quinta-feira, 30 de agosto de 2018












            Cecília Meirelles - “Viagem”







      







MÚSICA

“Noite perdida,
não te lamento:
Embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento.

Puro e sem nada,
 rosa encarnada,
intacta ao vento.

Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,

e ressuscitada...
Asa da lua
quase parada,

mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua

a minha vida
num chão profundo!
— raiz prendida

a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,

muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada.

Ao tempo lento...
Minha partida,
minha chegada,

é tudo vento...

Ai da alvorada!
Noite perdida,
 noite encontrada...

                          

                         Adélia Prado - “Bagagem”:













.......
“Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
a sensibilidade sem governo.
Mas tenho meu pranto,
Claridades atrás do meu estômago humilde
 E fortíssima voz para cântico de festas.”
            (verso extraído do poema Com licença Poética)
........
“Mas, o que eu sinto escrevo. Cumpro a sina,
inauguro linhagem, fundo reinos,
(dor não é amargura)
minha tristeza não tem pedigree.”
                 (verso extraído do poema Grande Desejo)
.......
“Quero comer bolo de noiva,
puro açúcar, puro amor carnal
disfarçado de corações e sininhos:
um branco, outro cor-de-rosa,
um branco, outro cor-de-rosa.”
                    (verso extraído do poema Confeito)




terça-feira, 28 de agosto de 2018






               DA FALA 
                E DO SILÊNCIO




Duas amigas encontram-se para estudar, a prova final era sobre a comunicação na vida moderna, estabelecem a seguinte fala: 

 - O Silêncio nem sempre tem o respeito que merece, mas nunca foi tão odiado, como acontece hoje em dia.  Minha amiga, não se você concorda comigo mas o silêncio passou a ser sinônimo de vazio – inumano, aterrador. E o barulho tomou conta da humanidade, que me parece em estágio avançado, ou em plena decadência.  Para os homens das cavernas certamente que o barulho, e não o silêncio, causava estranhamento. Na era do ouro da humanidade homem pouco falava, a linguagem restrita, e qualquer barulho era sinal de inimigo por perto. Evoluímos, aprimoramos, pela fala, e os medos foram embora. Hoje tagarelamos sem parar e nada mais nos assusta.

- Concordo, e digo mais, tempos atrás os pais ensinavam as crianças a ficarem quietas, sossegadas, difícil para quem está descobrindo o mundo, e o barulho faz parte da vida infantil. Uma contradição, mas quando as crianças ficavam quietas era mal sinal. O silêncio era suspeito. Hoje o que se exige das crianças é que se movimentem sem parar, os pais inventando atividades variadas para manter os filhos ativos. Ou em desassossego?

- Desassossego, sim, e cito T.S. Eliot, que orou: Ensina-nos a estar em sossego. Teria o poeta detectado o perigo da obsessão pelo movimento no mundo moderno?  É coisa nova as pessoas serem levadas a estar em contínua atividade, querendo ser vistas, o que exige uma avantajada autoestima, coisa dos novos tempos.  Acharmos que somos merecedores de admiração, elogios, erro que vem da infância,  pais elevando a autoestima das crianças, em detrimento do esforço que elas possam ter em realizar seus deveres. A autoestima lá no alto, mas o quer reina é a confusão, a incerteza, a astúcia. Não há como voltar à certeza, à simplicidade, à inocência. Na descrença, o absurdo é o novo sublime. A vida contemporânea oferecendo esplêndidas oportunidades de vivenciar o absurdo, o caso da exposição do queermuseu.

- Pensamos em elevar nossa autoestima e tudo o mais nos será dado por acréscimo. Ou nos rebaixamos para nos manter em evidência, o que na atualidade significa estar vivo.  A comunicação, ou a solidão. Mas é preferível a solidão, do que estar em ação, lutando contra moinhos de vento, navegando contra maré, afogando-se num mar de lama. Gente que pensa assim manter alavancada uma soberba autoestima. Solidão, não no sentido arcaico de ascetismo, de se deslocar para algum deserto, se enfurnar por aí. A comunicação aleatória, e da sujeira figurada da pornografia partir para a sujeira de verdade. Ter amor próprio para com ele melhor comungar ideias, pensamentos e nobres interesses. 

