CARTAS DE MEU AVÔ
Manuel Bandeira
A tarde cai, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia à minha avó.
Enternecido sorrio
De fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas antes do noivado...
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala...
A mão tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
Diante do lindo
poema postado no Facebook, lembrei das cartas que escrevi ao meu noivo. Nosso
noivado quase todo à distância. Logo que nos casamos ele me mostrou as cartas colecionadas
com todo carinho. Fiquei admirada do que li, crônicas de um ano, em que parecia
nada ter acontecido de importante, no entanto, quantas coisas ali registradas. Não
será possível aos nossos netos lerem as cartas, simplesmente, sumiram. Assim
como as cartas do noivo, registros de uma história de amor, em tão belas e
sensíveis páginas, podem acreditar!
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