segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

 


                              EMPATIA E CAFÉ  DA TARDE

 

 



elas deram o nome de Clube do Café da Tarde aos encontros que promovem mensalmente. São mulheres na faixa dos 80, e em plena maturidade, que se revezam para receber em suas casas as amigas de longas datas. Aproveitam a ocasião para tratar de assuntos que vão do trivial ao intelectual e filosófico, sem esquecer a política do momento, tanto doméstica quanto a política exterior. Formadas em várias áreas, funcionárias aposentadas, preservam o interesse pelo conhecimento, sempre ligadas ao que se passa em volta. Para cada encontro um tema entra em pauta, que nesse dia é a empatia estudada por Edith Stein. Dom indispensável para a convivência, a empatia que diz respeito, inclusive, a essas pessoas familiarmente próximas, em mente e espírito.

Mariza juntou-se ao grupo por último, é a mais velha e a mais intelectualizada, quem sempre traz o bolo, feito por ela mesma. Enquanto as outras colaboram com o repasto da ocasião. Por ser dezembro, mês de Natal, Maria fez um prato especial, rocambole de cenoura ralada e queijo, recheado com salmão cru cortado em pequenos pedaços, com caviar enfeitando o rocambole, o que causou sensação, não só à vista, mas ao paladar, quando então o marido da neta mais nova brincou: “Caviar, nunca vi, nem provei, só ouço falar.”

Após se refastelarem nas delícias oferecidas na casa de Dulce Helena, quem inicia a conversa é Daisy Dias, ou Dedê como é carinhosamente chamada a filósofa do grupo, que também se preparou para os sabores, também para a troca de saberes.

— Edith Stein desenvolveu uma pesquisa fenomenológica sobre a empatia, e diz que “a capacidade de vivenciar a empatia, ou potência empática, não é algo  específico de um  outro indivíduo, como uma exclusividade subjetiva, mas uma vivência universal”. Entendo que devemos saber do homem e sua essência. O que vocês me dizem?

Cleide, de pronto, responde:

— Para entender a filósofa alemã, que subiu ao altar, é uma santa católica, saber que ela vê na empatia parte da estrutura da pessoa, que além do corpo, tem uma alma, ou um interior. E quando, por exemplo, vemos o por do sol, escutamos uma música, o fazemos através da visão e audição, os conteúdos das percepções, das sensações, vão ser processados no interior, resultando naquele encantamento, naquela emoção, naquela alegria, que todas nós certamente já experimentamos.

Verônica pede a palavra, e fala da empatia em momento crucial:

— Em relação à familiaridade, à amizade, quando tomamos conhecimento da uma morte, imediatamente nos condoemos. Edith está certa, até mesmo uma pessoa que não faça parte da nossa vida, alargamos nosso eu para sentir sua dor. Com isso podemos falar de um substrato comum, que permite uma identificação vivencial, um compartilhamento, por se tratar de uma experiência essencialmente humana e universal, como é o caso da morte.

Depois de um tempo em silêncio, afinal nada mais apropriado que refletir sobre a empatia, Maria faz o discurso final de mais um dia especial para todas as presentes:

— Não há melhor momento para o exercício da empatia que o Natal. E a felicidade maior é reunir a família, quando os pais enfeitam a casa e se desdobram para acolher filhos, genros, noras, netos e seus respectivos cônjuges. Festa restrita, mas de calor redobrado. E a alegria maior é, depois de tudo, avaliar o grau de empatia e saber que está em alta na família.  

 

 


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