O DIA DO ADEUS
Bento XVI deixa, não por morte e sim de livre vontade, o Trono de Pedro, após oito anos do seu
pontificado, por lhe faltar energia material e espiritual para comandar o
rebanho, o que o papa declarou ao ler sua carta de renúncia dirigida a todos os
membros da Igreja, em especial aos fiéis seguidores do catolicismo, que são
mais de um bilhão em todo o mundo.
Acompanhamos tudo pela TV, até a despedida emocionada do bávaro Joseph
Ratzinger, que passa a ter o título de Papa Emérito. Desde o início Bento XVI pareceu estar
deslocado no cargo, assim como o risonho João Paulo I que não aguentou o peso
da responsabilidade e veio a falecer um mês depois de empossado. A despedida
nesse dia 28 de fevereiro de 2013 foi à
altura do emérito homem de fé e intelectual sério, grande auxiliar de João
Paulo II, a quem sucedeu. Pensar naquele jovem que, por contingência e não por
escolha, fez parte da juventude nazista e se tornou papa é um desafio para a
consciência católica. Um soldado de Hitler? Seria cobrado por isso, também pela
alta capacidade intelectual dentro da fé que abraçou. Tantas vezes posta à
prova, o que certamente fez com que deixasse o posto mais alto da hierarquia da
Igreja Católica, não por covardia, mas para que outro mais apto complete a obra
de renovação da Igreja. O primeiro passo foi dado, desafio imenso para o
sucessor de Bento XVI.
O mal ronda as ações humanas e a Igreja
não está isenta dele, sempre muito assediada pela malignidade. Até um mordomo
apareceu par colocar lenha na fogueira, personagem que fazia tempo não aparecia
na cena do crime como culpado. Foi perdoado, e a partir daí se tornou
necessário averiguar o que estava acontecendo por trás do roubo dos documentos pontifícios,
escândalo apelidado de Vatileaks.
Bento XVI encomendou a três cardeais de sua confiança uma averiguação minuciosa,
e o resultado foi por demais desabonador para o alto clero. Sucumbiu o emérito papa
ante tão triste realidade, de ver os “peixes ruins na rede de Pedro”, conforme
suas próprias palavras, ao expor a triste realidade de sexo, roubo e chantagem
nos corredores e quartos da Santa Sé. Bíblicos
vendilhões, que ainda podem influenciar no conclave que vai eleger o novo papa.
Mas o alerta foi dado, e não poderia vir de forma mais contundente do que a revelação
da malignidade, e consequente renúncia. Como é doloroso aos católicos, e mesmo
não católicos, ver um homem afeito ao saber, às discursões filosóficas, dedicado
a sua fé, a sua Igreja, ser tristemente apunhalado pelas costas, derrubado justamente
por aqueles que dizem acreditar, como ele, em Deus. Mas quanta impiedade!
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