão longe e tão alto. No
caso, a vida não imita a arte. O rei do baião andou por esse Brasil embalando
sonhos de felicidade, no entanto, teve ainda de fugir do seu primeiro amor,
pois o pai da moça, político poderoso, quis matá-lo. Casou com sua secretária, primeira
e única esposa até a morte, do que muito se orgulhava.
Segundo o
filme, nos últimos tempos Luís Gonzaga levava uma vida precária numa chácara no
interior, até ser resgatado por Gonzaguinha que já fazia sucesso. Bom mesmo é
ver pai e filho, sem mágoa, cantarem juntos no show que fizeram no Rio de
Janeiro, como mostra o feliz documentário para a televisão, onde podemos
apreciar melhor as canções que embalaram a juventude nos anos cinquenta e
sessenta. A música de Gonzagão e
Gonzaguinha de características diferentes. O nordestino com chapéu de vaqueiro
e gibão cantava o tradicional baião, que surgiu do lundu, para lembrar a seus
conterrâneos - os que se aventuravam no sul do país – a esperança de felicidade
que não deve morrer. As mazelas do sertão e do seu tempo ficam de fora, no que Gonzagão
fez bem, o povo quer é ter essa alegria pura, inocente, acima de tudo.
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