EMÍLIA E MONTEIRO LOBATO
Emília,
personagem criada por Monteiro Lobato, é uma boneca de pano, que teima em ser
gente de verdade, mas não passa de uma tosca criação de Tia Nastácia, empregada
de dona Benta no Sítio do Pica-Pau-Amarelo, a partir de uma saia velha,
recheada de macela. Boneca a quem Narizinho quer muito bem e vive a conversar
com ela, tão franca que assume sua pobreza e ainda dela se orgulha. O Brasil partia
do regime monárquico para o republicano, com um povo inculto, sem expressão e sem
voz, e que, de repente, por força de um tal doutor Caramujo, passa a falar sem
parar e sem pensar no que fala, com sua “torneirinha de asneira”. A crítica do
autor é, em especial, ao ufanismo nacional da época, tosco a mais não poder, com
mania de grandeza e ares progressistas, que é só enganação. O progresso aqui
dentro, como um animal que se arrasta na praia, como até hoje, os governos
populistas, colocando pílulas placebos para o povo engolir, as atuais bolsas. Os
brasileiros que patinam na ignorância e atraso, e por conta disso o país não
se torna rico, como pode ser de verdade, por faltar conhecimento, cultura, principalmente,
aos que nela mandam e desmandam.
O conservador autor paulistano, Monteiro
Lobato, era descendente de barão, fazendeiro,
editor e empresário, além de escritor famoso. Menos nacionalista que progressista,
faz crítica feroz à República brasileira, que devia com urgência adotar uma
cultura universal, e empenhar-se em fazer parte do mercado internacional. Hoje estamos
mais universalistas e menos atrasados, conquanto muita coisa tenha que
acontecer, no presente momento, tirar o poder sair das mãos do petismo, que governa
os brasileiro da forma como governaria a boneca de pano. Ela se casa com o marquês
de Rabicó, representante da pecuária brasileira, casamento que não dá certo, lógico. Enquanto isso,
o Visconde de Sabugosa representa a
nobreza falida da agricultura – os atuais pequenos produtores. Escritor compulsório
por ordem de Emília, o boneco feito de sabugo argui sua cliente sobre quem ela era, e recebe
implicante resposta: “Sou a independência, ou morte”. A imaginação irrefreável
de Emília atordoa, mas faz pensar. Sua ousadia em querer renovar símbolos
religiosos e culturais de uma determinada época. Nada que ameace a esperança e
a fé, pelo contrário.
Está aí um cenário perfeito para fazer pensar
o Brasil atual. E é oportuno falar do criador de Emília uma vez que a
Ministra da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, propõe que Monteiro Lobato seja banido das escolas.
Teria ela razão? O bom senso diz que não, tratando-se de um dos maiores
escritores brasileiros, que, no mínimo, faz as crianças gostarem de ler, como
aconteceu com gerações e gerações de seus leitores, alguns que se tornaram
grandes escritores, tal qual o criador de Emília, que fez representar a raça
negra através de Tia Nastácia e a branca, por dona Benta com seus netos Narizinho e Pedrinho,
herdeiros dessa tradição. Enquanto a boneca de pano seria uma audaciosa revolução
política e cultural brasileira, que perdura até hoje.
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