ROMANTISMO VERSUS REALISMO
No passado as uniões estavam mais próximas
do amor romântico, menos sexuais e mais ideais, focadas na felicidade conjugal
e familiar, o que a exigência do sexo pelo sexo não pode realizar. Pura ilusão,
engodo de outros tempos? Em princípio, o que move um homem e uma mulher a se
unir sempre foi instinto sexual, não tem como ser diferente. Mas o casamento acontece
também por outros interesses, quando se
leva em conta, segundo os entendidos, o instinto de preservação, não só da
espécie, mas do próprio indivíduo. Considerada de padrão darwiniano a união com a finalidade da realização
do prazer sexual, consequentemente a perpetuação da espécie. Enquanto seria mais
humana a relação em que são cumpridas regras pré-estabelecidas pela natureza, também
pela sociedade, pela formação pessoal, seguindo uma consciência universal e
própria de cada um. O certo é que risco de ser infeliz só ocorre a quem não
ama. Compreendendo-se que amor não significa simplesmente sexo, pois tem várias
formas de amor: materno, filial, a Deus, etc.
O Primo
Basílio de Eça de Queiroz mostra o olhar crítico do autor para com a
tragédia do romance entre os primos Luísa e Basílio. A tendência do macho seria
a aventura sexual, e se afastar satisfeito em seu instinto, o que acontece
com Basílio, que retorna mais tarde, para encontrar Luísa vivendo o enfado de
sua vida de casada. Eles voltam a se relacionar por conta daquele aventura
romântica da juventude, o que leva Luísa a trair o marido, sendo outra vez
deixada para trás pelo agora amante. A facilidade com que os românticos se
enganam no amor. O drama do romantismo diante da realidade. A traição feminina, além do mais, acontece pelo
caráter do personagem. A realidade de Eça fala para a mulher, romântica
por natureza, que ela não ceda ao oportunismo do homem, nem ao seu próprio
oportunismo. Uma mulher que vai sofrer, por ter traído, principalmente, a si
própria, fracassando em suas uniões, por
falta de sentido para sua vida, que seriam os filhos, uma profissão, religião,
etc. A religião estaria fora para o autor, que se dizia ateu.
O desfeche trágico do romance de Eça teria
sido pelo realismo do escritor, também pela censura, que faz a heroína sofrer até à morte. O controle excessivo da criada, ou da sociedade
preconceituosa, uma primitiva megera, não impediu que Luísa se jogasse numa aventura,
mas fez com que ela morresse de medo e desgosto. Também Capitu de Machado de Assis, cuja traição não é
comprovada, questão de estilo do autor. A dúvida que vai perdurar para sempre
em Bentinho e nos leitores. O inocente Ezequiel, filho de Capitu, seria a
redenção do casal, porém a prova do crime. Machado, todavia, preferiu a
dúvida a uma certeza de difícil comprovação à época. O drama é o mesmo, tanto
de Capitu quanto de Luísa, a traição, que acontece para o bem e para o mal. Só
que Machado colocou um ingrediente importante, a dúvida, antes da ciência, que
na realidade não pode dirimir todas as dúvidas.
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