- Não sei se você soube, mas uma pesquisa atual avaliou que a autoestima da pessoa alcança seu auge aos 60 e permanece assim até os 70, depois decai drasticamente, até os 90. Em se tratando da autoestima, é bom que se diga, quando sabemos que autoestima é diferente do amor próprio, que permanece estável, a partir do momento em que se forma. O amor próprio faz a pessoa ter responsabilidade pessoal, ser focada na eficiência, sem  se descuidar das deficiências, para corrigir e superar. Libertar-se, no sentido de amar o que se faz e, em especial, amar o silêncio e a quietude. Voltar a viver como se estivéssemos numa nova era do ouro, será possível? 

                Após a fala acima, quedaram-se as duas amigas em obsequioso silêncio.



Nota: Texto inspirado no livro A Era  da Loucura  do irlandês Michael Foley.
 Subtítulo: Como  ao mundo moderno 
tornou a felicidade uma meta 
(quase ) impossível)







sexta-feira, 24 de agosto de 2018






                                        DAS   IDEIAS





                    “O que move o mundo não é o amor, mas são as ideias”, frase que a tia escutou a sobrinha-neta falar, assim que ela chegou para sua visita costumeira. A moça extraíra a frase do livro Focados, Gananciosos e Eficientes”, de Vijav H. Vaitheeswaran, conselheiro do Fórum Econômico Mundial. Estudante de administração ela logo pensou em debater o assunto com quem afirmava ser a força do amor capaz de mover montanhas. E o mundo, tia? Para aquela tia sua sobrinha era representante fiel da nova  geração, a cabeça a mil por hora, disposta a se empolgar com qualquer novidade. Mas a mocinha ficasse sabendo que ideias nunca faltaram, mesmo quando não havia computador, internet, nem os modernos meios de comunicação à disposição. "Sim, minha cara, sempre soubemos o quanto as boas ideias são importantes, fazem a diferença."
                 
                  E lá foram as duas elucubrar sobre o mundo moderno, de portas abertas para a imaginação. As inovações pululando, desde meados do século XX, e não mais pararam de surgir novidades. "Há, as ideias, como elas mexem com a gente." Era preciso, sim, cada vez mais  inovar, em todas as áreas, no que estavam estavam as duas de acordo. pensar nos meios necessários para a vida correr mais segura e agradável, amenizar os males do convívio nas megacidades, preservar o meio ambiente. Não acomodar-se, mas que se revejam ideias, ações, que ponham em risco a sobrevivência da espécie. Pessoas especiais pensando e criando meios de subsistir ao caos moderno. A demografia, a imigração, a tecnologia,  avançando, o que requer preparação para bem acolher. 

              A sobrinha certa de que a invenção do computador havia modificado o cotidiano da humanidade. Enquanto a tia tinha sua ressalva, achava que se podia passar sem tanta tecnologia: "Ninguém precisava do computador para ser feliz, até que ele surgiu". Foi questionada: "Então me responda, estamos vivendo o melhor ou pior dos mundos?" Podia  aquela tia nos seus oitenta anos bem vividos responder. A resposta é que o mundo passou a oscilar entre o pior e o melhor. As invenções surgiam diante de grandes desafios domésticos e globais. Os graves problemas sociais, a saúde, a educação a exigirem soluções urgentes. Certo que as benesses surgiram ao lado dos males decorrentes do extraurbanismo, do desperdício dos recursos naturais, o que se deve levar em consideração. As mudanças tecnológicas querendo transformar o ser humano numa outra espécie, sendo precipitada qualquer celebração, antes de ser levada em conta seu papel, de atender às demandas humanas, sociais. 


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Aos 106 anos, blogueira sueca é sucesso na internet





OS NOVOS “VELHINHOS”.

Eles nasceram no século passado, nos anos cinquenta e sessenta estão entrando na nova fase da vida. Sessenta anos, porta de entrada para a velhice, mas ela ficou para daqui há vinte anos, os oitenta.  Meus filhos estão nessa faixa de idade, daqui a dois anos a mais velha festejará em grande estilo os sessenta anos, foi o que nos avisou, conformada com a proximidade da velhice. Como os amigos, animados “velhinhos”, que neste ano começaram a festejar a dita “meia idade”. Poderão alcançar os cento e vinte anos? Não será impossível.

