quinta-feira, 30 de julho de 2020

                       

       BREVE ENCONTRO COM T.S.ELIOT





Fiquem em casa” ainda é o mais aconselhado, uma vez que o número de mortos pelo covid-19 se mantém em um patamar alto de contaminados e mortes. É bom ser prudente. As amigas Aurora, Maria e Rosa Maria estão com máscaras e de posse do seus vidrinhos de álcool gel para o encontro, que acontece após cinco meses de confinamento.

A mesa acaba de ser servida pela moça do Café, que está  devidamente mascarada, e parece feliz por sua saúde e pela parcial volta ao trabalho. Resta ainda aguardar as vacinas, em fase final de experimentação.  Inédita a rapidez da ciência. E continue assim quanto à solução das demais questões cruciais do mundo moderno.

Saber a direção do mundo, o caminho a seguir daqui para frente, o que as três amigas querem debater naquele momento crucial para a humanidade. Aurora havia indicado o livro Conservadorismo para as amigas, e inicia o debate:

— Segundo Roger Scruton uma experiência traumática nos faz mais realistas, sentir que o ideal de vida transcende a matéria, e possamos ir em busca do que nos possa nortear, amparar.  O valor da arte, da literatura, da música. Em especial, a religião, que supre o homem no seu esforço de permanência. A herança espiritual da humanidade ameaçada pelo materialismo moderno, em seu radicalismo.


Rosa Maria invoca o poeta T. S. Eliot, citado pelo autor católico:  

— Em Eliot é evidente o sentimento de perda, em um cenário espiritualmente estéril, aflitivo, pós Segunda Guerra. A pandemia do covid-19 encontrou um mundo de descrença e desesperança. Tempo do ateísmo, da saturação consumista de informações, de crenças, de tudo o mais. Sinal de que temos de reverter essa dramática situação.

— O que fazer? Pergunta Maria.

Volta Rosa Maria ao poeta de Quarto Quartetos:

— Reconhecer o problema, e entender que temos bons e eternos recursos para  combater  um estado desalentador, que beira o caos. Buscar pela herança cristã do catolicismo greco-romano, para enfrentar a desolação das perdas humanas da atual pandemia, também das guerras e da violência urbana. Perdem-se vidas e os valores civilizatórios, que se esvaem no caos de  uma  modernidade  materialista, imediatista, socialista.

Maria tem um amplo entendimento sobre os problemas emocionais, é escritora e trabalha como voluntária na Igreja católica. Fala à suas amigas:

—Menos política e mais ciência, mais fé, o de que precisamos. A “grande tradição” da cultura, que  engloba  literatura , pintura, música, em especial, a religião, entendida como cultura. Tudo que temos para usar contra os utilitaristas e acadêmicos que conspiram para marginalizar os jovens nas faculdades, afastá-los de Deus, e fazê-los seguir  ideologias antissociais, malignas. O convite de Scruton é como ele abraçar a grande tradição, ou seja, seguir o benéfico conservadorismo, calcado na tradição cristã. 

O modo conservador de sentir o mundo, de ver uma luz no fim do túnel. Aurora está animada:

— E se possa ter melhores dias pela frente. A vida sincera, de direita, conservadora, ligada a Deus e aos bens espirituais, é um consolo, o que sinto  profundamente. Foi essencial a volta de Platão e Aristóteles em um momento crucial de início da vida moderna. A escolástica de São Tomás de Aquino no passado, que nos vale hoje, mais do que nunca. “A tradição que é um contínuo processo de adaptação do velho para o novo e do novo para o velho”. Mais sinceridade e legalidade e menos originalidade. Torcer pela legalidade, em vez da simples igualdade.

—Sigamos em frente, confiantes, é o que desejo a todos. Respondem as duas Marias em uníssono.
 

   

sábado, 25 de julho de 2020



PARABÉNS ESCRITORES!

























A Cidade de S. LUÍS - MA, chamada Atenas brasileira.
 Lembra?

sexta-feira, 17 de julho de 2020

♥Fábio Júnior e Glória Pires ♥






conto

               MUNDO PÓS PANDEMIA



NA ESCOLA E NO TRABALHO


Após quatro meses de distanciamento social, ocorre o momento dos primeiros encontros, sem aglomerações, a pandemia perdeu a força, mas ainda requer cuidados. Cafeterias, bares, restaurantes reiniciam suas atividades, com regras para evitar contaminação. E se há o que festejar é terem as três amigas escapado de morrer vítima do covid-19. Grandes as expectativas futuras, pouco alvissareiras, mas a vida continua. É ter fé.

