segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016






                                                 OSCAR 2016  

 






         Nesta manhã, muitos acordaram, como eu, curiosos para saber os ganhadores do Oscar 2016, os que no Brasil não aguentaram ficar acordados até o fim da premiação. Chris Rock deu início à entrega dos prêmios, o que sempre fica a cargo de um comediante, e não foi diferente, só que desta vez o apresentador focado no racismo não houve concorrentes negros ao prêmio, uma falha da Academia. Por 90 minutos a plateia, de maioria branca, sorrindo amarelo das piadas. Mas a festa continuou como de costume, chata e previsível, salvo poucas surpresas, o caso do filme Spotlight que ganhou duas estatueta, de “melhor filme” e “melhor roteiro”, sobre um tema que causa grande constrangimento aos católicos, a pedofilia. A América protestante lavou a alma, pelos abusos cometidos com crianças americanas por padres do próprio país e estrangeiros.
         O ator Leonardo Di Caprio finalmente recebeu seu primeiro prêmio, aprovadíssimo, ele não é apenas um rosto bonito na tela. Melhor atriz foi para Brie Larson em O Quarto de Jack, baseado na história de uma feminista, que teve como concorrente  a atriz Saoirse Ronan, protagonista do filme Brooklyn; no primeiro filme o clima de extremo conflito homem/mulher, e no segundo de plena confiança. Mad Max foi o mais premiado, com 6 estatuetas ganhas, das 10 que disputava, por razões óbvias. O Regresso com 3 das 12 indicações e Spotlight com 2 dos 6 prêmios que concorria. Lady Gaga causou comoção na plateia com a canção Até que Aconteça com Você (Til it happens to you ) do documentário The Hounting Ground,  sobre uma triste realidade, uma em cinco  universitárias são estupradas até o final do curso. Não faltaram temas polêmicos. O mundo moderno e conflituoso requer cada vez mais sabedoria e boa vontade para conciliar as diferenças, e  Deus ou leis duras para curar a maldade.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016





                               
                                   HORAS DECISIVAS

 
 

DIA 28, DE FEVEREIRO, DOMINGO, FESTA DE ENTREGA DO OSCAR 2016   

HORAS DECISIVAS NÃO TEVE NENHUMA INDICAÇÃO, MAS GOSTEI MUITO, COMENTO SOBRE ELE. DOS TRÊS OUTROS COMENTÁRIOS, DOIS SÃO  CONCORRENTES: O QUARTO DE JACK E O FILHO DE SAUL. QUANTO AO FILME  AS SUFRAGISTAS, LEIAM MEU COMENTÁRI E DEDUZAM.  

         Filmado pelos estudos Disney em 2015, Horas Decisivas é baseado numa história verídica, trata de um naufrágio acontecido em 1952, em que a espantosa força da natureza tem a contrapartida da capacidade humana para vencer desafios. O amor serve de pano de fundo para o filme dirigido por Graig Gillespie. O casal protagonista inicia um romance, que parecia sem futuro, mas a relação prospera, e a moça decide fazer o pedido de casamento ao namorado, enquanto dançam romanticamente numa festa. O rapaz hesita diante do inusitado pedido, que foge as normas estabelecidas, que era o homem tomar a inciativa de fazer o pedido. Mas ele aceita casar, já que mantêm um relacionamento, mais que namoro. É um capitão na Guarda Costeira  e acha por bem pedir permissão do comandante para casar, recebendo, à guisa de resposta, a perigosa incumbência de salvar as pessoas que estão em um petroleiro à deriva no mar, colhido por uma tempestade. Incumbência aceita por Pine, que deve mostrar que estar preparado para assumir responsabilidades, disposto a resolver os desafios  da vida, um grande teste.

            A dignidade da obediência, a capacidade de assumir responsabilidades que o capitão Chris Pine demonstra e sai com sua pequena "lancha de salvamento", e mais dois tripulantes. Em alto mar a coisa não é nada fácil, momentos cruciais, até que cheguem ao petroleiro, ou o que restou dele, apenas uma metade, salva pelo maquinista, atuação de Casey Alffleck, que toma a direção e delibera por conta própria encalhar  num banco de areia.  Dois heróis em ação. O grande petroleiro filmado pela Disney lembra a Moby Dick, a  baleia branca da história de Herman Melville. A baleia do escritor americano representa o capitalismo, sua grandeza, à custa de muitas vidas, vítimas das ambições desabridas e das guerras. No filme, os sobrevivente do petroleiro encalhado aparecem no convés, e alguém diz ao capitão da lancha que não dá para acomodar todos. Mas a ordem é que, ou todos se salvam, ou morrem todos. Um por um os náufragos vão se acomodando como podem na pequena embarcação, que resiste bravamente, e segue viagem de volta. Mas estão sem bússola, e acabam por se perder, difícil encontrar o caminho de volta, mesmo que a tempestade tenha amainado.

