AINDA NO SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO
Pedrinho
e Narizinho chegam no sítio do Pica-Pau-Amarelo para visitar a avó, dona Benta.
É a nova geração a quem Monteiro Lobato quer mostrar o velho Brasil, tal como
ele é de verdade. Egresso da monarquia, interiorano, agrário, que por pouco
mais de meio século sobreviveu precariamente separada de Portugal. Até a
implantação da República, com o lema Ordem e Progresso, expresso na bandeira,
mas claudicante na vida real. Uma personagem
ganha foro privilegiado na narrativa, Emília, obra da criada do sítio, Tia
Nastácia, que faz a boneca de pano para presentear Narizinho. Mas o que era um
simples brinquedo, por uma pílula mágica do Dr. Caramujo, fruto da nossa
medicina alternativa, se transforma num ser falante, e dana-se a dizer verdades e mentiras, a ditar regras da sua
intuição.
A neta de dona Benta tinha ares de Sinhazinha,
mas que de posse do presente, se vê em papos de aranha para satisfazer os
caprichos daquela imaginação, tão fértil quanto absurda. Enquanto isso Pedrinho,
meio moleque, não para de se aventurar pelo sítio, descobrindo um mundo de
maravilhas, que disputa com Emília o coração daquela turma. Lobato através dessa personagem
folclórica, critica a própria monarquia brasileira e o ideal republicano, de um
povo cheio de invencionices. O futuro da República brasileira nas mãos do Jeca
Tatu, bajulado pela elite, quem podia imaginar?! Pode, sim,
e tudo se concretizar, o Jeca muito bem integrado, sabendo roubar melhor que
qualquer "elite", derrubada numa rasteira de mestre.
A figura do Marquês de Rabicó seria a
pecuária nacional, dado em casamento para Emília, que logo repudia o marido. A
agricultura tem como representante o Visconde de Sabugosa, que a boneca aproveita
para torná-lo seu biográfico. Certo que Monteiro Lobato queria um Brasil que olhasse
para fora, aprendesse com as nações em maior desenvolvimento e experiência,
principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento econômico. O escritor foi, inclusive o idealizador da Petrobrás, essa que está ai vivendo dias
de amargura, e é a maior empresa brasileira. Quanto à nossa cultura popular,
conquanto seja rica, não era suficiente para uma elite que despontava no país.
Acontece do imperador Dom Pedro II se embeber de conhecimento e cultura lá
fora, de certo modo distante do país que governava. E os herdeiros dessa
tradição onde andarão? Também expulsos do país, ou foram engolidos pelo sistema.
Damos um salto e podemos, então, imaginar
os descendentes de dona Benta vivendo no século XXI, com as mudanças exponenciais
que aconteceram. A República consolidada, assim como sua democracia, que de
tempos em tempos sofre percalços. As grandes transformações que ocorrem no mundo,
também aconteceram em nosso país. A mulher fora de casa, competindo trabalho
com o homem, o que muda muita coisa nas relações familiares e na sociedade, que
padece, todavia, de um atraso crônico. E a semente estaria ali, no Sítio do
Pica-Pau-Amarelo, parece de onde não saímos, tais os personagens folclóricos
que atualmente comandam o país. Enquanto isso a elite bate panela, depois de
ser assaltada e levarem quase tudo dela, inclusive a compostura. É bonito isso?
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