quinta-feira, 24 de novembro de 2022

 


 

 

                                          DOR

 

                                                      “O dia não é hora por hora.

                                                        É dor por dor.”

                                                                                              Pablo Neruda


O recém-nascido chora quando recebe o primeiro sopro de ar em seu pulmão. Dor e vida. Não há vida sem dor, e os dias futuros do ser humano serão vividos “dor por dor”, segundo o poeta. O Choro como característica do ser racional, também o riso. Mas só alguns dias depois de nascido é que o primeiro sorriso se esboça no humano rosto. Muitas as alegrias por viver, mas inúmeras serão as dores.

Maria se lembra de ter dito a uma pessoa zangada que ameaçou largar sua mão em um momento crucial: “Cuidado, não largue minha mão, você pode precisar da mim no futuro.” A cruel dor do abandono, e tantas outras dores, algumas necessárias, que servem de alerta para os males a serem evitados. O espinho, a pedra no caminho, coisas que vão num crescendo, até males maiores. Difícil especificar todas as dores.

Marcas no corpo e feridas na alma. Amenizarmos nossos males é o que nos resta, o que somos capazes de fazer com nossa inteligência e racionalidade. E não são poucas as coisas ruins que criamos, ou provocamos com nossa renitente irracionalidade. Típico dos humanos o poder e  liberdade para pensar e agir, conquanto nem sempre se adquira discernimento e autoridade, e vamos pagar por isso.

Dores há que nos atingem de um jeito tosco, difícil de evitar, e há as dores que podem e devem ser evitadas. Mas, às vezes, somos imprudentes, inconsequentes, o que acontece na mesma proporção do nosso querer, nem sempre racional.  Uma mente mal formada não atenta para seus limites.

Ter ou não ter razã ---  eis a questão.

A consciência racional faz com que se acerte em autenticidade, respeito, amor próprio, humildade, e mais. É o saber viver que resulta numa vida plena, sem que a dor impeça  acontecer a plenitude, mas até propicia, se me amo, e confio em Deus. Certo é que não vale a pena sofrer por tudo o que quer essa nossa alma, às vezes, tão pequena. 


  


terça-feira, 15 de novembro de 2022

 




 

À sombra de Simone Weil

 

                                      ENCONTRO DE RAIZ






Elas voltam a se encontrar depois dos dois últimos meses em que se desenrolou a campanha para o comando do país, numa eleição atípica, com um ex-presidente ainda com pendência na justiça, mas liberado pelo STF para concorrer à presidência com o outro candidato, que pretendia sua reeleição. Insultos de ambos as partes na TV, pareciam dois bandidos a se acusarem mutuamente — comentavam pelo whatsApp as três amigas, Maria, Sofia e Marta.  Agora elas só tinham a lastimar a volta do petista, quando a vitória do outro candidato seria para elas um mal menor.

“A vida continua e bola para frente”, disseram em uníssono, logo que se viram. Encontravam-se sempre em uma cafeteria, excelentes locais em Brasília para as pessoas passarem uma tarde prazerosa. Aquela, em especial, onde Maria inicia a conversa, em um quase discurso, como a ocasião pedia:

 — A compaixão pela família e pela pátria é um sentimento que os brasileiros devem adotar neste momento em que há decepção com o resultado nas urnas. Não perder para esse cruel infortúnio, mas levantar a cabeça e ter esperança na grandeza da alma brasileira, o brilho com que está envolta. E que  os cidadãos dessa pátria amada não deixem de acreditar no futuro.

— Belas palavras, minha amiga — replicou Sofia. Que assim seja, e mesmo acreditando no futuro do Brasil, imagino o que pode advir doravante . Mau maior é esquecer o passado, e as pessoas irem em busca do que lhes possa ofertar em compensação quanto a um novo governo que retorna com  malignas artimanhas. Certo que a corrupção vai continuar.