          O romance da história tem a noiva que se dirige ao porto para saber notícias,  e tem de enfrentar o descaso dos homens presentes no local e o próprio Comandante que deu a ordem para o arriscado salvamento. Decide então ir até a praia, seguida por uma grande quantidade de carros, que, a seu exemplo acendem os faróis, em direção ao mar. Guiada por aquela providencial luz a lancha de salvamento encontra o caminho e chega em terra firma com todos a bordo sãos e salvos. Qualquer decisão particular, que envolva outras pessoas tem implicações que disso decorrem. Uma mulher independente e corajosa, que delibera sobre sua vida particular, e também passa a ter compromisso pessoal e social, ao lado do homem escolhido. Juntos se salvam e podem salvar outras pessoas, até náufragos em alto mar.  O filme mostra um casal moderno, homem e mulher em consonância. Mesmo que haja na trama um autoritário Comandante,  é importante não questionar a autoridade, e ter responsabilidade. Um tema que vai em direção oposta ao feminismo nas telas do cinema, cuja intenção é denegrir a imagem do homem, que  só faz menosprezar a mulher, na visão feminista.

      O filme As Sufragistas, trata do movimento feminista, quando as mulheres foram às ruas  lutar pelo direito ao voto. Mostrado na tela uma triste história, onde a crueldade masculina chega á raias da loucura, os homens vistos como uma escória. Nenhum que mereça confiança, o que não é bem a verdade. O que existe de promissor no encontro entre um homem e uma mulher, principalmente quando a força do amor une os dois gêneros, com suas diferenças, mas complementares. Homens e mulheres que enfrentaram a vida com coragem e determinação durante a Segunda Guerra, e também depois, quando nosso mundo civilizado teve que rever conceitos ultrapassados, para usufruir em paz os novos tempos. Hoje concedidos direitos iguais para ambos os sexos. Os direitos que as mulheres  reivindicaram, e ainda reivindicam, sem que se anulem os seus deveres. Ambos, homem e mulher, com direitos e deveres. Esqueçamos o feminismo, coisa ultrapassada, como as sufragistas. E aprendamos, isso sim, a votar. Acima de tudo que tenham respeito ao sexo com o qual nascemos.  

            O Quarto de Jack é um filme do irlandês Lenny Abrahamson, baseado no livro da  Emma Donoghue. Uma jovem mulher está encarcerada dentro de um cubículo, com  Jack, a criança que ela teve com seu sequestrador.  Os assistentes confusos sobre o sexo da criança, deduzindo-se que é uma menina tratada pela mãe como menino, que se deduz ser para que ela tenha menos possibilidade de sofrer abuso do pai, que aparece de vez em quando para importunar. Por seis anos  naquele martírio, até que chega a hora da refém pôr em prática um plano para se libertar, no que tem sucesso. Já livre, a mãe continua no seu plano, conforme a frase enigmática ao filho, ou filha, quando lhe diz que ela é quem decide. Menos sobre os cabelos compridos que a criança insiste em preservar. Vista como mãe estremada, mas o desfecho  da trama é polêmico, um abuso, no meu entender. Refém é como a gente também se sente no filme. Assim como em O Filho de Saul, o espectador praticamente refém dentro de um ambiente escabroso, onde os judeus eram despojados dos seus bens e forçados a entrar na câmara de gás.   Sobreviviam os que eram obrigado a trabalhar no local, e um suposto pai resolve enterrar o filho antes que seja  incinerado, saga que acompanhamos aterrorizados. Quando é por uma boa causa tudo bem!...Mas quão irritante é o discurso feminista!

           

        

domingo, 21 de fevereiro de 2016





                          DE BEM COM A VIDA  





O tempo é precioso para definir o ser consciente que somos, com capacidade de discernimento e decisão. Nada que perturbe o santo e sábio crescimento do indivíduo, seu equilíbrio, sua coragem para amassar, assar e servir o bom pão nosso de cada dia, e um pouco mais que isso, desse modo sentir-se realizado e feliz. Cultivar a própria natureza em paz, sem querer achar tão longe as respostas, estando bem perto. Perguntas certas, respostas idem, e se possa ter percepção justa das coisas. Não ter pressa, não ficar a ermo, disponível para tudo, sujeito ao que der e vier. Gosto se discute? As coisas hoje tão confusas no que se refere ao gosto, mas o que importa mesmo é ter gosto pela vida, ter bom gosto.