Velhice não é sinônimo de decadência, e nem sempre as pessoas deixam de ter perspectiva de vida futura quando entram na faixa dos “enta”: quarenta, cinquenta, sessenta, e daí por diante. Chegam os atuais “velhinhos” aos sessenta em muito boa forma. Brincam que há alguns inconvenientes, mas a vantagem é terem a fila preferencial e vaga para idosos nos estacionamentos.  Uns envelhecem melhor que outros, hoje, não sendo raro completar oitenta, noventa e até cem anos, em bom estado geral. Centenários estão fazendo e acontecendo — mais mulheres que homens.  Tem uma blogueira sueca de cento e seis anos, e aos cento e dois anos a brasileira Cleonice Berardinelli continua a escrever e fazer palestras.

Velhinhos anônimos, ou não, estão indo muito bem obrigado, e uma boa quantidade já ultrapassaram um século de vida. Causa maior espanto alguém morrer antes. Em meados de século passado não foram poucos os velhinhos com quem  convivi, até centenários. Morria-se mais na infância. Depois era questão de ter uma vida calma, alimentação regrada, sem excessos, de calorias, não ter vícios. Quanto à longevidade atual, muito se deve à saúde da mulher e aos cuidados com as crianças, que contam hoje com as vacinas, para evitar as doenças endêmicas, o que mais matavam as crianças. O tempo que vamos viver pode estar gravado no nosso DNA, mas o número de anos pode variar para mais e para menos, o que depende de alguns fatores. Cuidar da saúde é primordial.


PARABÉNS SESSENTÕES E SETENTONAS! 


domingo, 19 de agosto de 2018







            BENTO XV E PIO XI

                                                    SEGUNDA PARTE




Por breves e eficazes anos atuou o papa Bento XV, já no limiar dos anos vinte passando a Igreja a intervir em todos os setores sociais, sensível sua presença no cenário político mundial, mesmo onde antes havia sido barrada. A jovem força católica disposta a participar na construção do que se desenhava um futuro fascinante. Pio IX havia proibido os católicos italianos de participarem na vida política do país , o que já tinha sido atenuado por Pio X, que por sua vez rejeitou as Associações Católicas, a dita igreja laica, que mais tarde  receberia aval do Papa..... Não haveria mais uma luta conta a modernidade, mas importava atuar ao seu lado, oportunidade para a Igreja se situar no primeiro plano na história mundial contemporânea. O papa Bento XV teve de inclusive de atender ao apelo da igreja Ortodoxa russa, que sofria perseguição, ao mesmo tempo que tratou de organizar a Igreja católica russa, já que o Ortodoxia deixava de ser a religião oficial.  Bento XV canonizou duas das mais santas figuras da história da França: Santa Margarida Maria Alacoque, a mística iniciadora do culto do Sagrado Coração e Santa Joana d´Arc, tantas vezes invocada como a santa da pátria. 


BENTO XV



















PIO XI



                O catolicismo social nascido na consciência dos leigos, mas levado à frente pelo Vaticano e seus chefes supremos, os papas. Estabelecer a cooperação laica para a difusão da Mensagem, invocando mais fortemente os fiéis à responsabilidade pelo futuro cristão. Pio XI, eleito papa em 1922, a quem o que mais importava no momento era opor ao comunismo algo diferente do que o capitalismo selvagem. Fundamental o papel da Igreja para a paz social, a terra fecundada cuidadosamente por aqueles católicos que proclamavam a encíclica Rerum Novarum, então crescente a influência do catolicismo sobre os partidos e mesmo sobre os regimes. A encíclica Quadragésimo Ano de Pio XI fornece elementos de reafirmação desses princípios, que estão na base de toda e qualquer ação social católica. Resumindo: a encíclica é um ato de fé que deve levar à ação. A grande encíclica Mater et Magister de João XXIII, ia resumir a  encíclica  Quadragésimo Ano. Também no plano intelectual se manifesta a presença do catolicismo social. Era mais que tudo uma reação ao comunismo ateu, que estabelecia regras justas para os trabalhadores, reconhecendo o direito do assalariado e do empregador — a Igreja empenhada nessa ação, a partir de LeãoXIII.


