O SAL
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S. LUÍS-MA |
Era
um dia como qualquer outro, quando ela cortou o dedo, e sem proteger o
ferimento foi para a cozinha temperar o bife para o almoço. Ao enfiar a mão no
saleiro teve uma dolorosa experiência. Anteriormente havia pensado na fria beleza
do sal, assim como da neve. E quão parecido são o sal e o açúcar, ela pensou,
mas enquanto um salga o outro adoça a comida. Tudo para nos proporcionar prazer
na medida certa, ela pensou.
No
dia seguinte, foi á livraria para o lançamento do livro de contos de um amigo.
Ainda sem esquecer o dia anterior, imaginou que as palavras são como sal, que dão
sabor à vida do leitor, mas também pode lhe doer a alma. A dor faz parte da
vida de cada um, e o mais importante, serve de defesa do organismo. O que os escritores
proporcionam aos leitores com seus textos, através das palavras, que servem, em
especial, para “jogar sal na ferida”. A carne que vai ser tratada, ou ferida
pelo sal. Assim como há as doces palavras, que encantam a alma.
E de nada vale uma montanha de sal, quando
apenas uma pitada é necessária. A pessoa vai comer o bife, não importa o brilho
que emana dos saleiros, ou das salinas, que têm o tom de frieza. E o frio comércio das palavras, o que revela aquela montanha de
livros, que ela via como uma montanha de sal. Um dos chamados escritores
malditos, desses que atiçam os leitores a sentirem dor, um autor premiado, se
empenha para levar a dor ao leitor. Mas não importa o brilho da montanha de sal
nas salinas, como a dos livros nas livrarias, se não há a experiência do amor e
da dor, o tom vai ser sempre gelado. E como quiz dizer o poeta Olavo Bilac, só as
almas sensíveis são capazes de ouvir e
entender estrelas.
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