        Que a vida seja música para os ouvidos, beleza para os olhos, tenha sabor. Sorte tem aquele que não desperdiça os instrumentos preciosos com que pode participar da espetacular orquestra, do concerto que tem a regência do bom Deus, que ama os acertos e é misericordioso para com os erros. Estar de bem com a vida é aceitar o que se tem, por direito e por dever, e  não querer o impossível. Sem perder de vista o sonho da vitória, a principal delas, a paz no coração. A cada tempo vivido, confirmar, ou melhor, realizar uma cerimônia de confirmação dos bens morais. Em suma, ter domínio da matemática, obedecer as regras da gramática, para não errar na escrita da vida, não tropeçar no cálculo dos desejos, e que o balanço feche sem déficit e com um bom superávit.

        Sobre a reportagem de capa da Veja, Geração Pós-Gênero,  jovens leitores acertam em cheio com suas opiniões endereçadas à revista na edição seguinte. Concordo com Viviane Zini, formas diferentes de relacionamento só fazem levar à banalização da relação sexual, e é claro que há o modismo nessa questão. Júlio Cezar Setúbal rebate indignado o fato da sociedade superlativar a opinião juvenil, e que neutralidade de gênero é o mesmo que insistir na inexistência das determinações das leis físicas ou da química, mas na hora do exame de sangue a tabela será do “esquecido” gênero que a natureza determinou, lamentando informar que pau é pau pedra é pedra. Leonardo Caldas saúda a diversidade, que não traga adversidade para nosso mundo e transtorno à vida de outras pessoas, lógico. Artur Nogueira conclui que a geração identificada pela última letra do alfabeto, o Z, é a prova de que o fim do mundo está perto. Sim, jovem Petuel Preda, “o amor não tem sexo”, e porque então insistir numa relação mentirosa? Mesmo a contragosto de alguns, admitamos que temos uma função, um lugar no universo. Podem querer distorcer tudo, mas as consequências serão desastrosas.

 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016





                       TRAIÇÃO E MORTE



 

Emma Bovary sou eu”, declara o mestre do realismo francês, Gustav Flaubert (1821-1880) ao depor no tribunal, acusado de obscenidade no livro Madame Bovary, de 1857, onde o escritor esmiúça a epopeia burguesa de uma mulher que comete adultério. A jovem Emma Raunault  casa-se com Charles Bovary, ambos jovens e  recém-saídos dos estudos, que vão enfrenta a realidade da vida; ele como médico da província, ela esposa e dona de casa. O realismo da narrativa de Flaubert, como se o escritor dissecasse um cadáver, em que a protagonista se transforma. A burguesia em processo de rebaixamento, desde  os massacres de 1848, em Paris. Em cada peito a liberdade desperta/Todos protestamos com vontade” diz Goethe, grande representante da burguesia do século XVIII e XVIX, com laços no século XVI e XVII. A classe da burguesia que em 1789 revoluciona o mundo com o lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”. A tomado do poder por revolucionários que leva à trágica morte do casal real, Luís XVII e Maria Antonieta, seguida da desordem em todo o país. As cabeças dos nobres rolam com o fim da monarquia, assim como logo iriam rolar a dos “cabeças” do movimento.
“Flaubert resume um tempo histórico: o isolamento na mediocridade, a atmosfera asfixiante em que a vida se transforma. Sem direção, nem propósito, roubada de qualquer idealismo, onde toda esperança é mera ilusão”, diz o professor de literatura inglesa e americana da USP, Marcos Soares, vendo no romance de Flaubert uma grande tragédia burguesa. A burguesia que é a classe dominante nas sociedades capitalistas, típico da classe burguesa a civilidade e responsabilidade, sem heroísmos. Burguesia igual a cidadania. Houve, todavia, um rebaixamento geral, com a massificação do gosto , com mercantilização da arte, mortal do ponto de vista da criação artística. O artista desce de posição, baixa de nível, como se diz modernamente. Antes de Madame Bovary, Flaubert publica a obra prima, A Educação Sentimental sobre um jovem provinciano, Frédéric Moreau, que vai para a revolucionária Paris em busca de fortuna. Já Emma Bovary, filha da burguesia decadente, educada pelas repressoras freiras, trata de driblar as freiras suas educadoras, lendo romances, e lá fora se deixa levar pelo ambiente ideologicamente dividido.
A mesma traição  da Bovary seria a literária perpetrada por Flaubert, que se propõe um ascetismo radical. A traição e consequente expiação de culpa, justa para a época. O ímpeto humanitário-revolucionário da sociedade francesa, adoece de morte, a paixão abstrata trai o espírito burguês, realista, anti-ideal. “O espírito do real é verdadeiro ideal”, continua Goethe. Difícil entender a alma francesa da época e mais ainda a burguesa e reformada Alemanha que se deixou levar pelo idealismo de Hitler, seu misticismo, sua loucura, que pregava coisas totalmente fora da ética burguesa. No livro Anna Karenina, também acontece  a traição e consequente morte da protagonista. O drama psicológico e familiar de Leon Tolstoi, que a certa altura transcende para abarcar o momento histórico da Rússia. Os padrões morais opressivos faz com que aconteça a traição. O dilema sem solução, que é a paixão daquela mulher pelo conde, seu amante, e a impossibilidade de continuar a ter vida feliz ao lado do filho. A consciência religiosa de Tolstoi pode ser confrontada com a do ortodoxia de Dostoievski.
Não há o sacrifício supremo da morte em Crime e Castigo, o que faria um criminoso se transformar em mártir. O crime perpetrado pelo rebelde e contraditório Raskolnikov, e a futura tomada de consciência do crime cometido e sua punição. Tolstoi em Ressurreição, concluiu em 1899, aos 71 anos, aceita que é próprio da natureza humana a transgressão, o que nem a esfera familiar, nem o amor pode evitar. Há todavia o perdão redentor, uma vez  que a rebelião pode ser justa contra o domínio do que está acima, na vida social e pessoal. O escritor justifica, por exemplo, seu interesse em negociar os direitos autorais, antes abandonado, mas que serviria de ajuda à emigração dos isolados dukhabors. Flaubert pensa no compromisso que se tem para com o outro, assim como o artista para com sua arte, sob pena de morrer de remorso. O romancista não estava mentindo quando declarou “Madame Bovary sou eu”. 