Com Pio XI a Igreja se envolvia, não na política, mas numa ação social efetiva junto às classes trabalhadoras. Enquanto o marxismo revolucionário queria impor uma concepção total do homem e da sociedade, doutrina esta inseparavelmente unida a uma ação — os cristãos podiam, de seu lado, reivindicar outra, e dizer que também eles trabalhavam para promover o mundo de amanhã. As desigualdades escandalosas deviam ser eliminadas, sim,  os cristãos agiam de acordo com os Evangelhos, ao lado dos menos favorecidos, arrancando das mão do inimigo as armas que acessavam sobre a fé cristã. Os católicos então cooptados pela Action Française com suas manifestações de rua e  atos violentos, fato que intranquilizou o episcopado, levando Pio XI a agir com rigor. Condenou qualquer ação fora das regras estabelecidas pela fé cristã.  A crítica da Igreja incidia com rigor sobre dois pontos: o “naturalismo positivista”  e o “ nacionalismo exagerado” . Auguste Comte, autor do Catéchisme positiviste, tornava-se o mestre do humanismo ateu, do qual têm procedido as piores heresias do mundo contemporâneo. Não tardou a prosperar a ideia de ser eliminada a religião da face da terra.  Batalha de ideias, em que felizmente se destacaram grandes escritores católicas e sociais, entre eles Maurice Blondel, Jacque Maritain e G.K Chesterton.    

BIBL. DANIEL- ROPS - HISTÓRIA DA IGREJA - vol. IX  - A IGREJA DAS REVOLUÇÕES II

sábado, 18 de agosto de 2018






                               VIVA COM EMOÇÃO
                                

             


             

           Sentimos de forma diferente as várias fases da vida; olhamos a vida de uma ou outra perspectiva, conforme o tempo, ou o momento. Assim é a vida. Sonhos renovam-se a cada estação, nessa nossa nova, ou velha vida. A Minha velha amiga vida, de  sonhos realizados, ou não. Sonho a gente esquece assim que acorda, lembro de alguns. São arquétipos os sonhos que não esquecemos ao acordar. Dos sonhamos acordados quase sempre lembramos. Descartamos muita coisa, até amores, por não se encaixarem em nossos sonhos ou em nossa vida. Pobre de nós se não o fazemos.

            Nunca fui inveterada sonhadora, contava com o básico, queria o suficiente, desejava o possível. Tive bem mais que isso. Mas porque apostar no máximo, ou no impossível? Ir em frente com confiança, ter esperança. Não se trata de um ensaio para uma peça de teatro. É criatividade e improviso, ser um pouco aventureira, sem arriscar muito, para não ter, em vez do grandioso, o doloroso pela frente. Sofrer todos sofremos e grandemente nos alegramos. Viva com emoção, no que o fôlego permite, o ânimo favorece, o que pede o coração. 



quinta-feira, 16 de agosto de 2018






      VIDA, MINHA VELHA AMIGA





Morrer, experiência final, tão natural quanto viver. Sessenta, setenta, oitenta, a vida se completando, um presente, bastou desamarrar a fita, remover o lindo papel e de repente ter em mãos o produto acabado, como que novo, mas tem alguns bons anos, às vezes, uma raridade. O saber não surge do nada, simplesmente é o resultado de tudo, infância, juventude, mocidade, cada etapa um novo tempo. Ela agora se dá conta, não do fim, mas do seu começo, e resolve colocar aquela menina outra vez no centro de sua vida. No caminho o trabalho, a família, os filhos, mas a criança é o começo de tudo. Tempo de fazer uma visita amiga, a alguém lá longe, e ainda vive. 

No mundo atual ter oitenta anos, e ainda contar com mais vinte anos pela frente, acontece frequentemente.  Nem pensar na morte, já que todos nós, sem exceção, estamos por um fio, desde que nascemos. E a melhor defesa contra o desgaste que o tempo faz  é não deixar morrer alguém que esteve sempre conosco, e ter com ela momentos reconfortantes. E a menina sabe que fui sua melhor amiga, que a vi crescer e aparecer. Podia ter feito mais por alguém tão especial? Sim, sempre se pode fazer mais e melhor. Feliz de quem foi o amigo especial de si mesmo.

