SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO – PARTE
5
É chegada
a hora dos artífices, que se tornaram atores, apresentarem a peça preparada para
os festejos das bodas de Teseu e Hipólita. Os reis de Atenas estão ansiosos
para ver o que acontece no palco, com a prévia intensão de interferir no texto
se necessário. Começa com o Prólogo apresentando os atores: Fio no papel de Píramo,
Flauta como Tisbe, Trombudo como Muro, Faminto como Luar, Funileiro como Leão. O
texto trata de dois amantes ao Luar, separados por um Muro, como um Leão
programado para rugir, podendo até mesmo ferir a personagem feminina. Uma
paixão que envolve os amantes, havendo entre eles um impedimento, e só por uma
fresta no Muro é que os dois se comunicam. Em pleno Renascimento Shakespeare conta
essa história, o que remete à cultura greco-romana, a começar pela fundação de
Roma pelo troiano Eneias, neto de Príamo, o que aconteceu às margens do rio
Tigre. Pode referir-se também à chegada os colonizadores nas terras do Novo
Mundo, onde há feras a enfrentar, inclusive a ferocidade dos aborígenes, sendo
os próprios europeus ferozes conquistadores.
Os sonhos da escuridão da noite, ou sob o
poder do luar, quando surgem as lendas, a fantasia, além dos mistérios da fé. E
para que servem? Certamente para afastar
as paixões exacerbadas, contra os poderes do mal, que pode dominar a humanidade.
A certa altura diz a peça: “Esta é a hora sem lua...” Triste realidade que se
apresenta à mulher, quando as necessidades matérias se sobrepõem a tudo o mais,
e faz o Leão rugir, não sem ao fuçar Tisbe, e cair seu xale, ou sua
feminilidade cair por terra. “Bem rugido Leão!”, exclama Demétrio. O rugido
seria, includive, do Leão de Judá. Mas o Luar continua presente, mesmo
tenuamente, e faz Hipólita, a rainha das Amazonas, exclamar: “Bem iluminada
Lua!” E mesmo que o Leão ruja, que brilhe o Luar, o fato de Píramo não estar ao
lado de Tisbe, torna o mundo ameaçador, principalmente para a mulher. E o
sangue que aparece no xale de Tisbe expressa o sofrimento, inclusive das nações,
dos gêneros e também das raças
ameaçadas. Morre Píramo, o guerreiro, e nasce o penitente, o mendicante, cujo
último suspira: ”Minha alma sobe aos céus!”
O espirito renascentista quis
derrotar o primitivismo vigente, como Atenas derrotou Troia, de maneira
drástica. Um falso suicídio, que merece a crítica de Demétrio: “Não é morrer, é
ser o ás da morte! Ao que Lisandro acrescenta: “Um nada de ás, pois morto ele
já está.” Essa morte pode referir-se à iniciação egípcia de morte e
ressurreição. As orelhas de asno com que Novelo se apresenta em cena, remete ao
polêmico assunto da ontologia. Após o martírio interior, restaurado no mundo do
outro, retorna á antiga condição de “asno”, quando o “ser-em-si” (sein) passa à
esfera do “ser-do-outro” ou “asno”. Hipólita se manifesta mais uma vez: ”Por um
Píramo desse a paixão não deve se prolongar muito. Espero que seja breve.” Uma crítica
da mitologia grega ao Cristianismo, que, todavia, deu origem a uma nova
civilização. Os cristãos divididos em católicos e protestantes. O
protestantismo retornando ao judaísmo em que o masculino se sobrepõe ao
feminino. Já a fé católica guarda devoção à Mãe divina, que ao lado do Filho
inspira o amor, a caridade, a compaixão. Santa Maria como exemplo do feminino
em nível superior. E se é para rugir os católicos tiveram papas com o título de
Leão, e hoje temos o papa Leão XIV.
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