 

COLABORAÇÃO PARA O "CLUBE DO LIVRO" DA ABACE, QUE HOJE COMENTA MADAME BOVARY  DE GUSTAVE FLAUBERT

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016





                                     QUARESMA

 
 



Entramos no tempo da Quaresma, para o catolicismo, os quarenta dias que precede a Páscoa. Finda a folia do carnaval, bom fazer um balanço dos acontecimentos, as Escolas de Samba do Rio e São Paulo deslumbrando a plateia com seus luxuosos desfiles de reis, rainhas, deuses, demônios, palhaços, bichos de espécie variadas, celebridades e anônimos de todas as camadas sociais. A Mangueira ganhou o título de campeã carioca, merecidamente. A verde e rosa esteve impecável, e com respeito apresentou um inédito sincretismo: santa Maria católica ao lado da deusa do candomblé, Oiá. Abandonada a nudez, característica dessas apresentações de uns tempos para cá, o que só merece elogio e mais palmas. Em todo o território nacional, o povo brasileiro - no papel de super-homem em saúde e animação - brincou sem parar, ninguém preocupado com os problemas financeiros, nem com medo do mosquito Aedes aegypti. Mas chegou a hora de retornar ao comedimento, ao pão nosso de cada dia, ao trabalho, cada um com sua fé. Com tal espírito dou continuidade ao meu blog.

Nem tudo que aumenta o prazer está isento de perigo, ao contrário, são coisas perigosas, na maioria das vezes. O que é normal, ou anormal, dependendo da cultura, do conceito que se tem da natureza humana. A fé cristã e sua concepção de santidade, diferente do assolamento eufórico que pode levar a pessoa, no mínimo, a uma ressaca, igual um ébrio depois da bebedeira. Nos Evangelhos, exemplar a santa e sóbria ceia, com o pão distribuído irmãmente entre os apóstolos, que iriam continuar a missão do Mestre. Pão e vinho que alimentam o corpo, como a fé piedosa alimenta a alma cristã. A espiritualidade como meio de elevar a alma, não adoecê-la, nem rebaixá-la. Não querer banquetear-se, os desejos atiçados e as possibilidades intelectuais e psíquicas exploradas sem comedimento. Há crenças que faz apologia da morte, um crime grave. Até mesmo a prática de simples transgressões, meras travessuras, mas de péssimas consequências para a vida pessoal e social.