Vida, minha velha amiga! Lembra também com gratidão os bons amigos, aquelas pessoas indispensáveis, que estiveram por perto, ao seu lado, por pouco, ou muito tempo, que acrescentaram. Todos indispensáveis, sim, mesmo os que nada tinham a oferecer, e os que deixaram lembranças ruins, se o permitirmos. Triste constatar que muitos já se foram, mesmo assim, podemos chamá-los para uma conversa amiga. Melhor que tudo, conversar com os que nos podem escutar, que estão aqui presentes. Amar o próximo como a si mesma, sempre.


quarta-feira, 15 de agosto de 2018





                            QUATRO GUIAS ADMIRÁVEIS
                                                                              
                                                                             
                                                                                              Primeira parte
              






    

               Desde meados do século XIX, o mundo em transformação contou com a autoridade  da Igreja Católica, pronta a atender as demandas espirituais da humanidade. O progresso avassalador surgia na esteira dos avanços científicos e tecnológicos, mas a maravilhosa e, ao mesmo tempo assustadora modernidade, parecia querer engolir tudo, era mister preservar a civilização e a doutrina da fé cristã. O que fazer para a civilização ocidental não perder suas características  cristãs, sua fé e sua moral? Foi no que estiveram empenhados quatro admiráveis papas: Leão XIII, Pio X, Bento XV e Pio XI.  Ao final do pontificado de Pio IX foi sentida a necessidade de mudanças na igreja, que iria acontecer a partir do seu substituto, Leão XIII, a quem é justo falar em gênio, tendo esse papa atuado de forma contundente e decisiva em um momento crucial para a Igreja Católica e o mundo.

                   Com sabedoria e profundidade espiritualidade requerida pela igreja, o político e diplomata Leão XIII fez o que pedia o momento, ou seja, que a igreja estivesse atenta às questões fora dos seus muros. A  importância para a Igreja retornar a ter participação nas decisões mundiais, a que estivera afastada, até que se fez necessária sua decisiva interferência. Pio IX praticamente fechara a igreja para o mundo, com a estrita intenção de seguir as virtudes evangélicas dos tempos apostólicos, da bondade, da caridade, da mansidão, sendo pouca a influência da  Igreja sobre as Nações e também sobre as massas, então constituída de operários em seus vários ramos de atividade, trabalhadores rurais, trabalhadores da indústria, universitários, e por aí vai. O progresso havia aberto espaço para a irreligião, que avançava sobre as mentes desavisadas,  a descrença querendo ter total domínio sobre os espíritos. Deus parecia estar morto, a espiritualidade definhando diante das obscuridades reinantes.




PIO X



                
        




               












                                                 1LEÃO XIII  e  PIO X
               
               A consciência religiosa, católica, estava para sumir de vez, se não fosse resgatada através da autoridade dos papas. A Igreja precisava ser fortalecida, o que requeria superar a estagnação, dar atenção aos acontecimentos mundiais. O poder espiritual que a Igreja exercia devia voltar-se para o mundo em transformação, passasse a avaliar o que acontecia e fossem traçadas providências de atuação. Eleito papa em 1878 Leão XIII entrou de cabeça na luta, com sua decisiva atuação na política, não no sentido vulgar do termo. Pai e pastor, mas também um homem condutor dos destinos do homem. Tinha esse papa os mesmos desígnios do seu antecessor, fazer triunfar a causa de Deus e da Igreja, só que sua atuação seria de forma diferente. 

                 O mundo moderno parecia querer afastar irreversivelmente as pessoas da Igreja, a sociedade atritada no ódio entre as classes sociais, a rangerem os dentes uma para as outras. A massa proletária, das fábricas e das oficinas, também das escolas e universidades encontravam-se  numa situação social, que requeria atenção, o que Leão XIII reconheceu, ainda como cardeal. Publicou a encíclica Rerum Novarum, em 1891, nela assumindo o comando dos “católicos sociais”, ordenando os principais temas. Colocava-se a igreja no âmago da construção de uma consciência social abrangente. A audácia de que se valeu Leão XIII para  denunciar o liberalismo econômico tal como era então praticado, sem justiça social, causando  ódio entre as classes. Era a primeira atitude contra as forças do ateísmo. Sua sorte e nossa sorte, como católicos, foi esse chefe da Igreja ter ainda vinte e cinco anos  para por em prática  seu programa, novo sob tantos aspectos. 

