MINHA TIA II
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| S. LUÍS - MA- FUNDADA PELOS FRANCESES |
Quando minha tia conversou
comigo pela primeira vez algo havia dado errado para ela, e daí para frente não seria nada
fácil, haveria grandes dificuldades a vencer. E sempre
acontecia de escutá-la se expressar nesse
mesmo sentido e também como uma advertência.
Eu escutava e fingia entender, mas realmente não entendia nada do que ela
queria dizer, afinal era sobre sua própria vida, do que ela tinha a maior
reserva, eu sabia disso. Só penso que ela, na ocasião, achava que eu teria a
oportunidade que ela não teve. Seguia sua vida sabendo
que ia vencer os infortúnios. Mas comigo podia ser diferente, o mundo era
outro, começavam a surgir oportunidades para a mulher sair do sufoco de um casamento infeliz, que o sexo não era tudo. Uma vida forjada na traição, que nunca prescreve, o que ela devia sentir no
fundo da alma.
Claro que minha
tia detestava tudo aquilo que a mulher era obrigada a viver, para ela um filme
de quinta categoria, como costumava falar. Amava a tranquilidade e a paz, mesmo
com a sobrinha no seu calcanhar, amava aquele tempo de antes. E lembro o primeiro nascimento que assisti, e
foi do primogênito de minha tia, quando escutava da sala a parteira falando no
quarto trancado:
—Força, força. Hora de empurrar com toda força que o
bebê está chegando. Daí seguiu uma produção em série. Pondo fim ao sonho da tia
estudar na Suíça como fez o tio, e era admirado por esse feito, o primeiro
doutor da família e nesse alto nível. Teria lhe faltado coragem, inclusive de
por fim àquele casamento. O que aconteceu como a tia seria consequência do destino
da irmã, que fugiu de casa para casar. A morte entrando por uma porta e ela
saindo por outra. A irmã mais velha estaria apaixonada, ou mais que isso,
queria se libertar, o medo de ficar chorando
a morte do pai, com fazia sua mãe, que trancou todas as janelas da casa e proibida
a saída dos filhos, a tia ainda criança. Passado os anos a vida para a jovem a
vida tranquila, inclusive, vestida pela melhor modista da cidade, o que lhe
realçava a beleza.
Casada, minha tia seguiu seu destino, afastando o medo, e
tudo o mais que impedisse seu sucesso pessoal como esposa e mãe. A barra pesada
que carregou, refletida nos seus últimos
anos de vida, mentalmente distante de tudo por conta do Alzaimer.

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