quarta-feira, 16 de julho de 2025

 


 

                                      SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – PARTE 5

 


           Com o conquistador macedônio Alexandre fundem-se as culturas, o que faz Shakespeare criar seu drama, em que Hérmia é a oriental, altiva e impossível de fazer tábula rasa dos seus preconceitos e costumes, enquanto a espartana Helena tem grande beleza e símbolo da luxúria. A essência do helenismo que ambas representam. E já no domínio do Império Romano a cultura helênica persistiu, tornando-se base da formação do homem por séculos, e que renasce no Ocidente após as trevas em consequência das invasões bárbaras , dos povos que desceram das estepes. No drama shakespeariano, depois de toda confusão na floresta, é hora de voltar para Atenas, que está em qualquer tempo e lugar onde a civilização renasce, às vezes das cinzas.

           ”Já possam todos voltar para Atenas”- declara Oberon. E Puck, o folgazão gênio da floresta, retira então a mascara de burro em Novelo, o ator artífice, mas avisa: “ Vai acordar como burro ao natural.”  A filosofia da natureza de Aristóteles não estava ainda bem assimilada. O semi-selvagem  Oberon, na figura do conquistador, mesmo assim ordena que toquem os festejos.  É hora da decantar a glória e as dores das conquistas, inclusive, como fez Camões em “Os Lusíadas”.  Mas em meio aos festejos diz Teseu: “ E como o dia mal começa, meus cães irão cantar para meu amor”.  A semente das dissidências e da maldade, calcada numa floresta de sentimentos contraditórios. E mais adiante a fantasia teutônica iria incendiar a loucura de Hitler e alguns gênios do mal, capazes de perpetrar o genocídio dos judeus, que  morreram aos milhões no Holocausto.

          No contexto humanístico os amantes entram em uma nova fase, e diz Teseu: “Alegria, amigos gentis! Alegria, e a primavera do amor acompanhe vossos corações!” E o que se almeja nessa hora é que os planos de vida se concretizem, na satisfação do corpo e da alma. O materialismo ridículo dos artífices em suas representações bufônicas. “A alma que se eleva, eleva o mundo”, diz Santa Teresinha de Lisieux. Nas bodas em Atenas,  Filostrato é o mestre de cerimônia, que chega para dramatizar o passado e seu renascimento, e apresenta as peças que escolhe para ser representada aos reis, todas recusadas por Teseu, que quer ver a representação dos artífices, na alegação que se trata de uma peça, que mesmo mal representada, reflete as boas intenções daqueles atores, mesmo que seja que seja uma representação inferior às grandes Tragédias. O novo poder civilizatório acha, todavia, que essa nova expressão artísticada merece todo o respeito, por vir de mãos calejadas do trabalho nas artes e ofícios. E quando o prólogo é chamado, declara que estão ali “para persuadir e não para bajular, nem dar prazer”, numa alusão ao método de persuasão de Demóstenes. E são então apresentandos os atores aos nobres presentes ao evento: “Para entristecê-los, eis os atores.” O destino há de se cumprir, em que a arte de viver se manifesta, mesmo  em nível inferior ao que se espera  .


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