quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

 



 

 

                                                         O SAL


S. LUÍS-MA



              Era um dia como qualquer outro, quando ela cortou o dedo, e sem proteger o ferimento foi para a cozinha temperar o bife para o almoço. Ao enfiar a mão no saleiro teve uma dolorosa experiência. Anteriormente havia pensado na fria beleza do sal, assim como da neve. E quão parecido são o sal e o açúcar, ela pensou, mas enquanto um salga o outro adoça a comida. Tudo para nos proporcionar prazer na medida certa, ela pensou.

                 No dia seguinte, foi á livraria para o lançamento do livro de contos de um amigo. Ainda sem esquecer o dia anterior, imaginou que as palavras são como sal, que dão sabor à vida do leitor, mas também pode lhe doer a alma. A dor faz parte da vida de cada um, e o mais importante, serve de defesa do organismo. O que os escritores proporcionam aos leitores com seus textos, através das palavras, que servem, em especial, para “jogar sal na ferida”. A carne que vai ser tratada, ou ferida pelo sal. Assim como há as doces palavras, que encantam a alma.

                E de nada vale uma montanha de sal, quando apenas uma pitada é necessária. A pessoa vai comer o bife, não importa o brilho que emana dos saleiros, ou das salinas, que têm o tom de frieza.  E o frio comércio das  palavras, o que revela aquela montanha de livros, que ela via como uma montanha de sal. Um dos chamados escritores malditos, desses que atiçam os leitores a sentirem dor, um autor premiado, se empenha para levar a dor ao leitor. Mas não importa o brilho da montanha de sal nas salinas, como a dos livros nas livrarias, se não há a experiência do amor e da dor, o tom vai ser sempre gelado. E como quiz  dizer o poeta Olavo Bilac, só as almas sensíveis são capazes de ouvir e entender estrelas.

 


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