CORAGEM, CORAGEM!
No
ano anterior Aníbal assumira um emprego fora da cidade natal. Embora feliz com
a independência financeira e a liberdade recém-conquistada, sentia falta da
família e da namorada a quem mantinha assídua correspondência por carta. Estava de volta
para rever a todos e ficar noivo com Maria, e assim foi feito. Lépido e fagueiro como havia chegado dias atrás ia retornar para seguir sua vidinha de solteiro.
“Não
preciso suportar isso”, resmungou o senhor presente à festa de noivado com bolo
e tudo o mais. E com certa dificuldade devido a velhice o tio de Maria levantou-se
para ir ter com o noivo e falar-lhe:
—Não
é justo que você se afaste deixando a moça que acaba de ser pedida em casamento,
e certamente vai ficar triste com a sua partida. Não se for um cavalheiro como
acredito que seja.
O
rapaz titubeou e respondeu:
— Vim para buscá-la. Ao chegar, encontrei-a empolgada com seus
estudos, recuei na minha intenção. Parecia o certo deixar que ela concluísse a
faculdade.
—Bobagem,
você tem que falar com sua noiva para casarem sem mais delongas. Ela poderá continuar os
estudos, ou, se preferir, cuidar da família e ser mãe, como é o mais certo. As idades
de 26 anos para o rapaz e 21 para a moça são ideais para um casal começar vida
nova. Já se conhecem de muito tempo, estiveram todo o ano passado escrevendo
cartas um para o outro, basta. Coragem, meu caro!
Diante
daquela enfática abordagem, o rapaz foi ter com a noiva. Sorrindo arrematou sua proposta:
—Coragem,
minha querida!
Maria
lembrou-se da amiga Amelinha cujo noivo também estava fora e veio buscá-la logo
que começou a trabalhar, não estranhou ter de correr para casar. Sem ter sido
informada pelo noivo de quando ele retornaria, já estava pensando ver as primas
no Rio. Refez os planos, e deu início aos preparativos para o casamento no religioso
com efeito civil, como acontecia na época. Tempos depois diria ao tio:
—Ah
tio Augusto, não fui apenas esposa e mãe, na realidade, meus principais papeis
na vida. Digo ao senhor, que tudo o que eu tinha que fazer eu fiz, e não foi
pouco. Em especial, agradeço a Deus pelos meus 84 anos e por minha família!
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