                 Leão XIII resolveu a relação da Igreja com o mundo moderno, não um Maquiavel,  oposto do oportunismo. A encíclica Immortale Dei, de 1885, para pacificar os espíritos e que a igreja caminhasse em paz, ao lado do poder secular. Rerum Novarum para a instauração de um mundo mais justo, mais fraterno, muito contribuiu para o prestígio e restaurar a influência, apresentando-se a Igreja de Cristo como árbitro entre as classes sociais. No exato termo, uma “grande política” de Leão XIII. Bismark logo recorreria ao papa quando da sua Primeira Conferência. O substituto de Leão XIII, Pio X, filho do povo, quando até então todos os chefes da igreja eram membros da nobreza e da alta burguesia ou mesmo do meio administrativo. Atuação diferente do seu antecessor, realizou seu apostolado de forma também extraordinária, o cerco que fez contra os adversários, atacando as heresias modernas. Só em 1958 outro filho do povo subiria ao trono mais prestigiado do mundo: Angelo Roncalle, o papa João XXIII. 

                   Pio X eleito em 1903, foi herói sem medo e sem mancha na luta para defender Deus, restaurador da fé e da pratica religiosa. Reacionário, o oposto de Leão XIII?  Em um combate apenas por Deus queria Pio X  ser um papa “não político”, acima de tudo religioso, um tanto ao modo de Pio IX, opondo-se ao catolicismo de esquerda, aos regimes democráticos, entenda-se, laico. Leão XIII, ao fim do seu pontificado, havia detectado o perigo, que Pio X acabou por discernir para que a Igreja não se tornasse simplesmente doutrina humanista. Pio X reformou o Código Canônico e foi canonizado por Pio XI. Anos depois também outro homem do povo, o papa  João XXIII, foi elevado a santo.

 BIBL;  História da Igreja  - A Igreja das Revoluções II, Daniel-Rops da Academia Francesa.

sábado, 11 de agosto de 2018



PARABÉNS PAPAIS!

              
  
                    PAI HERÓI







É tradição brasileira, da sua cultura cristã, reconhecer a importância do pai como o chefe da família, e há pais que fazem por merecer o título, correspondem à confiança e respeitabilidade que lhes são conferidas. A responsabilidade do pai para dar aos filhos a segurança necessária para enfrentarem a vida, do contrário é como estar num barco sem timoneiro, e se perca a noção de rumo, de pertencimento.

Sou crédula nesse sentido, que o pai é uma figura que agrega sentimentos nobres de integridade, dignidade, muito embora nem sempre seja assim, e hoje acontecer de atravessarmos uma crise que atinge em cheio a família, e a figura paterna, que deixou de ser o que sempre foi, ou se acreditava ser. Hoje parece que estamos órfãos de pai e mãe. Nem um nem outro querem mais assumir seus papeis.

Uma tristeza essa mudança na família, que se reflete na sociedade. O país não mais conta com um Pai da Pátria, como se chamava no passado a personalidade, que, em princípio, dava segurança e estabilidade a todos, um comando que servia de modelo a seus comandados. O tempo de heroísmo e dignidade ficou para traz.

A família, a sociedade, o mundo, parece hoje um barco sem rumo, navegando no meio de uma tempestade. Para qualquer lado que se olhe falta luz. Ou sempre estivemos enganados, nem o chefe da família, aquele pai herói, jamais existiu, nem a sociedade, os governos correspondiam ao que se acreditava que fossem, ou o que deles se esperava?

Mesmo aquele pai, que nos parece pouco digno de admiração, merece respeito, na realidade é uma figura importante na vida dos filhos e sempre será um esteio na família, se não perdermos a fé. Quanto vale um pai? Muito mais do que se imagina, mas nem todos podem se gabar de ter um pai herói, basta um pai presente, amigo. Triste mesmo é o abandono, a orfandade, o que nos ameaça, com as coisas indo de mal a pior, não há mais quem queira se responsabilizar por nada, nem por ninguém, só cuidar dos próprios, nem sempre justos, interesses.

A que a vida pede é simples, um homem e uma mulher, pai e  mãe, que em sua união deem frutos, e continuem em seu papel de amar e educar os filhos. Nada mais essencial que é essa constância, que hoje está fora de moda, mas ainda comove. Meu pai tinha seus defeitos, mas nunca deixou de ser amado e espeitado. Sou grata à minha mãe por ela não ter desistido do meu pai herói.   


 
  

sexta-feira, 10 de agosto de 2018






                                 CUIDA BEM DE  TI!