È a vez de Marta interagir:

— O ser humano tem fome de grandeza, não essa grandeza ofertada aos desafortunados, submetidos a uma condição adversa. Nem o horror do nazismo, nem o calvário do comunismo.  Ambas as ideologias indo contra a racionalidade humana e ferem suas raízes espirituais. Chegamos a um país do absurdo.

Maria voltou a falar:

— Mesmo nas ocasiões mais desafortunadas, como essa em que se encontram os brasileiros no momento, que procurem vivenciar a fraternidade, gerada pela compaixão. Temos uma democracia, mesmo essa nossa, quase anarquia, mas que possa barrar as outras duas malignas opções, o nazismo e o comunismo. O mundo precisa da paz para sobreviver, e não se afogar no caos. Seja na prosperidade, seja no infortúnio, que se adote o sentimento da fraternidade duradoura.  

Sofia vai adiante:

— Que os jovens não percam o direito de levar no coração o sonho do futuro que bem entendam. Que cada um em particular tenha chance de se realizar, mesmo que parcialmente, já que as ambições juvenis, às vezes, sem limites das próprias aptidões, diferentes em cada pessoa. Cumpram-se as melhores expectativas, e a todos se ofereçam possibilidades de ascensão social.  Os vegetais têm as raízes debaixo da terra, os irracionais patinam sobre a terra, mas é superior o enraizamento do homem.

Foi-se a tarde neste encontro de raiz, e elas partiram para suas casas e respectivas famílias, bem mais esperançosas, afinal, para que servem as amizades senão para isso mesmo, dar esperança?




 

 


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

 



 

 

Texto Inspirado em Machado de Assis e Simone Weil

 

                                            

                       TEMPO, TEMPO, TEMPO!


BELEZA E ABANDONO  -  S. LUÍS - MA


Um após outro passam-se os dias, nunca iguais - e ninguém é o mesmo que foi. Maria observa o rosto no espelho, bem diferente de tempos atrás, sem ter como restaurar o semblante sereno daquela moça de antanho. Evidente o desejo que tem de se recompor. E sem medo do eco dessa atual linguagem virtual, criou uma personagem, mais ou menos fictícia, para suas impressões de um tempo sem maiores percalços, como a vida era pensada no passado, difícil que fosse. As pessoas com a estranha mania de serem severas umas com os outras, e nunca "passarem panos quentes", em seja quem for,  até mesmo optar pela santidade, para não se perder. 

Inspiração como oração, intuitiva e de discernimento, pacífica, em vez do discurso sombrio,  criado no vazio das mentes em desesperança. A vida como trama, que costuma deixar fios soltos.  O que importa é perceber,  compreender, ter noção da materialidade das coisas e sua mecânica, também da espiritualidade ter essencial vivência. E o mais importante , não se deixar coagir, nem mesmo ser persuadido por medo, e se  perca em essência. Certo que tudo mudo com o tempo até as pessoas, o que foram e não são mais. A força propulsora que é o tempo, do  qual temos pouco, ou nenhum controle. Mas o que se intui é que o tempo leva a pessoa para onde pretende ir. A inspiração idem. 

Tempo, tempo, tempo, muito tempo, e Maria está naquela idade de rememorar o passado, o que ela faz com certa frequência, a inspiração fluindo no deleite das horas. Lembra da primeira casa própria, que acabou ficando para trás, restando a frustração de não ter realizado com o marido aquele plano  para expandirem a parte lateral  e assim torná-la a casa mais bonita da rua. Classe média, seu capricho  com as residências, as mulheres cuidando com exclusividade da família, satisfeitas em fazer brilhar não apenas a casa, mas, em especial, o marido e os filhos. 

O pioneirismo das jovens como Maria,  em meados do século passado, impulsionadas pelo sonho da realização profissional, que tiveram a influência dos colégios religiosos. As freiras  eram mulheres de fé e avançadas, sim, mas diferente dos avanços atuais. "Casada ou puta", o que diziam à época, o que não era assim. As mulheres solteiras dedicadas ao ensino, e demais trabalhos realizados no interior do lar, mesmo casadas, contribuindo para o sustento da família. Havia ainda a vocação religiosa, como ainda hoje, quando as . mulheres já gozam da liberdade, para serem o que quiserem. Mas têm as que vão para o convento ter um compromisso superior com Deus.  Quem sabe a melhor opção no mundo de hoje?

