quarta-feira, 15 de outubro de 2025

 


 

 

 

                                                  MINHA TIA II

 

S. LUÍS - MA- FUNDADA PELOS FRANCESES

Quando minha tia conversou comigo pela primeira vez algo havia dado errado para ela,  e  daí para frente não seria nada fácil, haveria grandes dificuldades a vencer. E sempre acontecia de escutá-la  se expressar nesse mesmo sentido e também como uma advertência.  Eu escutava e fingia entender, mas realmente não entendia nada do que ela queria dizer, afinal era sobre sua própria vida, do que ela tinha a maior reserva, eu sabia disso. Só penso que ela, na ocasião, achava que eu teria a oportunidade que ela não teve. Seguia sua vida sabendo que ia vencer os infortúnios. Mas comigo podia ser diferente, o mundo era outro, começavam a surgir oportunidades para a mulher sair do sufoco de um casamento infeliz, que o sexo não era tudo. Uma vida forjada na traição, que nunca prescreve, o que ela devia sentir no fundo da alma.

             Claro que minha tia detestava tudo aquilo que a mulher era obrigada a viver, para ela um filme de quinta categoria, como costumava falar. Amava a tranquilidade e a paz, mesmo com a sobrinha no seu calcanhar, amava aquele tempo de antes.  E lembro o primeiro nascimento que assisti, e foi do primogênito de minha tia, quando escutava da sala a parteira falando no quarto trancado:

            —Força, força. Hora de empurrar com toda força que o bebê está chegando. Daí seguiu uma produção em série. Pondo fim ao sonho da tia estudar na Suíça como fez o tio, e era admirado por esse feito, o primeiro doutor da família e nesse alto nível. Teria lhe faltado coragem, inclusive de por fim àquele casamento. O que aconteceu como a tia seria consequência do destino da irmã, que fugiu de casa para casar. A morte entrando por uma porta e ela saindo por outra. A irmã mais velha estaria apaixonada, ou mais que isso, queria se libertar,  o medo de ficar chorando a morte do pai, com fazia sua mãe, que trancou todas as janelas da casa e proibida a saída dos filhos, a tia ainda criança. Passado os anos a vida para a jovem a vida tranquila, inclusive, vestida pela melhor modista da cidade, o que lhe realçava a beleza. 

            Casada, minha tia seguiu seu destino, afastando o medo, e tudo o mais que impedisse seu sucesso pessoal como esposa e mãe. A barra pesada que carregou,  refletida nos seus últimos anos de vida, mentalmente distante de tudo por conta do Alzaimer.


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