            
             

            

        Início do ano escolar e a tia falou pra a menina, que previa um sucesso retumbante na escola, a mochila e toda ela produzida na última moda:  "É bom avisar que o segredo do sucesso é não fazer sucesso, esse sucesso que hoje em dia é a grande preocupação, ou seja, estar em evidência, chamar a atenção, o que constitui um grave equívoco. Penamos para atingir o que nos levaria às manchetes, mas pode acontecer um fracasso retumbante conosco mesmo. Somos chegados a impulsos, e por demais sensíveis às opiniões alheias. Saibamos que uma vida de real sucesso é a que nos oferta o dia após dia, desde quando levantamos até quando deitamos a cabeça no travesseiro para descansar. Cuida bem de ti!" 


             A menina sempre escutava com atenção a tia falar naquele seu tom suave mas firme, próprio de professora: "Cuidado com as preocupações, são provocações pessoais, maiores e mais danosas que as privações. O melhor é acordar pela manhã para fazer o tempo render, sem  querer que o dia se renda aos nossos cruéis desejos, que nos faça perder a noção de causa e efeito, de tempo e espaço."

            Na semana anterior a tia reclamara: "Queremos admirar e sermos admirados, e a coisa não acontece, passamos a nos odiar, ou a odiar o outro. Queremos compreensão, mas desconsideramos essa ou aquela pessoa na procura por aprovação. Se não temos afinidade simplesmente odiamos. Abominamos, desprezamos, quando não nos deslumbramos. Não devemos ser assim. Cultivamos privilégios, adoramos soluções mágicas, sofremos de uma indolência mental crônica. É a receita de um fracasso como Nação. Em outubro vamos ás urnas, está difícil escolher o menos pior!"


quinta-feira, 9 de agosto de 2018





                                     A MAGIA DOS NÚMEROS


         
          

          A numerologia é considerada por alguns como ciência, e de acordo com a teoria pitagórica, os números, ou os princípios da matemática, são a essência, a fonte, o princípio de todas as coisas. A Escola Pitagórica fundada por Pitágoras (570- 495 a.C.) praticava rituais de purificação através do estudo da geometria. Por conta disso, o números 3 é citado com frequência nas Escrituras para determinar o tempo. Assim como o número 8 representa infinito. Consta da minha certidão de nascimento a data de 08 de março de 1938 (08-03-38), os dois números mágicos em duplicata, com o que me sinto de alguma forma duplamente beneficiada.

            Parece não ter lógica, mas intuímos que existe algo regendo nossas vidas, e não seria o dinheiro, ou qualquer coisa nesse sentido, que nos comanda. Tem lógica, sim, acreditar no que não se vê, mas intui. Há os descrentes de tudo, nem todas as pessoas são iguais, pensam igualmente, agem da mesma forma que nós. Nem estamos no mundo para viver vidas iguais, diferentes que somos, pensamos e desejamos. Carregamos o temperamento, a educação, o DNA, além das circunstâncias, dos acidentes de percurso, que não podemos prever, nem evitar. Certo que estamos aqui para aprender, entender, compreender, perdoar. A escolha é nossa, há o bem, que nos faz crescer e o mal, que temos de descartar, por nos atrasar a vida.

          Não tenho do que me queixar da vida, nem tampouco me arrependo do que fiz e deixei de fazer, e quantas vezes me quedo a recordar e recordar. Sinto-me privilegiada por ter sido como que afastada dos males. Amém! Cada pessoa tem seu destino, sua sorte, registrada em si mesma e escrita em algum lugar do universo. Seria esse o motivo dos que optam por odiar, brigar, difamar, fofocar, trapacear. Assim como têm aqueles que preferem amar, compreender, ajudar, trabalhar pelo bem do próximo. E assim vamos vivendo como podemos nesse nosso belo, também, conflituoso mundo. Tratando de preservar o que ainda é possível preservar, ou seja, o melhor do ser, o que somos de verdade. E mesmo com toda a dificuldade, que se possa levar adiante esse sentimento infinito da bondade - sermos bons e verdadeiros, termos fé em Deus.  

terça-feira, 7 de agosto de 2018






         JK E SUA DIAMANTINA

Como pode um peixe vivo 
 Viver fora da água fria.
 Como poderei viver, 
 Como poderei viver,
 Sem a sua, sem a sua, 
Sem a sua companhia.”



