quinta-feira, 21 de julho de 2022

 



                           CORAGEM, CORAGEM!

 

 


 

No ano anterior Aníbal assumira um emprego fora da cidade natal. Embora feliz com a independência financeira e a liberdade recém-conquistada, sentia falta da família e da namorada a quem mantinha assídua correspondência por carta. Estava de volta para rever a todos e ficar noivo com Maria, e assim foi feito. Lépido e fagueiro como havia chegado dias atrás ia retornar para seguir sua vidinha de solteiro.

“Não preciso suportar isso”, resmungou o senhor presente à festa de noivado com bolo e tudo o mais. E com certa dificuldade devido a velhice o tio de Maria levantou-se para ir ter com o noivo e falar-lhe:

—Não é justo que você se afaste deixando a moça que acaba de ser pedida em casamento, e certamente vai ficar triste com a sua partida. Não se for um cavalheiro como acredito que seja.

O rapaz titubeou e respondeu:

— Vim para buscá-la. Ao chegar, encontrei-a empolgada com seus estudos, recuei na minha intenção. Parecia o certo deixar que ela concluísse a faculdade.

—Bobagem, você tem que falar com sua noiva para casarem sem mais delongas. Ela poderá continuar os estudos, ou, se preferir, cuidar da família e ser mãe, como é o mais certo. As idades de 26 anos para o rapaz e 21 para a moça são ideais para um casal começar vida nova. Já se conhecem de muito tempo, estiveram todo o ano passado escrevendo cartas um para o outro, basta. Coragem, meu caro!

Diante daquela enfática abordagem, o rapaz foi ter com a noiva. Sorrindo arrematou sua proposta:

—Coragem, minha querida!

Maria lembrou-se da amiga Amelinha cujo noivo também estava fora e veio buscá-la logo que começou a trabalhar, não estranhou ter de correr para casar. Sem ter sido informada pelo noivo de quando ele retornaria, já estava pensando ver as primas no Rio. Refez os planos, e deu início aos preparativos para o casamento no religioso com efeito civil, como acontecia na época. Tempos depois diria ao tio:

—Ah tio Augusto, não fui apenas esposa e mãe, na realidade, meus principais papeis na vida. Digo ao senhor, que tudo o que eu tinha que fazer eu fiz, e não foi pouco. Em especial, agradeço a Deus pelos meus 84 anos e por minha família!

 


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