sábado, 30 de julho de 2022

 



                             LEMBRANÇAS

 

S. LUÍS - MA

Maria estava debaixo do guarda-sol a observar filhos e netos irem de um lado para outro no gramado da casa no Lago Sul. A filha mais velha ensinava a sobrinha a nadar, assim como fizera com seus próprios filhos. A criança com apenas dois anos causara um susto ao se jogar na água, onde os mais crescidos brincavam com uma bola. Muito esperta, ela não queria ficar de fora.

“Acho que jamais tornarei a me sentir tão feliz quanto agora”, pensou Maria, olhando para o marido, que observava a algazarra, certamente a  imaginar um poema para escrever, inspirado naquele dia festivo em família, o que acontecia todos os domingos. Falou-lhe:

— Faz bem ao meu coração vê-los felizes.

O marido,  de imediato, responde-lhe:

— No entanto nossa vida hoje é bem diferente da que nós dois  imaginávamos tempos atrás. Queríamos abrir uma escola, construir uma biblioteca para incentivar a leitura, e tudo o mais nas alturas. Estava  pensando sobre isso.

— Sim, meu querido, a vida que temos hoje pode parecer mais egoísta, menos ativa, felizmente, sem esse ativismo, tão em voga. Foi o que nos coube realizar, e estamos bem, obrigados. Só não desistimos das letras,   e escrever é o que mais se aproxima do meu modo de ser atual.

— O sonho do passado de mudar o mundo não mais nos cabe, e sim ajudar as pessoas a pensarem mais conscientemente. Sem interferir demais na vida dos outros, seja filho, neto, ou quem for.

E enquanto o esposo falava, Maria acariciava os cabelos dourados da criança que adormecia em seu colo. “O amor e a dor se entrelaçam”, pensou. Certo que toda a beleza, juventude e amor não podem evitar o sofrimento, mesmo entre os mais abençoados. Os jovens pais mais vivazes agora, e sem se angustiarem, sorriem para vida.

A filha de Maria chega para medir a glicemia do filho. Um inseto estava deixando o neto descontente e a avó trata de espantá-lo, e fala para a mãe, que tranquilamente cuidava do filho:

 —A paciência é importante, e entre as coisas que se carrega pela vida afora o maior peso esteja no que nos fortalece espiritualmente. O imprescindível amor materno, e não se dê jamais espaço para a estupidez, o orgulho e a soberba. Entenda-se que cultura e instrução são bens importantes, mas em nossa alma não falte bondade e paz.           


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