EMPATIA E CAFÉ DA TARDE
elas deram o nome de Clube do Café da Tarde aos encontros que
promovem mensalmente. São mulheres na faixa dos 80, e em plena maturidade, que se
revezam para receber em suas casas as amigas de longas datas. Aproveitam a
ocasião para tratar de assuntos que vão do trivial ao intelectual e filosófico,
sem esquecer a política do momento, tanto doméstica quanto a política exterior.
Formadas em várias áreas, funcionárias aposentadas, preservam o interesse pelo
conhecimento, sempre ligadas ao que se passa em volta. Para cada encontro um tema
entra em pauta, que nesse dia é a empatia estudada por Edith Stein. Dom
indispensável para a convivência, a empatia que diz respeito, inclusive, a essas
pessoas familiarmente próximas, em mente e espírito.
Mariza
juntou-se ao grupo por último, é a mais velha e a mais intelectualizada, quem sempre
traz o bolo, feito por ela mesma. Enquanto as outras colaboram com o repasto da
ocasião. Por ser dezembro, mês de Natal, Maria fez um prato especial, rocambole
de cenoura ralada e queijo, recheado com salmão cru cortado em pequenos pedaços,
com caviar enfeitando o rocambole, o que causou sensação, não só à vista, mas
ao paladar, quando então o marido da neta mais nova brincou: “Caviar, nunca vi,
nem provei, só ouço falar.”
Após
se refastelarem nas delícias oferecidas na casa de Dulce Helena, quem inicia a
conversa é Daisy Dias, ou Dedê como é carinhosamente chamada a filósofa do
grupo, que também se preparou para os sabores, também para a troca de saberes.
— Edith
Stein desenvolveu uma pesquisa fenomenológica sobre a empatia, e diz que “a capacidade
de vivenciar a empatia, ou potência empática, não é algo específico de um outro indivíduo, como uma exclusividade
subjetiva, mas uma vivência universal”. Entendo que devemos saber do homem e
sua essência. O que vocês me dizem?
Cleide,
de pronto, responde:
— Para
entender a filósofa alemã, que subiu ao altar, é uma santa católica, saber que ela
vê na empatia parte da estrutura da pessoa, que além do corpo, tem uma alma, ou
um interior. E quando, por exemplo, vemos o por do sol, escutamos uma música, o
fazemos através da visão e audição, os conteúdos das percepções, das sensações,
vão ser processados no interior, resultando naquele encantamento, naquela
emoção, naquela alegria, que todas nós certamente já experimentamos.
Verônica pede a palavra, e fala da empatia em momento crucial:
— Em
relação à familiaridade, à amizade, quando tomamos conhecimento da uma morte,
imediatamente nos condoemos. Edith está certa, até mesmo uma pessoa que não faça parte da nossa vida, alargamos nosso eu para sentir sua dor. Com isso podemos falar de um
substrato comum, que permite uma identificação vivencial, um compartilhamento,
por se tratar de uma experiência essencialmente humana e universal, como é o
caso da morte.
Depois
de um tempo em silêncio, afinal nada mais apropriado que refletir sobre a empatia, Maria faz o discurso final de mais um dia especial para todas as presentes:
— Não
há melhor momento para o exercício da empatia que o Natal. E a felicidade
maior é reunir a família, quando os pais enfeitam a casa e se desdobram para
acolher filhos, genros, noras, netos e seus respectivos cônjuges. Festa
restrita, mas de calor redobrado. E a alegria maior é, depois de tudo, avaliar
o grau de empatia e saber que está em alta na família.