A Bíblia, livro sagrado do judaísmo, conta a história de alguns homens de espírito superior, José, por exemplo, personificação da supremacia moral, não a racial. O filho de Jacó obediente ao seu Deus. Diferente do super-homem idealizado por Nietzsche, que bendiz o eterno retorno, com a afirmação dionisíaca: ”Eu te amo ó eternidade!” Teria o autor de Assim Falava Zaratustra dado força a Hitler e sua ideologia racista. Mas é pela boca do demônio que fala o visionário niilista Kirilov: “E então surgirá um novo homem e tudo se renovará”, no livro Os Demônios do ortodoxo  Dostoievski. Para o escritor russo o eterno retorno é “tédio obsceno”. Modos díspares de sentir a vida, o religioso e profano. E antes que vençam as trevas e morra a espiritualidade, sejam as almas tratadas das alteração do espírito, ou doença saúde mental e psicológica.  

Comedimento, sobriedade, do que o mundo atual precisa, tão cheio de apelos, de coisas, no mínimo, badulaques. Deixamos de amar as pessoas como elas são de verdade, de apreciar nossa casa e a beleza do lugar em que vivemos. Perdemos até o amor pela vida, e passamos a esconder nossa própria natureza humana. Temos que reaprender a amar, a distinguir o que é bom, daquilo que nos assola, e desse modo possamos ter paz na terra como no céu, e consequente felicidade.  Nem retornar, nem avançar, sem antes fazer um balanço de tudo, ver a situação do nosso tempo. No momento atual, em constantes guerras. O extraordinário avanço tecnológico, todo o progresso, nada foi capaz de promover a concórdia entre os povos, a paz mundial. Um sério exame de consciência é o que de melhor pode ser feito para seguir em frente. Individualmente refletir, confessar os pecados ao padre antes da comunhão é um bom começo. Fazer contrição de fé em Deus, cultivar nossa humanidade.

     

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016






                            
                              CASTIGO DOS DEUSES

         


 

         Todos os anos, no verão, o Brasil recebe a visita de turistas, também nos bate à porta o mosquito aedes aegypti, que neste ano de 2016 trouxe o vírus zika, causador da microcefalia em bebês.  Mesmo assim os brasileiros estão vivendo um carnaval animado, espécie de compensação para a ameaça que ronda sua saúde, o pouco que se pode fazer, melhor relaxar e gozar. Relaxar é nosso forte, e por conta disso estamos ameaçados da colossal epidemia que se avizinha. Resta cada um tratar do seu quintal, evitar poças d´águas, lixo, onde a chuva possa empoçar, usar repelente e por aí vai. A onda vai passar, sempre passa, e tudo parece que volta ao normal. A ignorância, a incompetência, o descaso, uma doença crônica dos brasileiros.

       E dizer que a Finlândia um dia foi aqui! Sim, tínhamos educação, cultura, ciência, que se fazia questão de igualar às melhores do mundo. Só se falava aqui no Águia de Haia, o nosso Rui Barbosa. O mesmo que acontecia com o brasileiro, Santos Dumont, inventor do avião. Os brasileiros faziam bonito lá fora como cientistas, inventores, homens de letras. Hoje só notícias péssimas, e outra espécie de vírus afronta nosso depauperado país, que pode chegar a um mísero patamar educacional no cenário mundial. Querem implementar nas escolas brasileiras um currículos, que exclui toda a história ocidental, para dar lugar unicamente ao Brasil africano e ameríndio. O ufanismo calcado em ideologias canhestras. O projeto de lei já está no Congresso.
       Para não esquecermos nossas origens, o mosquito transmissor da zika está reinando entre nós. O nome é de uma floresta na Uganda, onde  o vírus teria surgido, e ora atinge em cheio os brasileiros, já um número assustador de vítimas do mal. Nada pior que uma epidemia desse porte, só comparado ao vírus HIV, também vindo da África. Se temos que aprender sobre o continente de onde surgiu nossa espécie, por que não começar pelo zika?... Não cuidamos da educação, da saúde, dos valores essenciais ao ser racional, civilizado. A Organização Mundial de Saúde deve declarar “emergência internacional de saúde”, igual a 2014 com o vírus ebola.

     Ano da Olimpíada, e corremos o risco de muitos visitantes desistirem de vir ao Brasil, o que constitui um castigo dos deuses olímpicos contra nossa bárbara  empáfia. A cultura grega da formação do ser civilizado que somos, pensante, consciente, produtivo, deixa de existir, assim como Idade Média e o Renascimento, se for aprovado o projeto que tramita no Congresso. Mas não passará. Recebe críticas abalizadas, como do historiador Antônio Carlos Villa: "É um desserviço. É uma proposta panfletária, anticivilizatória. Há um conjunto de erros, mas o mais grave é que apaga nossa tradição, nossa formação, aquilo que é fundamental para a compreensão do Brasil de hoje".  Tramam jogar sobre nosso país os vírus da descrença, da ignorância, do descaso, da alienação. Não à toa que aedes aegypti zomba de nós.