REI
LEAR
- ABDICOU DO REINO E FICOU SEM NADA
Lear,
rei da Bretanha, tem a intenção de libertar-se do dever de reinar para gozar os
prazeres da vida, fazer o que quer, com isso resolve dividir seu reino entre as
três filhas. Por sua natureza inculta, afeito à bajulação, o mérito para ele
era ser atendido em suas demandas de atenção e afeto, defesa para sua
insegurança. Antes de fazer a partilha pede que as filhas lhe dirijam algumas palavra,
e quanto maior fosse o sentimento maior seria a generosidade. Goneril, a filha
mais velha, não poupa palavras para exaltar seu amor pelo pai, e conclui: ”Eu
vos amo além de todos os limites possíveis”. Palavras que endossa Regane, a
outra filha, acrescentando mais algumas exaltações de amor ao pai.
A mais nova, Cordélia, testemunha as demonstrações
exageradas de amor das irmãs, e quando é interpelada, opta por nada dizer, apenas
murmura: “Meu amor é maior que minha língua”. Atitude sincera, mas pode conter a
semente do ressentimento, o que as outras interesseiras evitam demonstrar. Além
do mais, “se a pessoa se calar, as pedras falarão.”(Lucas18,40). Um amor
equivocado o de Lear, que se envaidece com as pródigas manifestações de Goneril
e Regane, e resolve fazê-las suas únicas herdeiras. E fica ofendido com o
silêncio de Cordélia, que experimenta a liberdade para calar, em vez de falar, agindo assim, perde a oportunidade de expor o
amor que sente pelo pai. Por conta disso,
Lear amaldiçoa essa filha e a expulsa de sua presença.
Quanta temeridade há em doar tudo
o que se tem, abdicar dos seus direitos, seja em favor, ou em razão do que for.
Uma tal prodigalidade tem sérias consequência, e logo após a doação começaram
as intrigas, não faltando quem queira tirar proveito da situação. O velho rei não
sendo mais o dono de nada é jogado para escanteio, maltratado. Goneril faz do intrigante
Osvaldo, antigo bobo do rei, companheiro
para sua trama contra o pai. Em que reino for, o benemérito pode ser reduzido a
pouco menos que nada. A outra filha, Regane, quando procurada não acolhe o pai,
está de conluio com Goneril. Então, uma sequência de tramas e crimes acontecem.
O rei Lea, por fim, é assassinado,
enquanto procurava reviver a filha, Cordélia, a rejeitada, que havia sido
enforcada, e que se tornara protetora do pai contra as maldades das irmãs. A pouca
aptidão de um rei em reinar, e que abdica de seus direitos em favor de terceiros,
sejam eles quem forem. Tramam os que recebem os bens e seus acólitos. Goneril e
Regane fazem desmoronar o reino, que conquistaram com astúcia. Cordélia, por
sua vez, não pôde desfrutar da estabilidade afetiva, numa relação entre pais e
filhos onde reina a negligência e bajulação, em vez do afeto e atenção. É o que
depreendo desse drama shakespeariano.
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