MINHA
TIA
A lembrança que eu tenho da minha tia é que ela era de poucas palavras,
assim como minha avó, que estava sempre ocupada com suas encomendas
de docinhos para festas, e era viúva. Parcimoniosas em tudo e as frases que
diziam eram avisos “hora de dormir”, “faça suas lições”, “não se esqueça de
tomar banho antes de dormir”. Sempre às mesmas horas do dia. A casa era de um silêncio monástico, e eu como uma aluna interna, vivendo longe de mãe e pai. Absorvia o tempo fora das obrigações
rotineiras a cismar vendo a chuva, que caia quase todos os dias no mesmo
horário, no fim da tarde. Era isso que a vida na ocasião tinha para me
oferecer, inclusive, ver a tia maquiar-se diante de um espelho, ou pintar as
unhas semanalmente com Carmelitinha. Uma tia que casou com um o ficial da
marinha e foi mora na Suécia, país do marido, de onde mandava notícia apavorada
de ter uma filha onde as crianças obrigatoriamente passavam o dia no escolha, e
meninos e meninas tomavam banho junto, e todos nus. Mas estava feliz com tão inusitado
destino. E melhor ainda foi a escolha dele, ao ter uma esposa como minha tia, uma mulher tão especial.

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