SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – PARTE 4
A Grécia é considerada o berço da civilização Ocidental, e Shaespeare rememora a democrática Atenas na noite dos tempos, onde teria ocorrido um sonho de amor. Relembremos os nobres personagens atenienses que, às vésperas das bodas do rei Teseu com Hipólita, rainha das Amazonas. Naquela mesma ocasião o egemônico Egeu, que diz respeito àconquistas marítimas, quer que sua filha Hérmia, apaixonada por Lisandro, se case com Demétrio, que é a paixão de Helena. Diante de tal situação os dois casais vão parar na floresta. Lá os quatro acabam por magoarem-se mutuamente, o que acontece porque por interferência e astúcia de Puck, este resolve confundi-los em seus amores. O chefe dos duendes também faz a rainha das fadas esquecer o rei Oberon a se enamorar do chefe dos artesãos que ali ensaiam uma representação para os festejos das bodas dos reis em Atenas. E fica claro o pouco caso dado pelo bardo inglês aos personagens que representam os ofícios, afeitos à matéria, e pouco dedicados ao espírito.
A ilusão de felicidade nas
terras distantes, na Índia, como na América recém-descoberta, em que o prazer material
entra em cena, conquistas que devem ter
sua concretização na vida adulta, com a maturidade. Diferente do que acontece através
das conquistas no mundo atual, como nosso racionalismo, nossa democracia, nosso
espiritualismo, nosso feminismo. A questão é saber o tanto que Hérmia fará mal ou bem a Demétrio. Paixão e razão que
se defrontam e se encantam, na realidade, impossível conviverem, e requer que o
mundo amadureça. Helena fala com Demétrio sobre Hérmia, ou o tempo anterior à
civilização: “Não te preocupes com ela, deixa-a em paz. Não a defendas pois se houver
familiaridade, qualquer sinal de soberba te sairá caro.” Culturas que se defrontam, como os europeus na América,
que acabaram de descobrir o limbus infantium.
Hérmia transfigurada quer deter Helena, e lhe diz: “Não fuja, não”. Ao que Helena responde: “Não confio em ti, não quero tua maldita companhia”. As duas saem então de cena por não se entenderem. Por fim entra Oberon, o rei das fadas, ou dos “mares nunca dantes navegados”, que ao lado de Puck, o gênio da floresta, ambos dizem que vão apagar os erros cometidos por engano contra Demétrio e Lisandro que trocaram de amores, também com Titânia. E que os casais novamente unidos voltem para Atenas, até que a morte os separe. Oberon avisa que é hora de procurar Titânia para livrá-la da visão disforme do filho indiano, que ela trouxe da fantástica Índia, por quem está apaixonada. Traições em vários níveis. Machado de Assis deixou a dúvida se Capitu traiu ou não Bentinho, o escritor achando melhor não afirmar nada.
Encontros fatídico, como acontece no mundo atualmente, os absurdos cometidos em nome da liberdade, o que as democracias
vigentes não conseguem deter,
inclusive, porque elas mesmas padecem de fatídicas infiltrações.
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