Três amigas se encontram. Maria perdeu o emprego; Aurora teve sua carga horária de trabalho e salário reduzidos; Rosa Maria lastima o fim da sua casa de eventos. Depois de  simples  acenos, sentam-se nas cadeiras do café, com a distância recomendada pelas autoridades de saúde, sem esquecerem as máscaras, ainda indispensáveis.

O saudoso cafezinho fumegava nas xícaras, e a bióloga Maria é quem primeiro fala:

—Estamos aqui vivas, graças ao nosso bom Deus. O mundo em crise com essa invasão pandêmica do novo coronavírus, um ataque que acontece de tempos em tempos. E, como sempre, encontra a humanidade despreparada para enfrentar o inimigo mortal, que costuma emigrar do irracional para o humano, basta que haja oportunidade, por exemplo, um mercado apinhado de animais vivos para serem comercializados, inclusive morcegos.  

Rosa Maria, sempre risonha, seu humor agora percebido apenas pelo olhar devido a máscara. Pede a palavra:

— Nossa condição de racionais à prova mais uma vez. Não podemos relaxar, as pandemias serão cada vez mais frequentes, dizem os entendidos, os cientistas. Você, Maria, uma dessas pessoas entendidas no assunto. Os que lidam com o comércio, como eu, afetados, embora  não diretamente pelo vírus, como tantas pessoas, que infelizmente faleceram. Encontramo-nos numa crise braba, difícil de superar, mas não impossível. E não se perca as esperanças, que Deus está vendo tudo.

Mesmo tendo que fechar seu comércio de vinte anos, Rosa Maria é ainda moça e vai poder recomeçar, mesmo do zero, como havia falado anteriormente.

Aurora é funcionária pública, para falar às amigas recorre a filosofia, fruto de suas leituras:

— Não é fácil viver nesse planeta habitado por seres de espécies diferentes, até mesmo antagônicos, que primam por invadir o espaço uns dos outros. E sabemos que há limites a observar. Os humanos, com suas especiais necessidades, precisam  de costumes e instituições que estejam fundadas na razão e também em algo além da razão, sob pena de fracasso total. Temos que usar nossa própria razão com eficácia.  E se podemos contar com nossa capacidade mental e racional, é mais importante ainda partilhar.

Maria volta a falar:

— Conserva esse insight, que o objetivo da vida é implantar no mente e na alma de cada pessoa  as virtudes  necessárias para viver bem individualmente e no exercício coletivo. Com a pandemia do covid-19, dolorosas restrições surgiram, o caso das regras de distanciamento entre as pessoas para evitar contaminação. Antes todos contaminados apenas pela amizade, pelo afeto. Um invisível vírus chega e acaba com esse nosso costume, difícil de acreditar e aceitar. No momento temos de aproveitar e degustar esse delicioso café, ainda bem que os campos cultivados vão bem, obrigado, a mãe natureza que pode nos alimentar, sendo preservada nossa saúde física e financeira, com a  graça a Deus.

Palavras que acendem uma luz mais viva ainda no olhar de Rosa Maria, que responde:

— Os racionais nem sempre reconhecem seus direitos e o direito dos demais seres. As pessoas em desesperança. A alternativa humana para ter uma vida melhor fica-se sabendo que deve ser alicerçada na razão e na fé em Deus. A ciência que nos pode livrar de um vírus maligno, com a descoberta de uma vacina, e a religião que nos ensina, sim, a obedecer   as  leis naturais, suportar os sofrimentos e acreditar na ressurreição divina, também na nossa. O ressurgir dos mortos por conta da fé que anima as almas, ajuda a restabelecer as energias do corpo e nos dá força espiritual.

É a vez de Aurora expressar-se mais uma vez:

—Nesses primeiros encontros após o confinamento, em que a pandemia perde força, é hora de reiniciarmos nossas atividades. A humanidade um tanto desesperançada, ciente que a alternativa não é o igualitarismo romântico, nem a subjetividades sombrias. Mirar numa vida, como pode e tem de ser. Mirar na vida em particular e na humanidade como um todo.