PRAÇA JK - MARCO EM  DIAMANTINA


Em agosto de 1976 a emoção toma conta de Brasília, uma multidão acompanha o corpo do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, fundador da cidade, que sofrera um acidente automobilístico. Ao longo do trajeto do aeroporto até o cemitério as pessoas cantavam todos a música de Milton Nascimento, Peixe Vivo. Os restos mortais  de JK hoje abrigado no monumento em sua homenagem na Capital Federal. Nascido  em Diamantina, Minas Gerais, um  dos mais ricos estados brasileiros, suas entranhas ricas em ouro, pedras preciosas e semipreciosas, suas montanhosas encostas com o material necessário para esculpir e também revestir igrejas e casas,  calçando de forma especial suas ladeiras.

A turística cidade de Diamantina traz de volta ao visitante as lembranças de um antigo passado, também, dos mais recentes acontecimentos do Brasil, quando em 1950 seu mais ilustre filho foi eleito presidente e tratou de cumprir a Constituição transferindo a capital federal para Brasília. Diamantina respira Juscelino, os turistas a se depararem com pessoas orgulhosas de terem conhecido uma pessoa nascida ali, tão importante e querida no País que governou. Fato raro nesses novos tempos de personalidades políticas odiadas, retratos do que há de pior, em todos os sentidos.  E pelo que entendemos da história de Juscelino, a maior ambição desse mineiro interiorano era simplesmente exercer a medicina, para a qual diplomara-se. Mas aquele garoto que corria de pés no chão pelas ladeiras de Diamantina tinha um grande destino, do qual ele mesmo não podia imaginar.

Humilde e simpática a casa onde habitou Nonô e sua irmã mais velha, Naná, sob os cuidados da mãe D. Júlia, professora estadual, que o filho ilustre a define com uma pessoa doce e ao mesmo tempo firme. O pai falecido vítima da tuberculose, após viagens efetuadas em sua profissão. O antigo quarto do menino da casa, no passado dava para um antigo quintal, onde hoje está construída uma pequeno edificação, contendo uma biblioteca com os livros de leitura de Juscelino e um pequeno espaço para conferências. Na parte superior a representação do que foi seu antigo consultório, com seus apetrechos de trabalho. Podia aquele menino imaginar tal coisa? Tempo de infância, onde o melhor é viver,  comer jabuticaba, brincar na rua, e também ler — o que desde cedo o futuro presidente do Brasil também amava.

Simplicidade e carisma de um presidente que governou o país de 1956 a 1961, e fez com que o Brasil entrasse numa nova era. O passo acelerado com que o mundo mudava, deixava para trás aquele ritmo lento em que se vivia. As transformações da vida prática dos homens, o sentir próprio da existência de cada um. Pouco que  se sentia, mas as mudanças estavam ali para valer, era só  pegar carona, e ir em frente com coragem. Coragem que nunca faltou a Juscelino, nem aos brasileiros, que o acompanharam e souberam enfrentar os dias difíceis, mas não esmoreceram. Sobravam dificuldades a enfrentar, as  necessidades maiores do que se podia imaginar, num pós-guerra provocada por uma Nação  hegemônica, uma ideologia absurda, que queria dominar o mundo, apoderar-se do planeta, mas o que fez foi deixá-lo   sob escombros,  o futuro comprometido.

Ao mundo em frangalhos faltava fundamentos sólidos para edificação de um futuro estável. Passamos a sofrer de contínua instabilidade, como uma espécie de doença muito grave, que nem toda a ciência e tecnologia, que irromperam avassaladoras,  iam conseguir debelar. Laços se quebraram, outros se firmavam, mas o que restou de mais sólido foi a conexão  entre homens e máquinas. Melhoraram todavia as relações entre as classes e entre as raças, temos boas transformações na vida prática, e o homem em busca  ainda maior por um sentido na vida.  Não há milagres, saem premiadas aquelas Nações que andaram em ritmo mais seguro, às quais  se impõem valores de reconhecida validade, as pessoas idem.  A Igreja Católica sempre  empenhada em se inserir nas novas ordens das sociedades, tendo — como tem confirmado a história — implementado as bases da civilização ocidental. E  agora enfrenta de modo mais imperioso a ameaça do ateísmo, que trama dessacralizar a realidade da vida, pregando o fim da religião. Deus nos guie e ampare. Amém!

CASA DA INFÂNCIA DE JUSCELINO EM DIAMANTINA