terça-feira, 14 de outubro de 2025

 


 

 

                                   MINHA TIA

 

S. LUÍS - MA



A lembrança que eu tenho da  minha tia é que ela era de poucas palavras, assim como minha avó, que estava sempre ocupada com suas encomendas de docinhos para festas, e era viúva. Parcimoniosas em tudo e as frases que diziam eram avisos “hora de dormir”, “faça suas lições”, “não se esqueça de tomar banho antes de dormir”. Sempre às mesmas horas do dia.  A casa era de um silêncio monástico,  e eu como uma aluna interna,  vivendo longe de mãe e pai.  Absorvia o tempo fora das obrigações rotineiras a cismar vendo a chuva, que caia quase todos os dias no mesmo horário, no fim da tarde. Era isso que a vida na ocasião tinha para me oferecer, inclusive, ver a tia maquiar-se diante de um espelho, ou pintar as unhas semanalmente com Carmelitinha. Uma tia que casou com um o ficial da marinha e foi mora na Suécia, país do marido, de onde mandava notícia apavorada de ter uma filha onde as crianças obrigatoriamente passavam o dia no escolha, e meninos e meninas tomavam banho junto, e todos nus. Mas estava feliz com tão inusitado destino. E melhor ainda foi a escolha dele, ao ter uma esposa como minha tia, uma mulher tão especial.


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