A fé inquebrantável de Rosa Maria faz com que se manifeste com maior intensidade e  consciência:

—O cristianismo não significa somente crença na encarnação e na ressurreição, mas   também nas suas cerimônias, na poesia, na música,  todas as manifestações da arte e da técnica. Que extraordinária as transmissões religiosas virtuais. A religião cristã que congrega milhões de estranhos a  se reconhecerem como indivíduos e cooperarem  para o bem comum,  formar uma família, assim como  uma sociedade mais justa. É a fé que anima as almas e restabelece as energias do corpo. Os novos reacionários,  atuais conservadores, lutam, não pelo  direito dos reis, como no passado, mas para que se conserve os direito de todos.  

Um encontro pós pandemia, como muitos outros, a vida continua.

terça-feira, 14 de julho de 2020




    PESQUISA DA PANDEMIA            


        

                                       SANTA SOFIA








    
             “Com este sinal vencerás.” A cruz era o sinal contido nas palavras ditas em sonho ao imperador Constantino. O Império Romano em constantes guerras,  de 305 a 324 não soube o que era a paz.  A igreja em terríveis perseguições que aconteciam  mais no Oriente. Foi uma estrondosa vitória, que dava aos cristãos  o direito de liberdade de existência. Constantino partia em combate tendo como símbolo a cruz, suas vitórias amparadas na fé cristã. O convertido estava desgostoso com o paganismo, ainda mais com os  bárbaros já nos arredores de Roma, resolve transferir a capital do Império para o Oriente.

          Constantino escolhe fundar uma cidade em um pequeno burgo de Bizâncio seguindo aquela misteriosa ordem. Um lugar excepcional, onde os gregos haviam fundado uma colônia marítima, que prosperara modestamente.   Fundava-se ali uma “nova Roma”, com prerrogativas de  capital, suplantando em muitos pontos a antiga. Durante seis anos o imperador dedicou-se às obras, arregimentando materiais preciosos e talentos em todo o império. Na nova capital, que recebeu o nome de Constantinopla (atual Istambul),  os monumentos erigidos,  superavam  todos os outros em medida e luxo: Santa Sofia, o Palácio e o Hipódromo; respectivamente, residência dos três poderes que iam partilhar dos destinos da nova capital do império: Deus, o Imperador e a plebe.

        O imperado perdia todo o contato com a antiga capital, que foi abandonada à própria sorte. O Império divide-se. No Oriente a civilização bizantina recebia uma herança que se desenvolveu ao longo dos séculos. No Ocidente a civilização romana desmorona diante das investidas dos germanos e dos hunos. Roma declinava e perdia toda sua importância econômica. A Igreja,  deixada para trás, acabou por salvaguardar-se do poder daqueles  imperadores. A cidade de Constantinopla  tornou-se a glória do poder de Bizâncio,  causando o futuro cisma grego. Na Cidade Eterna consagra-se o poder pontifício.

      Santa Sofia -  homenagem à Sabedoria de Deus, é prova de um intenso fervor cristão, que ao longo do tempo esteve sujeita a sérios percalços. Nos primeiros séculos da era cristã duas vezes destruída por terremoto e pelo fogo. Reconstruída pelo imperador Justiniano (532-537), nada restando da antiga igreja construída por Constantino, apenas o local que se destaca há dois milênios na paisagem, e, em especial, na fé. No meio do caminho de Santa Sofia estiveram os otomanos, em 1453 o sultão Mehemed II que assumiu o controle do Império Romano do Oriente e transformou Santa Sofia em mesquita.

      Entre 1204 a 1261 foi Santa Sofia convertida em catedral católica durante o Patriarcado Latino de Constantinopla que se seguiu à Quarta Cruzada. Foi ali que em 1054, o cardeal Humberto excomungou o patriarca Miguel I Celulário, iniciando o Grande Cisma do oriente que perdura até hoje. Foi transformada em museu da recém-criada República da Turquia. Soube-se há pouco que a antiga catedral cristã foi transformada outra vez em Mesquita. As Igrejas ortodoxas declararam: “Uma grande perda para os cristãos de todo o mundo.