 Os "testes psicológicos" eram pouco conhecido nos Brasil nos anos 50, e vale ressaltar o pioneirismo da Escola de Serviço Social na capital maranhense, onde as alunas foram submetidas a essa especial técnica, aplicada pela  pela chiquérrima psicóloga Odila Soares, recém-chegada da Sorbonne. Foram ocupadas várias salas  do belo casarão no Centro Histórico, onde funcionava a Escola. O resultado não seria revelado às alunas, certamente para evitar constrangimento, devido aos diferentes níveis intelectuais. Os testes tornaram comuns, conquanto mais ágeis e funcionais, hoje exigido até para a carteira de motorista.

Vejam só, não dá para esquecer, aquela vizinha que mantinha a casa impecável, onde os filhos,  entre dois a sete anos, só entravam para dormir, ficavam o dia todo em outra construção no terreno atrás. Fácil deduzir que a bela casa da frente devia permanecer intocável. Inesquecível a visita dessas três crianças na casa ao lado, onde livres e soltas portaram-se como selvagens, derrubando as coisas, a começar pelo vaso no centro da mesa cujas flores acabaram em frangalhos.  A jovem e inexperiente Maria  ficou chocada com o  vandalismo, fora  prejuízo, Uma experiência que levou-a a   concluir que educar não  é, em tempo algum,  simplesmente reprimir.  


 






terça-feira, 1 de novembro de 2022

 


  

    TEXTO INSPIRADO EM CORA CORALINA

 


S. LUÍS - MA  - CALHAU - 2022


A tua casa é teu mundo particular, faz que seja um lugar onde  estejas confortável e em paz. Decora tua casa de modo que te sintas realmente em casa, com tua família. Foge daquela decoração da moda, mas que te é estranha, pareça exposição de loja. Tenha tua casa um espaço para ler, e também reservar um cantinho para orar e meditar.

A alegria seja a presença constante em teu lar, e não em outro  lugar qualquer. Na mesa da tua casa que sejam servidas refeições elogiadas,    melhores que a dos restaurantes, por mais famoso que seja. Vais ficar ainda mais feliz se foste tu que fizeste a comida, criaste a receita. A roupa de cama e mesa merecem cuidado especial, e que possas mudar o enxoval em pequenos espaços de tempo. Doa o que for reposto, ainda em bom estado.

Renova os estofados, compra móveis novos, se for o caso, ou deixa tudo como está. Mas de vez em quando é bom mudar as coisas, nem que seja de lugar. Na natureza mudam as estações, nós também mudamos, não somos sempre os mesmos. E como é bom mudar de casa, de cidade, refazer planos, conquanto permaneça o melhor de nós!


 




 

                                  UNIÃO PELO DEVER


S. LUÍS - MA  - 1930


 

Os deveres unem os homens de boa vontade, na prestação de serviço à sociedade a que pertencem. Regra básica da vida é a união pelos deveres, enquanto algumas prerrogativas dividem as pessoas.  E no exercício do livre-arbítrio tenha o homem bom senso nas decisões e aja com autoridade. 

Eximir-se dos deveres é para quem não tem consciência. Quando houver incompatibilidade resolver a questão com mais deveres e obrigações. Submissão sem servilismo; obediência sem estar subjugado; razão sem omissão. 

 Tenha o homem esforço a doar, opinião a dar, e saiba o valor que tem. Esteja satisfeito com o que é, e representa. Seja verdadeiro, e não um embusteiro; agradecido, e não um reles ingrato.

Estejam os homens unidos pelo dever, e não se odeiem mutuamente em seus foros. Uma sociedade admirável faculta o respeito e a atenção entre seus cidadãos, que interagem positivamente no  cumprimento do dever.

A vida, mais que nunca, requer comunhão.