domingo, 13 de julho de 2025

 

 

                     SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – PARTE 3



 

                      O teatro grego, composto pela tragédia e comédia, aborda os conflitos advindos das paixões humanas, com personagens mitológicos, contendo cunho moral para servir de catarse. Na antiga Roma o poeta Ovídio trata do amor, como seu  defensor e também difamador, enquanto Cícero era crítico ferrenho do amor estoico, que em seus escritos trata com certo desprezo, ou motejo. A cultura greco-romana por séculos relegada, esquecida, que retorna no Renascimento, quando então o amor volta ao centro do palco da vida, inclusive, através de Bocácio, com suas sátiras divulgadas através da impressão 

                Shakespeare no seu “Sonho de uma Noite de Verão” faz renascer o teatro grego e os sábios da antiguidade  ao tratar do amor em seus vários planos. A confusão que o homem faz com seus sentimentos. O bardo inglês conta na parte principal da peça a história das bodas de Teseu, conde de Atenas, com Hipólita, rainha das Amazonas, que é intercalada com a peça dos artífices, que resolvem participar dos festejos. E é na floresta vizinha que os atores bufões vão fazer seus ensaios, que escolheram ser debaixo do carvalho do duque, o que remete especificamente aos rituais pagãos. Lá reinam Oberon e Titânia como rei e rainha das fadas. Também é  onde habita Puck, um gênio alternativo, trapaceiro, que se infiltra no espírito universalista, causando a maior confusão.

                “É na vivência do real e do sonho que se perde o medo”, são as palavras de Trombudo (o funileiro), um dos atores da peça bufônica, intitulada “A Mui Lamentável Comédia e Crudelíssima Morte de Píramo e Tisbe”. Os outros atores são Novelo (o tecelão), Marmelo (o carpinteiro), Pino (o marceneiro), Flauta (o concertador de foles) e Faminto (o alfaiate). Os personagens representados pelos artífices são Píramo, Tisbe, Leão, Luar, Muro, e outros mais, com os atores a se revezarem na representação. Uma farsa, como fazem questão de declarar os atores, a começar com o Leão, a cargo de Pino, e deve rugir para causar espanto, por ser contra o amor, o prazer, enquanto o Luar, representado pelo mesmo ator, se infiltra por uma janela na sala. E a existência do Muro na representação é porque por uma brecha que os personagens principais Píramo e Tisbe se comunicavam, o que pode se referir, inclusive, ao Muro das Lamentações, em Jerusalém. Paixões que estão sendo posta a prova, e faz sofrer, e, até mesmo, morrer de amor.

                   Puck não está  satisfeito com esses atores ensaiando ao lado da rainha das fadas, ali adormecida, que acorda drasticamente enfeitiçada pelo gênio da floresta, ou da confusão. Intempestivamente acordada a rainha das fadas vê Novelo a sua frente e começa a elogiar-lhe a fala. Titânia encontra-se longe do seu companheiro, o rei Oberon, que surge, e faz Puck justificar a atitude de Titânia estar apaixonada por Novelo, que também enlouquece desse louco amor. E quando Novelo, o chefe dos atores, aparece diante  dos companheiros tem um máscara de burro, por conta do amor burro, isso durante o ensaio da peça. E  na floresta é o local do alternativo Puck, que foge da tragédia da irracionalidade de alguns personagens, e ora é “presunçoso” quanto ao convencional, ora modernamente “ansioso”, conforme lhe dá na telha. A democracia em Atenas, como em todo o mundo, no tempo e no espaço, precisa de movimentos, deve afirmar-se. E agindo conjuntamente razão e sonho possam sobrepor-se às insanidades.  Certo que deve haver um ideal superior para a harmonia social, a estabilidade das instituições, inclusive, no amor, e que o prazer tenha uma justa medida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário